Haruki Murakami - 1Q84 - Livro 3

Literatura japonesa contemporânea
Haruki Murakami - 1Q84 (Livro 3) - 472 páginas - Editora Objetiva, Selo Alfaguara - Tradução direta do japonês de Lica Hashimoto - Lançamento: Novembro 2013 (lançamento original no Japão em 2009).

Resenha do Livro 1: Haruki Murakami - 1Q84 1

Resenha do Livro 2: Haruki Murakami - 1Q84 2

À medida que avançamos rumo ao final da trilogia, percebemos como Haruki Murakami provoca ao máximo a curiosidade no perplexo leitor que imagina ansioso os possíveis desfechos para as linhas narrativas principais desta estranha epopéia, seja o esperado encontro de Tengo e Aomame nos labirintos da cidade de Tóquio, ou um sentido para os fenômenos criados pelo "Povo Pequenino" e a sua relação com a seita religiosa Sakigake, além dos mistérios ligados à criação de clones, encarnações, sexo e a fé em um deus nada convencional que é representado por uma senhora de meia-idade em uma Mercedes-Benz coupé prateada (até mesmo o deus de Murakami é fashion). Entretanto, apesar das inúmeras incursões no campo da fantasia e universos paralelos, este volume é essencialmente romântico, como podemos perceber nas passagens abaixo, relacionadas às vozes de Aomame e Tengo.
"A razão de eu estar aqui é clara. Há um único motivo: encontrar Tengo e me unir a ele. Esse é o motivo principal de eu existir neste mundo. Se olharmos pelo sentido inverso, esse é o único motivo de este mundo existir dentro de mim. Como espelhos colocados frente a frente, refletindo uma imagem ao infinito, isso pode ser um paradoxo sem fim. Eu faço parte desse mundo, e esse mundo é parte de mim." - pág. 372.
"Ele sabia que precisava de tempo para assimilar esse novo mundo que surgia diante dele. Precisava adaptar e reaprender todas as coisas, uma por uma: a maneira de pensar, o modo de ver as coisas, selecionar as palavras, o jeito de respirar e de mover o corpo. Para isso, precisava juntar todo o tempo existente no mundo. Não — talvez o mundo todo fosse insuficiente." - pág. 428.
Um novo e forte personagem, o incansável investigador Ushikawa à serviço da seita Sekigake, funciona como contraponto ao clima romântico deste terceiro volume e vem dividir com Tengo e Aomame a alternância da narrativa. Os seus métodos são eficientes, mas inescrupulosos para descobrir o paradeiro de Aomame, ele pode ser considerado uma máquina insensível, eficaz e resistente.
"Sei que devo ser um homem de meia-idade desagradável e obsoleto", pensou Ushikawa. "Não. Não se trata de 'devo ser'. Sou, sem sombra de dúvida, um homem de meia-idade, desagradável e obsoleto. Mas possuo alguns dons naturais que a maioria das pessoas não tem. Uma capacidade olfativa ímpar e uma 'firme determinação' de agarrar com força uma coisa e não largá-la de jeito nenhum. Foi graças a esses dons que consegui sobreviver até hoje. Enquanto eu possuir essa capacidade, independentemente de o mundo se tornar cada vez mais estranho, seja onde for, certamente conseguirei sobreviver." - pág. 104.
"Desde criança, seu rosto era grande e sua cabeça disforme. Os lábios grossos arqueados para baixo davam a impressão de que, a qualquer momento, um fio de baba escorreria dos cantos (era apenas uma impressão, isso nunca chegou a acontecer). Os cabelos eram crespos e desajeitados. Definitivamente, não tinha uma aparência que despertasse qualquer tipo de atração." - pág. 148.
"A aparência de Ushikawa chamava muita atenção. Era inadequada para espionar ou seguir pessoas. mesmo que tentasse passar despercebido na multidão, ele se destacava como uma centopeia dentro de um pote de iogurte." - pág. 194.
Para aqueles leitores que esperavam explicações convincentes para os surpreendentes delírios da saga de Murakami, este livro pode ter um final simplista e decepcionante, mas acho que ele merece o nosso perdão já que criou personagens inesquecíveis como a misteriosa e sensual assassina que veste Junko Shimada com sapatos Charles Jourdan e momentos mágicos passados nas noites de inverno de Tóquio, onde os personagens observam em uma praça deserta, do alto de um escorregador, um céu com duas luas.

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