20 autores de um único romance

Literatura

Alguns autores, por diferentes motivos, escreveram um único romance que acabou se transformando em obra-prima. Seja devido à preferência pelo conto, morte prematura ou simples desinteresse pela literatura, nunca conseguiram repetir o mesmo feito. A escritora Harper Lee perdeu a chance de participar deste seleto time de autores ao permitir a publicação de "Go set a Watchman", 55 anos após a obra original, "To Kill a Mockingbird" (publicado no Brasil como "O sol é para todos"). Segue a seleção de autores de um único romance em ordem cronológica de lançamento.

(01) Edgar Allan Poe (1809-1849) - The Narrative of Arthur Gordon Pym (1838)
No Brasil: A Narrativa de Arthur Gordon Pym -  Editora Cosac Naify (Esgotado)

Edgar Allan Poe é certamente um dos maiores especialistas na arte do conto e poesia, contudo escreveu apenas um único romance em toda a sua carreira. O livro narra a odisseia do capitão de um veleiro americano, Gordon Pym, que passa por um motim e o respectivo massacre da tripulação ocorrido em seu navio durante uma viagem cruzando os mares do sul. O autor que melhor soube representar o mistério da morte na literatura e que também morreu solitário e em circunstâncias misteriosas, como a maioria de seus personagens, não gostava de escrever romances.

(02) Emily Brontë (1818-1848) - Wuthering Heights (1847)
No Brasil: O Morro dos Ventos Uivantes - Editora LPM

Uma história de amor muito avançada para a Inglaterra do século XIX, onde a paixão impossível de Heathcliff por Catherine, devido aos preconceitos sociais, se transforma em violenta obsessão por vingança. O romance foi muito criticado porque não era comum para a época um protagonista com tantos desvios de caráter quanto Heathcliff. Emily Brontë não conheceu o sucesso de sua obra, publicada com o pseudônimo de Ellis Bell, tampouco conseguiu escrever outros romances porque morreu aos trinta anos de tuberculose, um ano após o lançamento de O Morro dos Ventos Uivantes.

(03) Manuel Antônio de Almeida (1831-1861) - Memórias de um Sargento de Milícias (1852)
No Brasil: Editora Penguin Companhia das Letras

Outro livro à frente do seu tempo, de caráter urbano e realista, apresenta críticas à sociedade carioca da época, apesar de inserido cronologicamente na escola romântica. Foi publicado de forma anônima em folhetins sob o pseudônimo de "Um Brasileiro"Manuel Antônio de Almeida escreveu ainda uma peça chamada "Dois Amores" e alguma poesia, mas não conseguiu criar outros romances porque também morreu muito cedo, aos 30 anos, vítima do naufrágio do vapor Hermes no litoral de Campos, Rio de Janeiro em 1861.

(04) Anna Sewell (1820-1878) - Black Beauty (1877)
No Brasil: Beleza Negra - Editora Companhia das Letras

Anna Sewell sofreu um acidente em sua infância que parecia sem maiores consequências ao voltar caminhando da escola, mas acabou ficando inválida. O romance narrado em primeira pessoa a partir do ponto de vista de um cavalo, foi idealizado com a intenção de denunciar os maus tratos cometidos contra os animais. O livro acabou se transformando em um best seller com mais de 50 milhões de cópias vendidas e várias adaptações para o cinema.

(05) Oscar Wilde (1854-1900) - The Picture of Dorian Gray (1891)
No Brasil: O Retrato de Dorian Gray - Editora Penguin Companhia das Letras

O que dizer de O Retrato de Dorian Gray que ainda não tenha sido dito? Oscar Wilde, o campeão dos paradoxos (ler 20 paradoxos de Oscar Wilde, como no exemplo: "As pessoas deveriam estar sempre apaixonadas. É por isso que nunca deveriam se casar." - Lorde Illingworth na peça Uma mulher sem importância), acabou escrevendo um único romance que se transformou em um clássico de todos os tempos.

(06) Marcel Proust (1871-1922) - A la Recherche du Temps Perdu (1913 - 1927)
No Brasil: Em Busca do Tempo Perdido - Editora Globo

É um pouco injusto considerar uma obra em sete volumes (sendo os três últimos publicados postumamente) totalizando mais de 3000 páginas como um único romance, mas essa era a intenção de Marcel Proust que pensou em representar no seu romance monumental os costumes da aristocracia francesa do século XIX, tendo escrito a obra completa entre 1908 e 1922 e publicado, com muita dificuldade, entre os anos de 1912 e 1927.

(07) Zelda Fitzgerald (1900-1948) - Save Me the Waltz (1932)
No Brasil: Esta Valsa é Minha - Editora Companhia das Letras

Deve ter sido muito difícil para Zelda se conformar em ser apenas a esposa de F. Scott Fitzgerald. O romance foi escrito em um manicômio em apenas seis semanas e tem um caráter totalmente autobiográfico, contando a sua versão das festas e desilusões da época. Zelda é citada de forma pouco elogiosa por Hemingway em "Paris é uma Festa" como um impasse para a carreira de Fitzgerald. É uma boa chance de conhecer a versão dela.

(08) Elias Canetti (1905-1994) - Die Blendung (1935)
No Brasil: Auto-de-Fé - Editora Cosac Naify

Prêmio Nobel de Literatura de 1981, Elias Canetti nasceu em Ruschuk, na Bulgária, mas escreveu sempre na língua alemã. O seu único romance, Auto-de-fé, foi banido pelo nazismo e considerada por Thomas Mann como uma obra à frente do seu tempo. O protagonista, Peter Kien, é um filólogo solitário e excêntrico, apaixonado pelos livros. Um livro complexo que exige atenção.

(09) Margaret Mitchell (1900-1949) - Gone with the Wind (1936)
No Brasil: E O Vento Levou - Editora Record

Romance publicado em 1936 e ganhador dos Prêmios Pulitzer e National Book Award de 1937, originando uma das adaptações mais famosas para o cinema em 1939, além de ter sido traduzido para trinta idiomas e vendido mais de 30 milhões de cópias em todo o mundo. Margaret Mitchell começou a escrevê-lo em 1926, como um passatempo, enquanto se recuperava de problemas de saúde.

(10) J.D. Salinger (1919-2010) - The Catcher in the Rye (1951)
No Brasil: O Apanhador no Campo de Centeio - Editora do Autor

Uma narrativa sobre um fim de semana na vida de Holden Caulfield, jovem de 16 anos. O romance se tornou um clássico inspirador para as gerações rebeldes futuras. Podemos considerá-lo como o único romance do misterioso e recluso Salinger com a premissa de que "Franny and Zooey", de 1961, seja enquadrado na categoria de conto.

(11) Ralph Ellison (1914-1994) - Invisible Man (1952)
No Brasil: O Homem Invisível - Editora Record / José Olympio

O romance, vencedor do National Book Award de 1953, denuncia o racismo nos EUA através da história de um jovem negro do Harlem, Nova York, no início do século XX. O protagonista se descobre invisível para os brancos racistas e também para os negros radicais. Ralph Ellison morreu aos 80 anos, também no Harlem, onde morava e escrevia seu segundo romance. O manuscrito do livro foi queimado num incêndio em sua casa nos anos 70.

(12) Juan Rulfo (1917-1986) - Pedro Páramo (1955)
No Brasil: Pedro Páramo - Editora Record (edição conjunta com Chão em Chamas - contos)

Os pais de Juan Rulfo eram proprietários de terra que perderam tudo na Revolução Mexicana que serve de inspiração para Pedro Páramo, considerado um clássico da literatura hispano-americana e influência para outros importantes escritores da América Latina como Gabriel Garcia Márquez, Carlos Fuentes e Octavio Paz.

(13) João Guimarães Rosa (1908-1967) - Grande Sertão: Veredas (1956)
No Brasil: Editora Ediouro / Nova Fronteira

Seria mesmo impossível para João Guimarães Rosa escrever outro romance depois da catedral linguística chamada de Grande Sertão: Veredas. Ele publicou contos e até mesmo poemas, mas romance assim nunca mais.

(14) Boris Pasternak (1890-1960) - Doctor Zhivago (1957)
No Brasil: Doutor Jivago - Editora Record

Boris Pasternak não pôde publicar Doutor Jivago na então União Soviética, devido ao teor anti-comunista do romance. Os originais foram contrabandeados e editados na Itália  em 1957, tornando-se um best seller e fazendo com que o autor russo fosse laureado com o Prêmio Nobel de Literatura de 1958. A inesquecível adaptação para o cinema também ajudou a popularizar a obra e o autor em todo o mundo.

(15) Giuseppe di Lampedusa (1896-1957) - Il Gattoppardo (1958)
No Brasil: O Leopardo - Editora LPM (fora de Catálogo)

O Leopardo (fora de catálogo no Brasil) foi publicado somente dois anos após a morte do italiano Giuseppe di Lampedusa, trata da decadência da aristocracia siciliana no final do século XIX e tornou famosa a seguinte citação aplicável à nossa (eterna) crise política: "Algo deve mudar para que tudo continue como está" (não é perfeita para o nosso momento?)

(16) Katherine Anne Porter (1890-1980) - Ship of Fools (1962)
No Brasil: A Nau dos Insensatos - Editora Abril (fora de catálogo)

Jornalista e ativista política, Katherine Anne Porter ganhou o Prêmio Pulitzer e o National Book Award, ambos de 1966, por sua antologia de contos. O romance A Nau dos Insensatos (fora de catálogo no Brasil) narra a viagem de um grupo de personagens que velejam do México para a Alemanha a bordo de um navio misto de carga e passageiros, satirizando a ascensão do nazismo.

(17) Sylvia Plath (1932-1963) - The Bell Jar (1963)
No Brasil: A Redoma de Vidro - Editora Globo

Um livro difícil, quase tão difícil quanto a própria Sylvia Plath e que foi publicado pela primeira vez em Londres, Janeiro de 1963, sob o pseudônimo de Victoria Lucas devido às dúvidas que a autora tinha sobe o seu valor literário e também pelos possíveis transtornos que seu único romance poderia causar à vida das pessoas com quem ela se relacionava já que se trata de uma obra francamente autobiográfica (Ler aqui resenha completa)

(18) Alice Munro (1931 - ) - Lives of Girls and Women (1971)
No Brasil: não lançado / Em Portugal: Vidas de Raparigas e Moças - Editora Relógio D'água

Único romance de Alice Munro (não publicado no Brasil), vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 2013 e mestre na técnica do conto, narra a vida de uma jovem na zona rural de Ontário, Canadá, durante os anos 40. Esta resenha do Guardian, no entanto, interpreta o livro, na verdade, como uma série de contos interligados.

(19) John Kennedy Toole (1937 - 1969) - A Confederacy of Dunces (1980)
No Brasil: Uma Confraria de Tolos - Editora Record / Bestbolso

John Kennedy Toole foi o ganhador do Prêmio Pulitzer póstumo de 1981 por este romance publicado em 1980, 11 anos depois de seu suicídio. Pouco conhecido no Brasil. O protagonista Ignatius, anti-herói solitário, procura um emprego em Nova Orleans nos anos 1960.

(20) Harold Pinter (1930 - 2008) - The Dwarfs (1994)
No Brasil: não lançado / Em Portugal: Os Anões - Editora Dom Quixote

Harold Pinter, Prêmio Nobel de Literatura de 2005, é basicamente um dramaturgo, sendo considerado um dos grandes expoentes do teatro do absurdo ao lado de Samuel Beckett e Eugène Ionesco. Este é seu único romance publicado e não lançado no Brasil.

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