tag:blogger.com,1999:blog-386454242024-03-19T05:48:11.029-03:00Mundo de KLivros, Literatura, Música, Arte e Cultura.Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.comBlogger1321125tag:blogger.com,1999:blog-38645424.post-39214694322824788482024-03-17T09:01:00.001-03:002024-03-17T09:01:24.734-03:00Soraya Jordão - Ciranda de Mamutes<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9vjTplANuwZ8kHEFVq7L4-3XuWvInu7k6CBHw1s7_OMjNGe8FAFnIPGw4i4KkT1jSrMqvPRxElpW085XfH89VEV2Yl7Vlb3UEtoVUgsU-qON7no1bDpItzbCl9RLARSyQ52PJpu2VCitKFGk7qL20d4q0xcdPH_iQWuiFB5ijUku5vw83iAth/s800/Soraya%20Jorda%CC%83o%20-%20Cranda%20de%20Mamutes_A.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9vjTplANuwZ8kHEFVq7L4-3XuWvInu7k6CBHw1s7_OMjNGe8FAFnIPGw4i4KkT1jSrMqvPRxElpW085XfH89VEV2Yl7Vlb3UEtoVUgsU-qON7no1bDpItzbCl9RLARSyQ52PJpu2VCitKFGk7qL20d4q0xcdPH_iQWuiFB5ijUku5vw83iAth/w640-h480/Soraya%20Jorda%CC%83o%20-%20Cranda%20de%20Mamutes_A.jpg" title="Soraya Jordão - Ciranda de Mamutes" width="640" /></a></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Soraya Jordão - Ciranda de Mamutes - Editora Patuá - 208 Páginas - Diagramação: Estúdio Encruzilhada - Lançamento: 2023.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O romance de Soraya Jordão tem como base o cotidiano de uma família de classe média na convincente e divertida voz da protagonista </span><span style="font-family: arial;">Amanda Júlia que sofre aos quinze anos, assim como suas amigas adolescentes, com a insatisfação com o próprio corpo e a ansiedade por persistir sendo uma BVL, ou seja, Boca Virgem de Língua. Seu pai, Olavo, tem uma postura machista e opressora, principalmente no que se refere à educação dos filhos, fazendo com que Saulo, o irmão caçula, precise atender às suas expectativas de masculinidade. Pilar, a mãe submissa, tenta equilibrar os anseios dos filhos com as demandas do marido, mas a revelação de um segredo do passado irá abalar a estrutura familiar e precipitar a perda da inocência.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Com diálogos bem construídos e uma narrativa dinâmica, a autora prioriza as transformações da protagonista para tornar-se mulher, mas também alterna os pontos de vista dos diferentes personagens que tentam se adequar aos papéis que a sociedade estabeleceu. Os capítulos iniciais são leves e descontraídos, mas logo Amanda Júlia ou Amaju, como é chamada pelas amigas, aprende a lutar pelo direito de não ser punida por ter nascido uma menina e, assim, enfrenta os primeiros preconceitos já dentro de casa, principalmente de um pai que nunca disfarçou a decepção por ter sido privado de um primeiro filho homem, tricolor e namorador.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Estranho esse papo da Ju. Parece até que ela se acha feia. Fala sobre si mesma de um jeito horrível. Como pode não estar satisfeita com aquele cabelo liso intenso e aqueles olhos da cor do céu? Sei lá. Preciso escolher minha roupa. Queria ir com aquele cropped preto e short, mas meu pai daria um ataque. Vou de vestido e tênis. O jeito vai ser amarrar o casaco na cintura para disfarçar o comprimento do vestido. Levo a maquiagem na bolsa para reforçar antes de tocar a campainha. Meu pai só aceita batom rosinha-desmaio, nada de blush nem rímel, acha que é coisa de garota oferecida. Quero ver... Vou tascar o vermelho-berro da Ju. Hum, melhor não. Se rolar o beijo, vai borrar tudo. Se meu pai notar um tracinho de batom garota-fácil, me põe de castigo até a boca enrugar. Cruzes, que horror! Passo só um gloss, transparente mesmo, para dar uma iluminada. Menos uma coisa para pensar. Vou de vestido, agora qual? O preto emagrece. Não, ele tem manga bufante e fico igual ao botijão de gás com capinha de pano da casa da vó Abigail. O vermelho é decotado, mas fica bem em mim. Posso disfarçar o decote com um lenço e, quando chegar lá, tiro e coloco na bolsa. Mas depois tenho que lembrar de colocar de novo. É melhor o branco, será? Esquece! Meu pai vai implicar que é transparente. Não, também não gosto, fico parecendo um suspiro."</i> (p. 41)</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Nesta longa jornada para assumir quem realmente somos, as experiências da adolescência podem marcar a nossa personalidade por toda a vida adulta. Eu mesmo, tenho de confessar, às vezes me sinto como um mamute em uma manada de elefantes, assim como os personagens desta ciranda, </span><span style="font-family: arial;">tendo que reconhecer o óbvio: a necessidade de respeitar as diferenças e preservar a individualidade. </span><span style="font-family: arial;">Um livro que certamente agradará os leitores de todas as idades, mas particularmente útil para mamutes que ainda não encontraram o seu lugar no mundo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Minha mãe quer que eu seja vigilante em tempo integral, com qualquer pessoa e em qualquer lugar, mas ela desistiu de vigiar faz tempo. A impressão que dá é que não está nem aí para meu pai. / Não vejo os dois como um casal. Vivem juntos, mas cada um no seu mundo. Ela, cuidando da casa, da gente, das coisas dele. Ele, no controle de qualidade dos nossos dias. Não ouço briga, discussão, são até bem parceiros e organizados para resolver a rotina, tomar decisões. Só não percebo carinho, não há toque entre eles. Cada um se senta numa ponta do sofá. Acho muito esquisito isso. Ela confia tanto nele que ignora os sinais. Justo ela que argumenta que não podemos ficar na mão de ninguém. / Enquanto almoça, Saulo lê mensagens no celular. Ri, escreve alguma coisa, ri de novo, volta a responder, mais gargalhadas. Ignora a tensão que reina na mesa. Queria perguntar se ele está falando com o Patati Patatá só para implicar. Com o Luciano sei que não é, porque não seria assim tão leve e divertido. / O clima está péssimo. Minha mãe com cara de enterro; meu pai, com cara de Halloween; e eu, com cara de quem matou a família e foi ao cinema. Sinto-me só. Amanda e Júlia emudeceram ao mesmo tempo pela primeira vez. Boio no vazio dos meus pesamentos. Cada pessoa nessa mesa vive num mundo paralelo e eu pareço ser a única que insiste em ajustar a sintonia. Ninguém quer estar aqui, apenas estamos. Todos são mais felizes em outro lugar."</i> (p. 128)</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9SkAmNsBWsyfllVOACKdhtLaodoUc_TDTqos-XM5rtI_KqDjEm33z1SGW793pRLIARJtkabgx3lYHFPWzbCUjOBbVSPI0NA7Or_PmR6iAEbd4b1ShEun7Hr8x97JLV9oj6qAZF1M1HCOSzD7qpXwkDVth7_m2lFsW2zgzZR5faIDdDMd3OJsH/s1574/Soraya%20Jorda%CC%83o%20-%20Ciranda%20de%20Mamutes.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1574" data-original-width="1108" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9SkAmNsBWsyfllVOACKdhtLaodoUc_TDTqos-XM5rtI_KqDjEm33z1SGW793pRLIARJtkabgx3lYHFPWzbCUjOBbVSPI0NA7Or_PmR6iAEbd4b1ShEun7Hr8x97JLV9oj6qAZF1M1HCOSzD7qpXwkDVth7_m2lFsW2zgzZR5faIDdDMd3OJsH/s320/Soraya%20Jorda%CC%83o%20-%20Ciranda%20de%20Mamutes.png" width="225" /></a></i></span></div><span style="font-family: arial;"><div style="text-align: justify;"><i>Sobre a autora</i>: Soraya Jordão é psicóloga e escritora. Nasceu no Rio de Janeiro em 1968, sob o signo de Virgem. Durante a pandemia, descobriu seu interesse pela escrita. É autora do e-book de contos “Histórias que contei pra Lua”, publicado pela Amazon, em 2022. No mesmo ano, publicou o livro infantil “O plano do tomate Tomé”, pela editora Itapuca. Foi finalista do concurso Poeta Saia da Gaveta do Verso Falado (2021) e do concurso de crônicas do Instituto Fome Zero (2022). Recebeu menção honrosa no Concurso Literário Relâmpago Virtual, da FALARJ, em 2023. Escreve para os sites Crônicas Cariocas e Crônica do Dia.</div></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://www.editorapatua.com.br/ciranda-de-mamutes-romance-de-soraya-jordao/p" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>Ciranda de Mamutes</i> de Soraya Jordão</a></span></p><div class="blogger-post-footer"><a href="http://feeds2.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml"><img src="http://www.feedburner.com/fb/images/pub/feed-icon32x32.png" alt="" style="border:0"/></a><a href="http://feeds.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml">Subscribe in a reader</a></div>Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-38645424.post-88718420245894533792024-03-09T10:54:00.007-03:002024-03-09T12:02:25.506-03:00Anatole Jelihovschi - A morte e os seis mosqueteiros<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwme6fytvvHUTQ6deBPfoiHTAd-EGBlN52LJKI4uLH-CrXdSaMT5bdYHWdGvq0FxeGRRH1Hbl8iXqydZTBUPOb8fS-ezWE5MJNcQImwBb9N6TrjLd1tTewjXfHsublL070dwGtKpyUHEKGW23MGjm9ayE54i9YO_JA5VF__wC2-r8ur0RmrBL_/s800/Anatole%20Jelihovschi%20-%20A%20morte%20e%20os%20seis%20mosqueteiros_A.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="800" data-original-width="800" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwme6fytvvHUTQ6deBPfoiHTAd-EGBlN52LJKI4uLH-CrXdSaMT5bdYHWdGvq0FxeGRRH1Hbl8iXqydZTBUPOb8fS-ezWE5MJNcQImwBb9N6TrjLd1tTewjXfHsublL070dwGtKpyUHEKGW23MGjm9ayE54i9YO_JA5VF__wC2-r8ur0RmrBL_/w640-h640/Anatole%20Jelihovschi%20-%20A%20morte%20e%20os%20seis%20mosqueteiros_A.jpg" title="Anatole Jelihovschi - A morte e os seis mosqueteiros" width="640" /></a></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Anatole Jelihovschi - A morte e os seis mosqueteiros - Editora Jaguatirica - 152 Páginas - Segunda edição - Diagramação e capa: 54 design - Lançamento: 2017.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Os efeitos da desigualdade social em nosso país são evidenciados pela divisão entre a cidade formal e as favelas no Rio de Janeiro, uma realidade que não pode ser ignorada. Após décadas de políticas públicas inadequadas, as comunidades carentes continuam a ocupar territórios cada vez mais densamente povoados e sem condições mínimas de infraestrutura, além da insegurança provocada pelos altos índices de criminalidade. O romance de Anatole Jelihovischi é ambientado neste cenário caótico, no qual a população local, esquecida pelo Estado, se torna refém e vítima constante da violência policial em nome do combate ao tráfico de drogas.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">A narrativa é conduzida em primeira pessoa por Zé pequeno que conta em retrospectiva a história de seis amigos que cresceram em uma favela do Rio de Janeiro, os seis mosqueteiros como eles costumavam se imaginar quando crianças: <i>"Éramos seis moleques que andavam sempre juntos. Eu, Juca Pelo de Burro, João Mocotó, Zé Grande (eu era o Zé pequeno, ou Zequinha), Batata e Meia-noite. A gente aprontava de tudo. Soltava pipa, jogava bola, roubava, ia à praia e entrava nos trens pela janela. [...]"</i> Para esses meninos não há esperança de uma vida normal e a inocência logo será perdida devido à violência e a falta de opções na favela. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"A favela não seria um lugar ruim de morar não fossem os bandidos e policiais trocando tiros ou fazendo arruaças, a gente tem de manter distância dos dois. Às vezes passam muitos meses na maior calma. De repente se ouve uma chuva de tiros à noite. Gritos, injúrias, súplicas. Cheiro de pólvora, cheiro de carne queimada. De madrugada volta o silêncio. No dia seguinte lá estão os corpos no chão, cercados de poças de sangue; sangue escuro, endurecido, cheio de moscas. / Mas o mais assustador são as execucões dos dedos-duros. / Me lembro de uma execução, anos atrás; bateram no coitado com ferro e tudo, amarraram o cara, passaram fita na boca, puseram dentro de cinco pneus, encharcaram de gasolina, colocaram fogo. O que nunca esqueci foram os olhos. Nem gritar ele podia. O grito saiu pelos olhos, ficou marcado em mim. Depois descobriram que ele nunca tinha denunciado ninguém. Os anos passaram e sempre sonhei com ele."</i> (p. 10)</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Os espaços que deveriam ser ocupados pelas autoridades são tomados pelos traficantes que controlam até mesmo a religião local, ditando as regras de conduta e as punições cada vez mais recorrentes e cruéis. Nesta espécie de romance de formação às avessas, o cotidiano brutal vai confirmando aos poucos o destino trágico de cada um desses personagens, </span><span style="font-family: arial;">fazendo com que o protagonista questione a própria razão da sua existência: <i>"E agora eu nem sabia dizer se a vida também não existia de verdade. Se viver era ter raiva dos outros, ter raiva de todo mundo, matar os outros, arranjar doença e odiar mais ainda, aí cara, aí tenho de confessar que eu estava por fora de tudo. Era um bobo, um otário que não entendia nada."</i></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Confesso que me impressionavam os cultos, e eu pensava até em ser pastor e ter uma igreja. Uma vez o pastor Manelão chamou à frente todos os que tinham dor ou doença, estendeu um cobertor enorme e cobriu-os. E gritava lá de cima, se vocês tiverem fé, Jesus vai expulsar os demônios dos seus corpos. vocês têm fé em Jesus? E a igreja toda respondia, temos fé em Jesus Cristo que veio à terra para nos salvar. E ele repetia, repetia um milhão de vezes. Quando a coberta foi retirada ninguém mais sentia nada e todo mundo contribuía com a igreja porque, como dizia o pastor, se não pagasse não esperasse milagre. E quanto mais pagasse, maior era o milagre que se podia esperar. / Só meu pai era dispensado do dinheiro, já que a contribuição vinha do trabalho, mas não pense que ele não tirava todos os trocados do bolso e entregava para o pastor. Quando a mãe zangava com ele, dizia, 'mas mulher, não vê que somos uma casa abençoada?' Minha mãe não respondia nada, mesmo que todo mundo fosse dormir com fome, mas dormir com fome naquele lugar fazia parte da rotina."</i> (pp. 20-1)</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">A narrativa é extremamente visual, no estilo veloz de um roteiro cinematográfico – principalmente nas passagens violentas – podendo afetar os leitores mais sensíveis devido à descrição detalhada das invasões da polícia ou das execuções comandadas pelos criminosos. De qualquer forma, infelizmente nada do que é apresentado se compara à realidade dessas comunidades, como podemos constatar lendo qualquer noticiário carioca. Contudo, na obra de </span><span style="font-family: arial; text-align: center;">Anatole Jelihovschi temos a chance de conhecer essas histórias do ponto de vista interno, na forma de um teimoso exercício de sobrevivência diária dos moradores, </span><span style="font-family: arial;">suas paixões, ambições, desentendimentos e frustrações. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Engraçado, minha mãe sempre teve horror a violência. Apesar de destrambelhada das ideias, de violência ela tinha pavor. Pode ser a causa da nossa aversão a arma de fogo. Tonho nunca tinha colocado uma nas mãos. Eu já pegara em arma na época que fazia bico de segurança com o meu cunhado. E, interessante, tinha me dado bem. Nos treinos de tiro, acertava o alvo bem no meio. Diziam que tinha nascido para a profissão. Talvez por isso, em parte pelo matraquear da mãe, preferi largar arma antes de começar a gostar de verdade. Respondia que nasci para jogar futebol, não dar tiro nos outros. Mas na hora da verdade, quando me puseram uma bola nos pés e a camisa do Flamengo no corpo, o que aconteceu? Com arma devia acontecer o mesmo. Uma coisa era atirar em alvo, um monte de círculos, um dentro do outro, o menor no meio. Outra coisa é trocar tiro com com uma quadrilha de malucos, todo mundo atirando em todo mundo, você mirar em alguém que nem conhece e atirar para matar. Não, eu podia qualquer coisa, menos aquilo."</i> (p. 58)</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; font-style: italic; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHubxhOCT_b6GAtnk78umZM9PlE3KlOcAhV5Cy_7wt7zafmUKok5zfjZbO2U-hZ-CvaMkG1EeSdWFjnF-1emJFKY9LT1PepMDgt6oaSUlwvsHP_jpaJq-eYYquccosqgJ2ZUtHKwxfs9WSPdDNCQrsAkbZihyphenhyphenVNa5teslfqobk4ITwXL7dMCSl/s1094/Anatole%20Jelihovschi%20-%20A%20morte%20e%20os%20seis%20mosqueteiros.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="1094" data-original-width="726" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHubxhOCT_b6GAtnk78umZM9PlE3KlOcAhV5Cy_7wt7zafmUKok5zfjZbO2U-hZ-CvaMkG1EeSdWFjnF-1emJFKY9LT1PepMDgt6oaSUlwvsHP_jpaJq-eYYquccosqgJ2ZUtHKwxfs9WSPdDNCQrsAkbZihyphenhyphenVNa5teslfqobk4ITwXL7dMCSl/w212-h320/Anatole%20Jelihovschi%20-%20A%20morte%20e%20os%20seis%20mosqueteiros.png" title="Anatole Jelihovschi - A morte e os seis mosqueteiros" width="212" /></a></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span style="font-family: arial;"><i style="font-style: italic;">Sobre o autor</i><i>: </i>Anatole J</span><span style="text-align: center;">elihovschi publicou "Aves Migratórias" (Planetário, 2005), "Rio Antigo" (Rocco, 2009) e "A Gorda" (Ímã Editorial, 2012). Em 2003 foi um dos finalistas do Concurso de Contos do Prosa & Verso, caderno literário do jornal O Globo. Anatole nasceu em 1950, no Rio de Janeiro e ainda guarda 10 livros inéditos. Em seu site e nas fanpages gosta de contar como a literatura nasceu dentro dele, antes mesmo que o amor e a vocação para as ciências exatas.</span></span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://www.editorajaguatirica.com.br/produtos/a-morte-e-os-seis-mosqueteiros/" target="_blank">Clique aqui para comprar </a></span><a href="https://www.editorajaguatirica.com.br/produtos/a-morte-e-os-seis-mosqueteiros/" target="_blank"><span style="font-family: arial;"><i>A morte e os seis mosqueteiros</i> de Anatole </span><span style="font-family: arial;">Jelihovschi</span></a></p><div class="blogger-post-footer"><a href="http://feeds2.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml"><img src="http://www.feedburner.com/fb/images/pub/feed-icon32x32.png" alt="" style="border:0"/></a><a href="http://feeds.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml">Subscribe in a reader</a></div>Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38645424.post-41815119780983885482024-03-02T11:43:00.002-03:002024-03-03T09:28:30.627-03:00Maryse Condé - O fabuloso e triste destino de Ivan e Ivana<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpOty8OqLtTAJxHqprqYCwtcHx8jD9WO-3Ny0h7ptpv5rtp-FDNMt9ALiKpEk6qKhVKExt59xAZvgtwUYE0MA5oAAbfKUyXNR1dRNCAAcE0mmfnyzlYAsPw_ZKQEMZIOOqv8o_3aWdzdcXfRnD0XQyHuB2ykWMjUuByydY4aM17atzg1Ad5Brc/s800/Maryse%20Conde%CC%81%20-%20O%20fabuloso%20e%20triste%20destino%20de%20Ivan%20e%20Ivana.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura contemporânea" border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpOty8OqLtTAJxHqprqYCwtcHx8jD9WO-3Ny0h7ptpv5rtp-FDNMt9ALiKpEk6qKhVKExt59xAZvgtwUYE0MA5oAAbfKUyXNR1dRNCAAcE0mmfnyzlYAsPw_ZKQEMZIOOqv8o_3aWdzdcXfRnD0XQyHuB2ykWMjUuByydY4aM17atzg1Ad5Brc/w640-h480/Maryse%20Conde%CC%81%20-%20O%20fabuloso%20e%20triste%20destino%20de%20Ivan%20e%20Ivana.jpg" title="Maryse Condé - O fabuloso e triste destino de Ivan e Ivana" width="640" /></a></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Maryse Condé - O fabuloso e triste destino de Ivan e Ivana - Editora Record - Selo Rosa dos Tempos - 238 Páginas - Tradução de Natalia Borges Polesso - Prefácio de Djamila Ribeiro - Lançamento: 2024.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">A literatura de Maryse Condé tem uma forte orientação política, lidando com diferentes aspectos da diáspora negra e problemas contemporâneos, tais como: racismo, desigualdades sociais e econômicas, feminismo, migração e terrorismo. Nascida em Guadalupe, conjunto de ilhas no Caribe, considerado um departamento ultramarino da França, estudou em Paris, obtendo um doutorado em Literatura Comparada na Sorbonne e lecionando depois em várias universidades nos EUA, residiu também na Guiné Equatorial, na África. A sua obra reflete, portanto, uma visão globalizada das consequências de um pós-colonialismo que nega a hegemonia eurocêntrica como modelo civilizatório único, valorizando as contribuições culturais dos países periféricos.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Este romance, lançado originalmente em 2017 – quando a autora completou 80 anos – tem como base a história dos irmãos gêmeos Ivan e Ivana e o seu estranho amor, incondicional e subversivo. Nascidos em Dos d´Âne, um vilarejo pobre em Guadalupe, percorrem uma trajetória similar à da autora, um longo caminho do Caribe à África e à Europa. Com personalidades muito distintas, os irmãos precisam vencer, cada um ao seu modo, as barreiras do racismo e da desigualdade social. Ivana é sensível e estudiosa, porém Ivan se revolta e adota uma postura radical que o levará ao terrorismo jihadista. Os personagens são conduzidos por um destino trágico que não podem controlar, assim como a paixão proibida que sempre os manteve juntos.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Como se obedecesse a um sinal, uma força invencível cerca os gêmeos. De onde ela vem? O que ela quer? Eles tinham a impressão de estar brutalmente virados de cabeça para baixo, obrigados a deixar a guarida tépida e plácida na qual tinham vivido por semanas. Um cheiro horrível tomava suas narinas pouco a pouco, enquanto faziam essa descida forçada, cheiro que era como uma mixórdia pútrida. O que tinha um botão entre as pernas precedendo outra, menor, menos formada e cujo sexo era cavado com uma grande cicatriz. Ele abriu passagem com cabeçadas pelo corredor apertado, cujas paredes se afastavam lentamente. / Naquele momento, um único acontecimento tinha embelezado o tempo. Estar um junto ao outro constituía em seu principal hábito. Não tinham experimentado nada a não ser estarem bem próximos e respirarem o cheiro ácido, mas agradável, que os envolvia por todos os lados. A guarida onde haviam passado longas semanas estava escura. Nenhuma luz. No entanto, era porosa para todos os barulhos. Em meio aos sons que recebiam, acabaram por reconhecer um e compreenderam que ele vinha daquela que os carregava. Doce, melodioso, sempre igual a si mesmo, derramava sobre eles sua plenitude harmônica. Por vezes, se alternava com outros, mais agudos, menos íntimos e agradáveis. De repente, surgia em alguns momentos, uma verdadeira algazarra, um concerto de sonoridades confusas e metálicas."</i> (pp. 13-4)</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Em uma entrevista recente ao Guardian, Maryse Condé declarou que uma das principais inspirações para o romance foi o assassinato de uma policial martinicana por um terrorista da República do Mali durante o ataque à redação do jornal Charlie Hebdo em Paris, 2015, por uma charge supostamente ofensiva ao Islã. Contudo, o radicalismo político e religioso que resulta em atentados terroristas é apenas um dos temas abordados nesta obra complexa e poderosa. A autora nos faz pensar sobre a fronteira entre o que é humano ou desumano nos dias de hoje, um limite muito frágil que pode ser facilmente manipulado pelo preconceito e intolerâncias de raça ou gênero. <br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Ivan e Ivana desembarcaram no aeroporto de Roissy numa manhã que, aos seus olhos ainda incendiados pelas cores do Mali, pareceu cinza e suja. Muito embora fossem os primeiros dias de setembro, ainda fazia bastante frio. Por sorte, uma de suas "mães" da vila dos Diarra tinha tricotado para eles alguns suéteres aconchegantes, infelizmente, de um chocante verde-espinafre para Ivan e de um rosa-salmão para Ivana. Hugo, um primo do Pai Michalou, que por muito tempo apertou os parafusos nas fábricas de automóveis da ilha de Seguin e agora desfrutava de uma magra aposentadoria, veio para ajudá-los. Ele tinha muito orgulho de ter um carro, um Ford de um modelo antediluviano que ainda rodava com alegria. Ao sair do aeroporto, eles rodaram ao longo de uma estrada já cheia de veículos. Depois de um túnel, entraram em Paris. Ivan e Ivana nunca tinham visto prédios tão altos e enegrecidos, maciços, formando ao longo da calçada uma formidável muralha. Plantadas em intervalos de distância regulares, as lâmpadas emitiam uma luz fantasmagórica e amarelada. Apesar de muito cedo, as ruas não estavam desertas. Já havia homens e mulheres e até mesmo crianças se dirigindo até a boca do metrô, enquanto os carros lúgubres como rabecões se impacientavam diante dos sinais vermelhos. Essa atmosfera pouco convidativa penetrava bem no fundo do coração. Ivan, que não gostava de Kidal, imediatamente sentiu que não gostaria de Paris. Por que esse epíteto de Cidade Luz que lhe fora atribuído? Se lembrou que o Pai Michalou a comparou a uma bela odalisca que fulminava aqueles que a admiravam."</i> (pp. 149-50)</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1v0CSTllFReGNpAPOX6C5N7FTkAZIMDz_uO-D5cN7V8swTnyIiWeGGhsap9GeY_kQYYuabIKDCqLQqFOFy1H5yApix18ZbASAmIfLLn3oofs3dehBckHAUvpbTJsCbdPRfcMPmT-Q-f2vi9vebSF9bXhygi1iFctJ7tbEEtoyAM9aoN9UYKO8/s1500/Mryse%20Conde%CC%81%20-%20O%20Fabuloso%20e%20triste%20destino%20de%20Ivan%20e%20Ivana.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura contemporânea" border="0" data-original-height="1500" data-original-width="1034" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1v0CSTllFReGNpAPOX6C5N7FTkAZIMDz_uO-D5cN7V8swTnyIiWeGGhsap9GeY_kQYYuabIKDCqLQqFOFy1H5yApix18ZbASAmIfLLn3oofs3dehBckHAUvpbTJsCbdPRfcMPmT-Q-f2vi9vebSF9bXhygi1iFctJ7tbEEtoyAM9aoN9UYKO8/w221-h320/Mryse%20Conde%CC%81%20-%20O%20Fabuloso%20e%20triste%20destino%20de%20Ivan%20e%20Ivana.jpg" title="Maryse Condé - O fabuloso e triste destino de Ivan e Ivana" width="221" /></a></i></span></div><span style="font-family: arial;"><div style="text-align: justify;"><i>Sobre a autora</i>: Maryse Condé (Guadalupe, 1934) é professora emérita de francês e filologia românica nas universidades de Columbia e Harvard. É autora de mais de vinte livros de diversos gêneros literários. Em 2018, recebeu o Prêmio New Academy de Literatura, láurea criada como alternativa ao Prêmio Nobel, suspenso naquele ano após denúncias de violência sexual envolvendo integrantes da instituição. Em 2021, foi agraciada com o Cino del Duca, principal premiação francesa destinada a reconhecer os maiores responsáveis pela divulgação de ideias humanistas. No Brasil, o Selo Rosa dos Tempos da Editora Record publicou também seus romances <i>Eu, Tituba: bruxa negra de Salem</i> e <i>O evangelho do novo mundo</i>.</div></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/3TbRGPG" target="_blank">Clique aqui para comprar </a></span><span style="font-family: arial; text-align: center;"><a href="https://amzn.to/3TbRGPG" target="_blank"><i>O fabuloso e triste destino de Ivan e Ivana</i> de Maryse Condé</a></span></p><div class="blogger-post-footer"><a href="http://feeds2.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml"><img src="http://www.feedburner.com/fb/images/pub/feed-icon32x32.png" alt="" style="border:0"/></a><a href="http://feeds.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml">Subscribe in a reader</a></div>Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38645424.post-69430053510072138442024-02-24T11:50:00.001-03:002024-02-24T11:51:14.137-03:00Fábio Fernandes - 16<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLZE8A-wHDveu5TRkiHD_UaN7Bju51NDRryg7HukUuFCkCEcCCP0PhLmzn5GRBcgDCoFllXInpW8H4CHFv3v2zihbjtTPd3NQJtud0TCAHyAln8lqurczKAvCdcRfkteaAwZOBegtV365OL39DLSch73l_gNoafJDh49FYNs-5xHG-Bxssri59/s800/Fa%CC%81bio%20Fernandes%20-%2016.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLZE8A-wHDveu5TRkiHD_UaN7Bju51NDRryg7HukUuFCkCEcCCP0PhLmzn5GRBcgDCoFllXInpW8H4CHFv3v2zihbjtTPd3NQJtud0TCAHyAln8lqurczKAvCdcRfkteaAwZOBegtV365OL39DLSch73l_gNoafJDh49FYNs-5xHG-Bxssri59/w640-h480/Fa%CC%81bio%20Fernandes%20-%2016.jpg" title="Fábio Fernandes - 16" width="640" /></a></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Fábio Fernandes - 16 - Editora Caos & Letras - 248 Páginas</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Projeto Gráfico: Cristiano Silva - Capa: Eduardo Sabino - Lançamento: 2023.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Esta antologia de contos abrange o período de 30 anos da produção literária do escritor, tradutor e jornalista Fábio Fernandes, englobando uma grande variedade de estilos que podem abordar temas da ficção científica clássica como viagens no tempo e exploração espacial, um realismo distópico mais sombrio ou, até mesmo, gêneros pouco explorados na literatura contemporânea como a ficção histórica, exemplo do ótimo <i>"</i>O alferes de ferro", no qual o autor revisita a Inconfidência Mineira de 1789 e imagina um final bem diferente para o nosso Joaquim José da Silva Xavier, que ficou conhecido na História do Brasil simplesmente como Tiradentes. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O interesse na leitura é constantemente renovado em cada narrativa, fazendo com que o leitor nunca saiba em qual ponto do tempo e espaço encontrará os personagens, assim como as doses de realismo e fantasia empregadas pelo autor. Por exemplo, não é todo dia que temos a chance de identificar Frankenstein de Mary Shelley como parte de um argumento sobre imortalidade no Rio de Janeiro, como em "Para nunca mais ter medo" que lida com temas como amor, vida e morte, além de um início perfeito: <i>"Marta era muito bonita viva. Mas conseguia estar ainda mais linda depois de ressuscitada"</i>, um gancho irresistível não é mesmo? </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"O primeiro confronto entre a Assassina e o Viajante do Tempo aconteceu no Permiano, 254 milhões de anos atrás. Pouco depois da erupção do megavulcão siberiano que pôs um fim a milhões de espécies desconhecidas para você. / Mas foi um evento cansado e patético: A Assassina se materializou diante de um Viajante cansado e deprimido, e o encarou durante muito tempo no meio da chuva de cinzas e dos restos de incêndio da região. / Era o começo do fim – um dos muitos fins, na verdade. Mas a história daqueles dois ainda estava longe de acabar. Sem nunca tentar se aproximar dele, a Assassina desapareceu nos Corredores do Tempo tão rapidamente quanto havia chegado. Por isso aquele primeiro contato, digamos, foi um evento. Um encontro, uma metáfora ao mesmo tempo mais simples e mais poderosa que a daquela famosa canção do século 20: </i>dois navios que passam um pelo outro na noite<i>. Um aviso: prepare-se porque eu estou chegando. Um alerta amoroso, se é que podemos dizer isso a respeito de uma sentença de morte."</i> (pp. 13-4) - Trecho do conto <i>Sete Horrores</i></span></blockquote><span style="font-family: arial;"><i></i></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Passado, presente e futuro se deslocam, às vezes no mesmo conto, como em "Sete Horrores" com seus protagonistas imortais: a Assassina e o Viajante do Tempo. Na verdade, a imaginação de Fábio Fernandes não tem limites, como podemos constatar em "O grande concerto", uma distopia ambientada na cidade de Ouro Preto em um futuro bem próximo no qual personagens desesperados enfrentam um inverno nuclear. Já em "M.U.A.", Ramón desaparece no dia de seu casamento com Renata em 1980 e, a partir de então, se reencontram no futuro com intervalos de muitos anos (1986, 1996...), mas sem nunca conseguir permanecer juntos na mesma época.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Ao entrarem na saleta, Joaquim vê várias outras pessoas, a maioria delas seus conhecidos de Vila Rica, São João del-Rei e mesmo do Rio de Janeiro. O contratador Domingos de Abreu Vieira, o padre Rolim, o cônego Luís Vieira, o coronel Francisco Lopes, seu primo, o coronel de de milícias Joaquim Silvério dos Reis, o Capitão José de Resende Costa, o Sargento-Mor Toledo Pisa e vários outros. / A bem da verdade, quase todos ali naquele grupo já se reuniam periodicamente há alguns anos, movidos não só pelos desmandos da metrópole e do governador da capitania (e agora do Visconde de Barbacena) como também pelos ideais do Iluminismo francês e da Independência dos Estados Unidos. Muitos, como Tomás, Claudio, os padres e alguns militares (e ex-militares, entre os quais o próprio Joaquim) estavam no movimento nascente por razões puramente idealistas. Já os proprietários de terras se juntaram por motivos mais práticos: a falência completa devido à escassez do ouro de aluvião na área e a obrigatoriedade de colaborar com uma cota de seu próprio bolso para encher os cofres de Portugal."</i> - (pp. 90-1) - Trecho do conto <i>O alferes de ferro</i></span></blockquote><span style="font-family: arial;"><i></i></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Na verdade, apesar de flertar com diferentes temas e gêneros literários, o que permeia todos os contos desta coletânea é a mesma incompreensão diante de um destino que não podemos compreender e controlar. A inevitável passagem do tempo e a fragilidade da existência humana são a matéria-prima de todas as formas artísticas <i>"desde que o primeiro indivíduo colocou em movimento de sonho e arte um bisão desenhado na pedra: sacrifícios, abismos, glórias frágeis."</i> como bem destacado pela escritora Micheliny Verunschk na apresentação. Um</span><span style="font-family: arial;"> lançamento que agradará não somente aos fãs da ficção científica, mas apreciadores da literatura em geral.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Pois é a partir da invenção de Frankenstein que o homem realiza uma transformação fundamental em sua atitude para com a Ciência: </i>tudo é possível, logo tudo é permitido<i>. Se a recriação da vida, antes possível apenas por seres ditos superiores (lembramo-nos logo do relato bíblico de Lázaro por Cristo), agora não só é possível como praticável e referendada até pela Igreja protestante, ainda que no começo apenas o calvinismo liberal, e de forma relutante, ouse se colocar ao lado de Frankenstein, ou melhor, da nobreza que o patrocinava e apoiava, então mesmo os projetos mais loucos e desacreditados tomam corpo: é a Era das Invenções, ou Novo Renascimento, como querem exageradamente alguns historiadores da Nova Direita. seja como for, essa febre toma conta da Europa e das Américas durante cerca de três décadas, e, apesar da quantidade absurda de inventos sem o menor sentido ou propósito prático, legou-nos avanços como o dirigível transoceânico, a máquina diferencial, a neurologia avançada e a unidade de terapia intensiva hospitalar."</i> (pp. 63-4) - Trecho do conto <i>O nascimento do livre-arbítrio</i></span></blockquote><span style="font-family: arial;"><i></i></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRwyIJ2dn4VuyFpEAqyulpnTYXla1-qFeq15YVmcitD2NoK_LqrdBbjAOfcjyct_6duk9-fApYyIY1z2qsWtrD1IzeZ9S5TFmbxCh9h2oF2RbjCa-KAMwvdMTUOOy0r-YzDEBovz57GluQSdMZVnbLL3esEt9TWyzGNeDxzp8ly9U2fJ3viobQ/s1029/Fa%CC%81bio%20Fernandes%20-%2016.jpeg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="1029" data-original-width="719" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRwyIJ2dn4VuyFpEAqyulpnTYXla1-qFeq15YVmcitD2NoK_LqrdBbjAOfcjyct_6duk9-fApYyIY1z2qsWtrD1IzeZ9S5TFmbxCh9h2oF2RbjCa-KAMwvdMTUOOy0r-YzDEBovz57GluQSdMZVnbLL3esEt9TWyzGNeDxzp8ly9U2fJ3viobQ/w224-h320/Fa%CC%81bio%20Fernandes%20-%2016.jpeg" title="Fábio Fernandes - 16" width="224" /></a></span></div><span style="font-family: arial;"><div style="text-align: justify;"><i>Sobre o autor:</i> Fábio Fernandes é jornalista e escritor. Doutor e mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, onde é professor nos cursos de Jornalismo e de Jogos Digitais, traduziu dezenas de livros, entre os quais <i>Laranja Mecânica</i> e <i>Good Omens</i>. Escreveu, entre outros, os romances <i>Os Dias da Peste</i>, <i>Back in the USSR</i> (finalista do Prêmio Jabuti 2020), <i>Love Will Tear Us Apart</i>, <i>Under Pressure</i>, <i>Rio 60 Graus</i> e as coletâneas de contos <i>Interface com o Vampiro</i> e <i>Love: An Archaeology</i>.</div></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://www.caoseletras.com/16---fabio-fernandes/p" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>16</i> de Fábio Fernandes.</a></span></p><div class="blogger-post-footer"><a href="http://feeds2.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml"><img src="http://www.feedburner.com/fb/images/pub/feed-icon32x32.png" alt="" style="border:0"/></a><a href="http://feeds.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml">Subscribe in a reader</a></div>Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38645424.post-58029352688126790392024-02-17T17:12:00.000-03:002024-02-17T17:12:03.667-03:00Sergio Geia - Vocabulário de memórias ausentes<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg79HKU8P4aL5vvVU0SwAlfzQmqexiclt1MUoChWtUjA4mZbXdtiEMHtk8YHjOCgQEkz-J14f_V5JuWElOGjBr4SVaBfbiWI6dVQn74FJBnPxh12F7ElpaBnWlThyphenhyphen0dDIfD4y_ixc-y6_e0etwcAUJbfBRNczHA4l6SyNz4Swl7OdcFjAbgfh16/s800/Sergio%20Geia%20-%20Vocabula%CC%81rio%20de%20memo%CC%81rias%20ausentes.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg79HKU8P4aL5vvVU0SwAlfzQmqexiclt1MUoChWtUjA4mZbXdtiEMHtk8YHjOCgQEkz-J14f_V5JuWElOGjBr4SVaBfbiWI6dVQn74FJBnPxh12F7ElpaBnWlThyphenhyphen0dDIfD4y_ixc-y6_e0etwcAUJbfBRNczHA4l6SyNz4Swl7OdcFjAbgfh16/w640-h480/Sergio%20Geia%20-%20Vocabula%CC%81rio%20de%20memo%CC%81rias%20ausentes.jpg" title="Sergio Geia - Vocabulário de memórias ausentes" width="640" /></a></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Sergio Geia - Vocabulário de memórias ausentes - Editora Sinete - 156 Páginas - Imagem de capa: Rodrigo Scott - Lançamento: 2023.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O mais recente lançamento de Sergio Geia é uma antologia de contos que aborda diferentes aspectos da fragilidade física e psicológica inerente à condição humana, principalmente em uma época na qual as "relações líquidas", como definido por Zygmunt Bauman (1920-2017), tendem a ser menos frequentes e menos duradouras. Portanto, os personagens precisam lidar, cada um a seu modo, com o isolamento decorrente da passagem do tempo e o sentimento de perda e ausência que costumamos chamar de solidão. Neste caso, as lembranças constituem uma pequena esperança de felicidade, ainda que seja confundindo imaginação com realidade.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Em <i>"A menina da praia"</i>, conto de abertura do livro, o protagonista, que sempre negou a necessidade de casamento e filhos, percebe que o tempo passou e a idade chegou, assim como a solidão depois da perda dos amigos. Vivendo apenas com a companhia da cadela Francisca, ele preenche o seu tempo caminhando pela praia e observando diariamente uma menina "na casa dos trinta que sofria de algum mal, isso estava claro", regendo uma orquestra imaginária com um palito de sorvete, cantando e dançando. A narrativa avança para um final surpreendente, quando o personagem decide comprar uma batuta de verdade para a menina.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Abriu a porta do apartamento ainda incomodado. Na mente, a imagem da menina maluquinha. Ela conseguira encontrar uma porta aberta. Sem pedir licença, entrou, invadindo os ambientes da casa. Mexeu em compartimentos escuros, inacessíveis, dos quais nem ele mesmo tinha a senha. Xeretou por todos os cantos, até que, por fim, após esquadrilhar a sua mansão, chegou à alma. E agora, o que fazer? / Francisca o recebeu à porta com saltos de alegria, transportando-o para outra faixa de consciência muito mais suave. Ele a pegou no colo quase agradecendo pelo instante mágico. Beijou-a na cabeça branca, levando-a ao sofá. [...] E beijou Francisca muitas vezes até que, irritada, a cadela escorregou de seu colo, deixando-o à míngua. Com a ponta da língua, ela alisou a água do pote, sugando-a levemente, cheirou a xepa da noite com desinteresse, depois invadiu o pequeno caixote disposto no canto da sala, enrolando-se à manta de lã."</i> (p. 22) - Trecho do conto <i>A menina da praia</i></span></blockquote><span style="font-family: arial;"><i></i></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">já em <i>"Pequena despedida"</i>, um escritor desiste de acompanhar o desmanche do seu corpo, vivendo um último dia em grande estilo, apesar das limitações decorrentes da decadência física: <i>"Acho que consegui viver bem comigo mesmo, com o aço gelado e duro da solidão, mesmo contra ele colidindo algumas vezes. Pode parecer estranho, mas o excesso de tempo, esse ouro que a velhice traz, tem lá o seu embuste: se você não souber ocupá-lo bem, pode se machucar."</i> Antecipando o encontro inevitável e próximo com a morte, este personagem está de certa forma, por estranho que possa parecer, valorizando a própria vida.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">"Já vivi o suficiente e posso dizer que tomo essa decisão com convicção. Não foi fácil. Um processo longo e doloroso em que a vi amadurecer, sem pressa, sem impulsos de colhê-la do pé antes da hora. Deixei chegar o seu tempo e, quando chegou, eu também estava pronto. Para muitos pode parecer loucura, a execução de um papel que não me é permitido. A esses afirmo que minha vida foi longa e bem vivida, sem contar que hoje ela se arrasta, apenas esperando a hora do fim. Creio que posso dispor dela da forma como entender conveniente, um direito legítimo. Por que esperar sabe-se lá quanto tempo mais vivendo este massacre, tendo a certeza que daqui a pouco outrem virá e dará cabo de mim?" (pp. 79-80) - Trecho do conto <i>Pequena despedida</i></span></blockquote><span style="font-family: arial;"><i></i></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Para equilibrar um pouco o clima de melancolia, o autor acrescentou alguns contos mais leves, como o divertido <i>"O mosca"</i>, no qual o protagonista passa pela desconfortável situação de se apresentar no alistamento militar e ainda por cima ser eleito como foco das gozações devido à sua semelhança com o ator Jeff Goldblum que se funde geneticamente com uma mosca no filme homônimo após uma mal-sucedida experiência em um dispositivo de teletransporte. Outro conto que destoa do clima da antologia é <i>"Voz e violão"</i>, uma narrativa romântica ambientada em uma noite mágica com céu estrelado, música e vinho.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Era calado o pai. A mãe falava, mas era chorona. Se a mãe resolvia me dar bronca por alguma arte, ela gritava de dar medo. Era um grito ardido, que feria os tímpanos. Por vezes ouvi pai e mãe brigando no quarto. A voz grave do pai duelando contra a voz aguda da mãe. O pai não gritava, nem era de se agastar. Mas se isso acontecia, se ele ficava nervoso e gritava, o grito era um trovão, parecia que o chão da casa estava a rasgar, como um terremoto. Daí mãe chorava. Eu tinha pena, e também chorava por dentro. / Adultos são tristes. Não me pergunte o momento exato em que a tristeza chega, pois não saberei responder. Mas ela chega. Como torneira velha. A gotinha fica lá, a pingar, fina, contínua, depois cresce, engrossa, o tempo passa, o copo enche. Quando se é adulto, o copo entornou. Aí a tristeza fica, viva, vivendo a vida junto. Meus pais eram assim."</i> (p. 90) - Trecho do conto <i>Clube dos ratos</i></span></blockquote><span style="font-family: arial;"><i></i></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSVOFQNufO7FBKJTkfURU_2PHBvYT4zRKyAxhF_Np6IjXUqdKRke62SGa7FMM6wkbWuEV5ueS_66mywQmTL_Bhy80hA2UG30SyFTC_DImaa6Uc11tSPIgPR3rf4S7tToLgx6xw3Q3tY0y01zxse4CSJsR-2bfq5quzMUcJ2fF-xI0N3vKqgJeb/s1540/Sergio%20Geia%20-%20Vocabula%CC%81rio%20de%20memo%CC%81rias%20ausentes.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="1540" data-original-width="1026" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSVOFQNufO7FBKJTkfURU_2PHBvYT4zRKyAxhF_Np6IjXUqdKRke62SGa7FMM6wkbWuEV5ueS_66mywQmTL_Bhy80hA2UG30SyFTC_DImaa6Uc11tSPIgPR3rf4S7tToLgx6xw3Q3tY0y01zxse4CSJsR-2bfq5quzMUcJ2fF-xI0N3vKqgJeb/w213-h320/Sergio%20Geia%20-%20Vocabula%CC%81rio%20de%20memo%CC%81rias%20ausentes.png" title="Sergio Geia - Vocabulário de memórias ausentes" width="213" /></a></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Sobre o autor</i>: Sergio Geia nasceu em Taubaté, São Paulo. Servidor público da Justiça do Trabalho, é editor e cronista do Crônica do Dia. Acadêmico titular da Academia Taubateana de Letras, publicou o romance <i>Confidências de um sacerdote</i> (Cabral Editora) e o livro de crônicas <i>Folha vadia</i> (Editora Matarazzo). É um dos autores da antologia de crônicas <i>Retire aqui a sua história</i> (Editora Sinete), uma publicação com colaboradores do coletivo Crônica do Dia.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://www.sineteeditora.com.br/vocabulario-de-memorias-ausentes" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>Vocabulário de memórias ausentes</i> de Sergio Geia</a></span></p><div class="blogger-post-footer"><a href="http://feeds2.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml"><img src="http://www.feedburner.com/fb/images/pub/feed-icon32x32.png" alt="" style="border:0"/></a><a href="http://feeds.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml">Subscribe in a reader</a></div>Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-38645424.post-79540958704304720302024-02-13T13:04:00.002-03:002024-02-13T13:05:52.396-03:00Mariana Ianelli - Turno da madrugada<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYSuF9NdJMI2vZQz8LVnulp-7UAii6C5LN1mJJAvOZhLq4heL2Emsu8stANyP3KKMtX32IpEzFw3PJ8U2xpfQcZ2I0rXu9BF30eLX2xxIoUt-DYdDx-VSW4HZYjJBbwgrmzkBOjoDJm4FJL6xyfX2WMugDgQRq7vX215za_izNjZ2IUt9xC2TY/s800/Mariana%20Ianelli%20-%20Turno%20da%20madrugada.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Crônicas" border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYSuF9NdJMI2vZQz8LVnulp-7UAii6C5LN1mJJAvOZhLq4heL2Emsu8stANyP3KKMtX32IpEzFw3PJ8U2xpfQcZ2I0rXu9BF30eLX2xxIoUt-DYdDx-VSW4HZYjJBbwgrmzkBOjoDJm4FJL6xyfX2WMugDgQRq7vX215za_izNjZ2IUt9xC2TY/w640-h480/Mariana%20Ianelli%20-%20Turno%20da%20madrugada.jpg" title="Mariana Ianelli - Turno da madrugada" width="640" /></a></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Mariana Ianelli - Turno da madrugada - Edições Ardotempo - 272 Páginas</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Capa e internas: Fotografias de Mariana Ianelli - Lançamento: 2023.</span></div><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Costumo dizer que o brasileiro é um craque na arte de escrever crônicas, inusitado casamento do jornalismo com a literatura, um estilo que não consigo identificar com a mesma originalidade em outros países. De fato, gerações de grandes escritores se tornaram mestres no gênero, tais como: </span><span style="font-family: arial;">Machado de Assis, João do Rio, Lima Barreto, Rubem Braga, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino, para citar somente alguns nomes. Este mais recente lançamento de Mariana Ianelli reúne 130 textos, publicados entre 2010 e 2022 em livros, jornais e sites, provando que a crônica ainda persiste no gosto popular, apesar da injusta competição com a televisão, redes sociais e, mais recentemente, os famigerados grupos de WhatsApp.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Em <i>Turno da madrugada</i>, as crônicas podem ter sido escritas no calor da indignação provocada pelo noticiário ou outras mais longamente elaboradas. Contudo, em ambos os casos, o olhar da autora nos oferece o mesmo tratamento poético que transforma os eventos aparentemente simples do cotidiano em pura literatura. Portanto, a inspiração pode vir de um menino que deixa escapar o seu balão azul ou do som de um telefone insistente tocando na solidão da madrugada. Por outro lado, a crueza da realidade se impõe com a publicação de um decreto que libera o uso de armas com base na "farsa da autodefesa e do embuste chamado bala perdida". Seja qual for o tema abordado, a emoção está sempre presente em cada texto. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Às vezes, de madrugada, soa um telefone lá embaixo na rua. O bairro quase todo dormindo, e um telefone chamando no vazio, como se fosse sempre a mesma pessoa do outro lado da linha, o mesmo insone incansável a quem nunca ninguém respondeu. A madrugada tem dessas fantasias, dessas ilhas de âmbar, sóis de pequenas lâmpadas daqueles que esperam, que estudam, que vigiam. / Vem com a noite um silêncio bom, um silêncio nuançado de sons, murmurações, assobios, o momento ideal para crimes bíblicos, ciladas de dança com espadas, fugas, orgias. Alguém sonha que sobe uma escada até o céu, alguém observa através de uma cortina, alguém conspira. As ocorrências parecem mínimas, mas coisas tremendas estão acontecendo em cubículos, em porões, em garagens, em jardins, quem sabe até ali nos fundos do sobradinho bonito da esquina. [...]"</i> (p. 39) - Trecho da crônica <i>Tocadores de Biwa</i>.</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Algumas crônicas são dedicadas a importantes nomes da literatura nacional e internacional, como: Clarice Lispector, Sophia de Mello Breyner Andresen, Cecília Meireles, Emily Dickinson, Mario Quintana, António Lobo Antunes, Vinicius de Moraes, Hilda Hilst e Wislawa Szymborska. O amor pelos livros é um tema recorrente, por exemplo quando Mariana Ianelli comenta como os autores se organizam e se acomodam em uma biblioteca, independente de suas diferenças: <i>"O que a vida afastou, uma biblioteca reconciia, de modo que Sartre pode agora dividir pacificamente o espaço de alguns centímetros com Merleau-Ponty e Camus, e pode García Márquez topar com Vargas Llosa, e Saramago ter Lobo Antunes como um bom vizinho."</i></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Assim Mario Quintana nomeava a poesia: crônica da Eternidade, loucura lúcida, pedra no abismo, água de beber da concha da mão, pomo da árvore da sabedoria. Ele sabia. Ele, que era leitor de entrelinhas, aprendiz de feiticeiro, corujo colorido com alma de vira-lua, pinta-mundos, operário da escrita trabalhando a café e fumo. / Poeta de quintanares e filosofanças, chamava o crítico literário de piolho de andorinha. Combatendo cabotinismos, era a favor dos soldados desconhecidos da poesia. Tinha horror a declamadoras e escolas poéticas. Tirava bons motivos de riso dos concretistas. Instado a explicar um poema, respondia perguntando o que será que Deus quis dizer com este mundo. Não gostava de adaptações de romances em histórias em quadrinhos, não gostava de rock. Gostava era de grilos na madrugada, de cigarras, de um realejo de outono, da flauta de um anjo no telhado, e dos sons que vêm de longe, sinos passos, uma chaleira chiando, risadas de criança depois da aula, escada abaixo. [...]"</i> (p. 105) - Trecho da crônica <i>110 anos de um cronista da eternidade</i>.</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Certamente, para os autores contemporâneos torna-se um desafio manter o nível dos cronistas de gerações passadas e vencer a velocidade dos meios de comunicação atuais, assim como a propagação de notícias falsas, geralmente de caráter sensacionalista. Somente mantendo um estilo pessoal é possível conquistar e manter os leitores, sempre carentes de informação confiável e de qualidade. Neste contexto, recomendo a antologia de crônicas de Mariana Ianelli, felizmente uma oportuna constatação de que o gênero ainda tem muito a oferecer.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Estão abertas as vagas para carrasco no Sri Lanka. Como requisito para o emprego de remuneração equivalente a menos de um salário mínimo, os candidatos devem apresentar 'excepcional caráter moral' e 'excelentes faculdades mentais'. Basicamente, alguém de mãos firmes e coração invulnerável. Não vá o carrasco se deixar impressionar pelo olhar de um condenado, como o verdugo de Hilda Hilst. Não vá questionar o merecimento da pena nem se gabar de executá-la com exagerado entusiasmo. / Um carrasco é uma criatura sem voz e sem rosto, tanto mais medonha quanto mais mansamente idiota, bicho criado no aprisco da lei, cujas mãos profissionais são as mãos de muitos homens. Se for para enlouquecer, que seja dentro dessa normalidade aparente de executores e condenados. Talvez colabore nesse enlouquecimento manso o uso de cordas em vez de lâminas. Não pensar certamente colabora muito. Não sentir colabora ainda mais."</i> (p. 157) - Trecho da crônica <i>Profissão: carrasco</i>.</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; font-style: italic; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1zxKysxVvKmTjcK8_pxxmCoL_IaXTKfdpDww8oCXCMjIPSf-sx6cMzDe2TDbbUvuejuVrD2fpZiGIGEZxSYpr6X07uWtbE__bNV9yJYWyDeKU4osuuNuBRraqObF5Q2hkGoH3HMdHqN-AxtZpofHPb50xlOEWgpD287s1SkaRnBWI3CYE7k5O/s1522/Mariana%20Ianelli%20-%20Turno%20da%20madrugada.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Crônicas" border="0" data-original-height="1522" data-original-width="1006" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1zxKysxVvKmTjcK8_pxxmCoL_IaXTKfdpDww8oCXCMjIPSf-sx6cMzDe2TDbbUvuejuVrD2fpZiGIGEZxSYpr6X07uWtbE__bNV9yJYWyDeKU4osuuNuBRraqObF5Q2hkGoH3HMdHqN-AxtZpofHPb50xlOEWgpD287s1SkaRnBWI3CYE7k5O/w212-h320/Mariana%20Ianelli%20-%20Turno%20da%20madrugada.png" title="Mariana Ianelli - Turno da madrugada" width="212" /></a></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i style="font-style: italic;">Sobre a autora</i><i>: </i>Mariana Ianelli nasceu em São Paulo em 1979. É autora de quinze livros de poesia, entre eles a antologia <i>Manuscrito do fogo</i> (2019), que marca vinte anos desde sua estreia, e <i>América – um poema de amor</i> (2021). Tem quatro livros de crônicas (<i>Breves anotações sobre um tigre</i>, <i>Entre imagens para guardar</i>, <i>Dia de amar a casa</i> e <i>Prazer de miragem</i>) e três infantis (<i>Bichos da noite</i>, <i>Dia no ateliê</i> e <i>A menina e as estrelas</i>). Já colaborou com textos críticos para os jornais O Globo (Prosa & Verso), Valor Econômico (Caderno Cultural), O Estado de S. Paulo (Caderno 2) e Rascunho. Foi editora da página Poesia Brasileira, no Rascunho, de 2018 a 2022. Recebeu o Prêmio Fundação Bunge de Literatura (Juventude) em 2008, menção honrosa no prêmio Casa de las Américas (Cuba) em 2011 (livro <i>Treva alvorada</i>) e menção honrosa no prêmio Alceu Amoroso Lima – Poesia e Liberdade 2021. Foi quatro vezes finalista do Jabuti em poesia livros <i>Fazer silêncio</i>, <i>Almádena</i>, <i>O amor e depois </i>e <i>Tempo de voltar</i>) e vencedora do Prêmio Minuano de Literatura na categoria Crônica, com o livro <i>Dia de amar a casa</i> (2020).</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <i>Turno da madrugada</i> de Mariana Ianelli pode ser adquirido pelo e-mail da Editora: ardotempo@gmail.com</span></p><div class="blogger-post-footer"><a href="http://feeds2.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml"><img src="http://www.feedburner.com/fb/images/pub/feed-icon32x32.png" alt="" style="border:0"/></a><a href="http://feeds.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml">Subscribe in a reader</a></div>Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38645424.post-85943474103987729282024-02-11T10:55:00.001-03:002024-02-11T10:55:10.960-03:00Sílvia Mota Lopes - Túnica Íntima<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGODoZZyUrkVQruwfXImdpKbZolJsOEr9v_dpwwH0Sv_VYPGEKh065uKcsdPp7CQNx2NK9pMkJlZg1s_-4uQwZ6ch70Tfbp8aYGx68l6bix5GYVY8iBq4w10Mx_VnXhp24uGZqyKqWvKqEOKyGsVROF3_tcRc0ynQx2p_yr5wiNgUnzyPhVLTh/s800/Si%CC%81lvia%20Mota%20Lopes%20-%20Tu%CC%81nica%20I%CC%81ntima_A.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura Portuguesa" border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGODoZZyUrkVQruwfXImdpKbZolJsOEr9v_dpwwH0Sv_VYPGEKh065uKcsdPp7CQNx2NK9pMkJlZg1s_-4uQwZ6ch70Tfbp8aYGx68l6bix5GYVY8iBq4w10Mx_VnXhp24uGZqyKqWvKqEOKyGsVROF3_tcRc0ynQx2p_yr5wiNgUnzyPhVLTh/w640-h480/Si%CC%81lvia%20Mota%20Lopes%20-%20Tu%CC%81nica%20I%CC%81ntima_A.jpg" title="Sílvia Mota Lopes - Túnica Íntima" width="640" /></a></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Sílvia Mota Lopes - Túnica Íntima - Poética Grupo Editorial Lisboa - 78 Páginas - Ilustrações: Sílvia Mota Lopes - Lançamento: 2022.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">A portuguesa de Braga, Sílvia Mota Lopes, </span><span style="font-family: arial;">poeta, pintora e ilustradora, publicou uma extensa obra dedicada à literatura infantil e juvenil. Contudo, nos surpreende nesta antologia poética, <i>Túnica Íntima</i>, lançada em 2022, com versos que me fazem lembrar de sua conterrânea Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), referências a uma poesia de imagens, luz e mar. De fato, os poemas de Sílvia confirmam a tradição cultural lusitana de cantar a terra, o sol, o vento e a magia do oceano: <i>"Abarco o rumor das ondas / vacilando entre brisas e silêncios / os seixos alinhados no veio da areia / a apneia do poeta / regressando ao vago da janela."</i></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Além da conexão com a natureza, os poemas expressam a sensibilidade feminina diante dos impasses existenciais que a brevidade da vida apresenta: <i>"Ficou-lhe na cabeça aquela frase / escutada na véspera / enquanto passava o rímel pelas pestanas, / 'Depois de velha é que ficaste bonita'. / Recebeu-a como um elogio, / mas a frase ainda lhe absorve os dias. [...]"</i> Ou ainda nesta belíssima homenagem ao amor que ignora os efeitos da passagem do tempo: <i>"Ontem carregava a volúpia da pele / hoje o corpo é sangue seco / ausente / fez-se outono / sorrio quando o contemplas / como se nele se cumprissem todas as primaveras."</i></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span style="font-family: arial;">Deixo com vocês alguns exemplos do trabalho de </span><span style="font-family: arial; text-align: center;">Sílvia Mota Lopes, ainda p</span><span style="font-family: arial;">ouco conhecida no Brasil, e a sua</span> técnica de escrever poemas como quem desenha traços coloridos em uma tela: <i>"Quando as mãos são aves / a cabeça pousa tranquila sobre o tempo. / Nele, sente-se a solidez do barro / moldado em galáxias luminosas / derramado em gestos cúmplices de ternura. [...]"</i> </span></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">O poema enche-se de silêncio <br /></span><span style="font-family: arial;">voltamos o olhar à intimidade das palavras <br /></span><span style="font-family: arial;">o entardecer é uma criança com sono.</span></span></h3><div><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">[...]</span></span></div><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Há o mar,<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">os barcos que rebentam pelas costuras<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">desvanecendo numa onda<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">para morrer.<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Ninguém como eles conhece melhor a voz do mar<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">a saraiva que lhes percorre o dorso num falso sossego<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">a turva melancolia marítima.<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Onde poderão assentar o casco? <br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">A fome dilata a viagem<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">a proa enrijece<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">ao som de uma gaivota.</span></span></h3><div><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">[...]</span></span></div><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Ficou-lhe na cabeça aquela frase escutada na véspera<br /></span><span style="font-family: arial;">enquanto passava o rímel pelas pestanas,<br /></span><span style="font-family: arial;">“Depois de velha é que ficaste bonita”.<br /></span><span style="font-family: arial;">Recebeu-a como um elogio,<br /></span><span style="font-family: arial;">mas a frase ainda lhe absorve os dias.<br /></span><span style="font-family: arial;">Remeteu-a ao passado recordando a transformação<br /></span><span style="font-family: arial;">do seu corpo, as formas e os contornos da carne,<br /></span><span style="font-family: arial;">os olhos fundos das noites mal dormidas, o peito<br /></span><span style="font-family: arial;">sugado pela fome, as gretas, os braços manchados<br /></span><span style="font-family: arial;">de cansaço que embalaram as dores,<br /></span><span style="font-family: arial;">mesmo as mais imprevisíveis.</span></span></h3><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwrn8_SAcrpgbBNT1HL6W6MBVjqjJcWuKPH1g4VZ0v0uNhi4WihCUL6cHzL2Bm4f196dZCYsLtQCCUQfPrD13izYRPdjFf1V7AMb0ExBhHSl98l7YsfPA5uWx2JuyG13F0DFvQClwLp2CXHON67ZF1LA1g9Si42MEGCjgaIsMQjZamrNIvgYTL/s1108/Si%CC%81lvia%20Mota%20Lopes%20-%20Tu%CC%81nica%20I%CC%81ntima.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura portuguesa" border="0" data-original-height="1108" data-original-width="608" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwrn8_SAcrpgbBNT1HL6W6MBVjqjJcWuKPH1g4VZ0v0uNhi4WihCUL6cHzL2Bm4f196dZCYsLtQCCUQfPrD13izYRPdjFf1V7AMb0ExBhHSl98l7YsfPA5uWx2JuyG13F0DFvQClwLp2CXHON67ZF1LA1g9Si42MEGCjgaIsMQjZamrNIvgYTL/w176-h320/Si%CC%81lvia%20Mota%20Lopes%20-%20Tu%CC%81nica%20I%CC%81ntima.png" title="Sílvia Mota Lopes - Túnica Íntima" width="176" /></a></i></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i><i>Sobre a autora</i>: Sílvia Mota Lopes (n. Braga, 1970), poeta, pintora, ilustradora, autora de literatura infantil e juvenil. Do seu currículo constam as seguintes obras: <i>Alícia no Bosque</i> (texto e ilustração), 2012; <i>Ser dia e Noite Ser</i> (texto), 2013; <i>A magia de Auris</i> (ilustração, texto de Patrice Pacheco), 2013; <i>Chegaste primeiro</i> (ilustração, texto de Carlos Nuno Granja), 2014; <i>É Aqui Que Ela Mora</i>, (texto), 2015; <i>O cavalinho que queria saber a que cheira a primavera</i>, (ilustração, texto de José Abílio Coelho), 2015, <i>Pássaro de Mil Cores</i> (ópera infantil, autora do libreto), 2016; <i>Esboço</i> (poesia), 2017, <i>Aqui há gato</i> (ilustração, texto de Lídia Borges), 2017, <i>Estrela Watoto</i> (ilustração, texto de Marta Marques), 2017; <i>Quando Somos Nuvens</i> (ilustração, texto de Fabíola Lopes), 2018; <i>Dar Corda às Palavras</i> (texto), 2018; <i>Passei Como Um Sussurro para que escutasses o Vento</i> (poesia), 2019; <i>Amor Puro</i> (ilustração, texto de Miguel Pires Cabral), 2020; <i>Não esqueças o meu nome</i> (ilustração, obra de Maria Isabel Fidalgo), 2022; <i>Contos para serem Contados</i>, (ilustração, texto de Rogério Pereira), 2022. Participou em diversas antologias poéticas.</i></span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://poeticalivros.com/products/tunica-intima" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>Túnica Íntima</i> de Sílvia Mota Lopes</a></span></p><div class="blogger-post-footer"><a href="http://feeds2.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml"><img src="http://www.feedburner.com/fb/images/pub/feed-icon32x32.png" alt="" style="border:0"/></a><a href="http://feeds.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml">Subscribe in a reader</a></div>Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38645424.post-1403212804774182042024-02-10T12:18:00.001-03:002024-02-10T12:18:57.461-03:00Elieni Caputo - As coisas de verdade habitam as pedras<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJv_Bm1kFM588Iv4frS1wURCpILaQVq1RaOhIaCI4cLOvbGrbORozcbc-lTmeppe5Cx3eKVnBZBa-z16u13ZpnRWDwJ9fmPK1vutLpJbjbbb_GkHQHQyIGOjlY-JSHtUwiFLpBEpf9hPX8rvOWC5bNUS5CwhsMXyJ4oxOVvIsPKLZz33WNX96U/s800/Elieni%20Caputo%20-%20As%20coisas%20de%20verdade%20habitam%20as%20pedras_A.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJv_Bm1kFM588Iv4frS1wURCpILaQVq1RaOhIaCI4cLOvbGrbORozcbc-lTmeppe5Cx3eKVnBZBa-z16u13ZpnRWDwJ9fmPK1vutLpJbjbbb_GkHQHQyIGOjlY-JSHtUwiFLpBEpf9hPX8rvOWC5bNUS5CwhsMXyJ4oxOVvIsPKLZz33WNX96U/w640-h480/Elieni%20Caputo%20-%20As%20coisas%20de%20verdade%20habitam%20as%20pedras_A.jpg" title="Elieni Caputo - As coisas de verdade habitam as pedras" width="640" /></a></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Elieni Caputo - As coisas de verdade habitam as pedras - Editacuja Editora - 60 Páginas - Arte de capa e miolo de Fabiana Carelli - Lançamento: 2023.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Após o corajoso exercício de autoficção e ensaio sobre o tratamento psiquiátrico em nosso país apresentado em <i><a href="https://www.mundodek.com/2023/02/elieni-caputo-laco-de-fita.html" target="_blank">Laço de Fita</a></i>, o mais recente lançamento de Elieni Caputo – que chamaremos também de romance na falta de uma definição melhor – é uma obra de caráter experimental com base na alternância das vozes narrativas de dois personagens, como em <i>Um sopro de vida</i> de Clarice Lispector. Neste livro, Elieni parte da inusitada estrutura de diálogo entre uma princesa e um sapo para abordar as suas próprias reflexões existenciais em uma prosa com sabor de poesia e que, no final, funciona como um surpreendente fluxo de consciência.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Para entender as tais coisas de verdade que habitam as pedras e que a autora tenta descrever, precisamos deixar um pouco de lado a objetividade e as convicções do cotidiano, compartilhar o estado de sonho proposto no livro e ocupar um</span><span style="font-family: arial;"> improvável </span><span style="font-family: arial;">espaço entre o consciente e o inconsciente: </span><i style="font-family: arial;">"Não sou preenchida porque guardo sonhos em mim e eles não têm solidez. Sou assim vazia de sentido. A realidade pesa, é cheia de certezas, e o mal se nutre das convicções. A dúvida é um cuidado com onde se pisa, é uma delicadeza ao se aproximar do outro e ao tocá-lo. Não me fira mais porque fui feita sem carapaça, careço da dureza que protege." </i></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Foi aos seis anos que descobri a eternidade. / A imagem era de um sapo engolido pela cobra: já tinha devorado quase metade do anfíbio, quase metade da parte traseira, o alimento ainda vivo. Mesmo com a metade dilacerada o sapo permanecia vivo, eu via pela cara com algum movimento, os olhos assim quase mortos, paralisados, mas ainda... vivos. / E descobri uma certa inutilidade minha pra salvar alguma coisa porque um ser nesse estado não podia ser salvo, então restava esperar a cobra engolir a outra metade e assim cessar a agonia... minha agonia porque o sapo parecia assim... paralisado, até sem dor, morto-vivo. / Resignado a ser engolido todo e assim virar a cobra de certa forma, assim virar a eternidade na pele da serpente. A fusão filogenética reptilanfíbio. Assim, uma espécie de ouroboros. O sapo em breve sem pele, em breve descarnado. E quando virasse cobra, descarnado periodicamente. / Sou periódica como a cobra. Me perdia inteira quando crescia, perdia a criança, só sobrou assim a cor dos olhos, até o cabelo mudou. / Perdi eu mesma várias vezes e ainda permaneço inteira. Seria isso certa dose de eternidade? / Talvez várias cobras tenham interceptado meu caminho, eu sequer tenha visto, eu paralisada diante da grandeza que me deglutia. Eu, a criança que já fora digerida, em breve a adulta consumida pelo sabe-se lá o quê,"</i> (p. 7) - Princesa</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">A solidão nos acompanha em boa parte da vida e também na morte, mas como ensina a autora: <i>"A certeza de ser só é o primeiro passo pra compartilhar a alegria, é estar consigo para poder estar com os outros e abraçar. O abraço, a primeira ponte. [...]"</i> A bem-cuidada edição do livro conta também com aquarelas de Fabiana Carelli e estruturas gráficas que complementam o texto da mesma forma como em uma publicação infantil, fazendo com que a assimilação dos temas abordados e a experiência de leitura se tornem um pouco mais leves.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"O sapo é um acaso da criação, é rocha provida de olhos, rocha cujo coração foi amolecendo de uma ternura feita de corpo e movimento. A ternura se transformou em salto, o sapo pula, é o instante e o momento. [...] O sapo é o alcance do cerne da existência na tonalidade da terra. Existir tem meu formato, cor e consistência. Ser sapo é pura presença. Revelei à menina o sentido da vida quando ela revirou uma pedra e me encontrou debaixo. A menina estranhou saber me diferenciar da pedra porque naquele instante éramos a mesma coisa, um encaixe perfeito, eu paralisado nem lembrava algo vivo. Naquele momento eu era o prenúncio do surgimento da vida na Terra, o inanimado de onde brotava uma anima ainda indiferenciada das coisas duras. Deixei a menina confusa."</i> (pp. 40-41) - Sapo</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiB8imtzXiNvMH8A9RopR9CFuWzSSBAC-LezwdBbftmXvmbN49CNmY_NlsQ8_zf5WMkjXdZ36it_JC6dryxzTCjatWtrICQzZEIs7WEM0zqbeHgtUWjqEGJx8NFytB3M83QdYWXaiVK5AyIR6uwBBBkn2lCFuJnCBTUULQaGBC099llORlJmLcb/s1223/Elieni%20Caputo%20-%20As%20coisas%20de%20verdade%20habitam%20as%20pedras.jpeg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="1223" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiB8imtzXiNvMH8A9RopR9CFuWzSSBAC-LezwdBbftmXvmbN49CNmY_NlsQ8_zf5WMkjXdZ36it_JC6dryxzTCjatWtrICQzZEIs7WEM0zqbeHgtUWjqEGJx8NFytB3M83QdYWXaiVK5AyIR6uwBBBkn2lCFuJnCBTUULQaGBC099llORlJmLcb/w283-h320/Elieni%20Caputo%20-%20As%20coisas%20de%20verdade%20habitam%20as%20pedras.jpeg" title="Elieni Caputo - As coisas de verdade habitam as pedras" width="283" /></a></i></span></div><span style="font-family: arial;"><div style="text-align: justify;"><i>Sobre a autora</i>: Elieni Caputo nasceu em 1981 e reside em São Paulo, capital. Graduada em Psicologia pela UFSCar e em Letras pela PUC-SP, é mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC, doutoranda em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa pela USP e membro do GENAM – Grupo de Estudos e Pesquisa em Literatura, Narrativa e Medicina. Publicou quatro livros: <i>Laço de fita</i> (Quixote +Do, 2022), <i>Violência e brevidade</i> (Penalux, 2020), <i>Casa de barro</i> (Patuá, 2018) e <i>Poema em pó</i> (7Letras, 2006). Seus poemas foram publicados em diversas revistas e coletâneas de concursos literários nacionais e portugueses.</div></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://editacuja.com.br/produto/as-coisas-de-verdade-habitam-as-pedras/" target="_blank">Clique aqui para comprar </a></span><a href="https://editacuja.com.br/produto/as-coisas-de-verdade-habitam-as-pedras/" target="_blank"><span style="font-family: arial;"><i>As coisas de verdade habitam as pedras</i> de </span><span style="font-family: arial;">Elieni Caputo</span></a></p><div class="blogger-post-footer"><a href="http://feeds2.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml"><img src="http://www.feedburner.com/fb/images/pub/feed-icon32x32.png" alt="" style="border:0"/></a><a href="http://feeds.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml">Subscribe in a reader</a></div>Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38645424.post-29615576206806459962024-02-03T09:34:00.001-03:002024-02-03T09:34:49.610-03:00Sonia Sant'Anna - Barões e escravos do café<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikeu2ODePtV2xlum0qnPQ6IRitaD6R39DytJmBOyLkB28rVAOzIM8yDhB4d2-pJRP_fcjgG-BaB00SoRmRx_K8SRCqRiJyTpAt-aI-022Z4eQoWPUT4O7aY9eCeOSMUCb7Za9_UZfdCnHEsFK97wij1PY79eahGG4YPsMAePGf5xxW02HnicI2/s800/Sonia%20SantAnna%20-%20Baro%CC%83es%20e%20escravos%20do%20cafe%CC%81_A.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Romance histórico" border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikeu2ODePtV2xlum0qnPQ6IRitaD6R39DytJmBOyLkB28rVAOzIM8yDhB4d2-pJRP_fcjgG-BaB00SoRmRx_K8SRCqRiJyTpAt-aI-022Z4eQoWPUT4O7aY9eCeOSMUCb7Za9_UZfdCnHEsFK97wij1PY79eahGG4YPsMAePGf5xxW02HnicI2/w640-h480/Sonia%20SantAnna%20-%20Baro%CC%83es%20e%20escravos%20do%20cafe%CC%81_A.jpg" title="Sonia Sant'Anna - Barões e escravos do café" width="640" /></a></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Sonia Sant'Anna - Barões e escravos do café - Uma história privada do Vale do Paraíba - Editora Ibis Libris - Lançamento: 2023.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span style="font-family: arial;">Um dos livros de maior sucesso na carreira de </span><span style="font-family: arial; text-align: center;">Sonia Sant'Anna, <i>Barões e escravos do café</i> é um </span>romance histórico lançado originalmente em 2001 pela Editora Zahar e republicado em 2023 pela Editora Ibis Libris. Ao longo de </span><span style="font-family: arial;">124 anos da história do Vale do Paraíba, descreve o desumano tráfico negreiro, a campanha abolicionista e o apogeu e a decadência dos barões do café. Personagens reais conduzem a narrativa, históricos ou não, como </span><span style="font-family: arial;">Mariana das Neves, quinta-avó da autora </span><span style="font-family: arial;">e seus descendentes, a africana Laura Conga, companheira do Barão do Tinguá por toda a vida, Tiradentes, o delator Silvério dos Reis, Duque de Caxias, Manoel Congo que liderou um levante de escravos, e os abolicionistas Joaquim Nabuco e Luiz Gama.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Fatos marcantes da época ocorrem paralelamente à trama, influindo na vida dos personagens, como a vinda da Corte portuguesa para o Brasil, a Independência e a Abdicação de Pedro I, o período da Regência, a Guerra do Paraguai e a Lei Áurea. No período entre 1800 e 1850, mais de 2 milhões de escravizados desembarcaram no Brasil para trabalharem, em sua maioria, nas lavouras de café. A expansão cafeeira acarretou o surgimento de grandes latifundios com base no regime escravista e os fazendeiros passaram a dominar o cenário político e econômico do Brasil, adotando uma posição de enfrentamento à repressão inglesa ao tráfico negreiro.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Quando a velha criada índia avisou que sinhozinho Pedro vivia rondando a ajudante da cozinha, Dona Mariana se deu conta de que a africana se havia tornado mulher, e mulher bonita. Deu-se conta também de que o ventre de Laura estava crescido. / Esses casos se resolviam tirando a escrava do serviço doméstico e enviando-a de volta à senzala. Lá criaria seu filho, do qual a avó seria a madrinha, concedendo-lhe a alforria. Adulto, seria um empregado de confiança, com privilégios especiais; se fosse mulher, lhe arranjariam casamento com algum roceiro livre e decente. Isso entre a gente de bem. Em outras famílias, a negra, depois de severamente castigada, era vendida para bem longe, levando consigo o mulatinho por nascer. Ou, se o pai da criança fosse casado e a sinhá uma mulher ciumenta, esta esperaria uma ausência do marido para se vingar da rival, em geral desfigurando-lhe o rosto para que sua feiura, dali por diante, não representasse perigo para a dona da casa."</i> (pp. 13-4)</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">A produção cafeeira gerou uma extraordinária riqueza para os fazendeiros fluminenses que souberam aproveitá-la, construindo suas casas como palácios rurais e mantendo um estilo de vida requintado. Por outro lado, a vida na senzala sujeitava os escravos a castigos cruéis e condições desumanas que não foram devidamente registradas na história, como bem destacado pela autora: <i>"A história pessoal dos escravos não foi registrada, ninguém anotou suas memórias, suas queixas, seus pensamentos. Seus nomes próprios aparecem apenas quando réus condenados à forca, às galés, aos açoites. Ou como objetos, em inventários, escrituras de compra e venda e anúncios em que se oferecem prêmios por sua captura."</i></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Antigas e respeitadas casas-grandes não eram julgadas à altura de seus proprietários. Uma febre de reformas e construções tomou conta do Vale. Nos salões, o velho mobiliário, em que a utilidade e não o adorno tinha sido a única preocupação, misturava-se a sofás estofados em brocados e a bibelôs de porcelana. Ocupando a parede principal da sala de jantar, sobre o bufê de jacarandá, os donos da casa, de uma tela emoldurada em dourado, sorriam benevolamente para o mundo ao redor. Pintores espertos descobriram o filão. Alguns, mais espertos ainda, já traziam consigo telas semiprontas, em que um senhor e uma senhora, em trajes de gala, sem as respectivas cabeças, esperavam apenas que algum casal posasse, para que fossem concluídas. Assim não se perdia tempo."</i> (p. 73)</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O livro é apresentado em uma bem-cuidada edição, incluindo notas de rodapé que esclarecem o contexto histórico, resumo dos personagens e extensa bibliografia, além de fotos e litografias de época. Um registro importante do Brasil no século XIX, desde a Independência até a Abolição, podendo ser utilizado nas escolas ou apreciado como literatura. Contudo, o ponto mais importante é o resgate de uma história em que sacrificamos homens, mulheres e crianças negras e, mesmo quando foi concedida a liberdade, não houve preocupação com o futuro, sem instrução ou profissão tornaram-se miseráveis nos grandes centros urbanos, originando a desigualdade social que persiste até hoje em nosso país com base no racismo estrutural.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Café e açucar eram os principais produtos brasileiros de exportação. Agricultores não podiam ser contrariados – o tráfico, mesmo declarado ilegal, aumentou, só findando em 1850. Então para que hostilizar os latifundiários abolindo, de uma só vez, a escravidão, se esta acabaria, sem o tráfico, poe se extinguir naturalmente? / Não só os latifundiários, porém, eram favoráveis à manutenção do sistema. O trabalho, no Brasil, da lavoura à manufatura, dos serviços domésticos à construção de obras públicas, se fundava inteiramente no braço escravo. Cativos alugados a terceiros como carregadores, amas de leite, marceneiros, eram a fonte de renda de muitas famílias. Os chamados negros de ganho – doceiras, barbeiros – saíam às ruas buscando o sustento dos seus senhores. Pretos forros seguiam o exemplo e economizavam o necessário, para, como prova do seu novo status de homens livres, comprar um escravo, que, posto a trabalhar a aluguel, os liberasse de trabalhos braçais. Até donos de bordéis se aproveitavam do regime, comprando para seus estabelecimentos mulatas jovens e bonitas."</i> (pp. 95-6)</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; font-style: italic; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8nizpSL4uDMs6LLb3YxCWz812UK3sRgZ2Naidxi66b5jSKF5HiXb691jsSS6SpVGYW5Ozcnc21vt2-pFDuYMsjIZ8Nsq8x1dMFOo-3WC_Zr2nrNJ7PJKzjrcQ929CijnMSSDkKFy3CmY0VYgNXlbG19TrxiBqaCjJt9LAYELcl7TuJwTdjoT7/s1500/Sonia%20SantAnna%20-%20Baro%CC%83es%20e%20Escravos%20do%20Cafe%CC%81.jpeg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Romance histórico" border="0" data-original-height="1500" data-original-width="1000" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8nizpSL4uDMs6LLb3YxCWz812UK3sRgZ2Naidxi66b5jSKF5HiXb691jsSS6SpVGYW5Ozcnc21vt2-pFDuYMsjIZ8Nsq8x1dMFOo-3WC_Zr2nrNJ7PJKzjrcQ929CijnMSSDkKFy3CmY0VYgNXlbG19TrxiBqaCjJt9LAYELcl7TuJwTdjoT7/w213-h320/Sonia%20SantAnna%20-%20Baro%CC%83es%20e%20Escravos%20do%20Cafe%CC%81.jpeg" title="Sonia Sant'Anna - Barões e escravos do café" width="213" /></a></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span style="font-family: arial;"><i style="font-style: italic;">Sobre a autora</i><i>: </i>Sonia Sant'Anna nasceu em Goiás, em 1938, e pertence a uma família de escritores. Iniciou na PUC, RJ, o curso de Letras, que concluiu em Belo Horizonte, MG. Viveu em diversas cidades no Brasil e no exterior, mas a maior parte de sua vida se passou no Rio de Janeiro. Vive atualmente em Belo Horizonte. Desde a infância desejava escrever, mas sua primeira profissão foi a de artesã joalheira, que aprendeu no atelier de Caio Mourão, o criador da joia moderna brasileira. Apreciadora de História, seus livros já publicados pertencem ao gênero romance histórico: <i>Inconfidências Mineiras – uma história privada da Inconfidência</i> (2004); <i>Barões e Escravos do Café – uma história privada do Vale do Paraíba</i> (2001); <i>Leopoldina e Pedro I – a vida privada na corte</i> (2004). Todos três pela Zahar. <i>Memórias de um Bandeirante</i> (2001), Editora Global. E <i>Degredado em Santa Cruz</i> (2009), pela Editora FTD. </span><i>Barões e Escravos do Café</i> e <i>Leopoldina e Pedro I </i>foram republicados pela Ibis Libris. Em 2021, lançou <i><a href="https://www.mundodek.com/2021/05/sonia-santanna-rondo.html" target="_blank">Rondó</a></i>, com dezoito contos e uma novela de cunho autobiográfico.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/3umCW6T" target="_blank">Clique aqui para comprar </a></span><a href="https://amzn.to/3umCW6T" target="_blank"><span style="font-family: arial;"><i>Barões e escravos do café</i> de </span><span style="font-family: arial;">Sonia Sant'Anna</span></a></p><div class="blogger-post-footer"><a href="http://feeds2.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml"><img src="http://www.feedburner.com/fb/images/pub/feed-icon32x32.png" alt="" style="border:0"/></a><a href="http://feeds.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml">Subscribe in a reader</a></div>Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-38645424.post-27687729343255849312024-01-28T19:25:00.002-03:002024-01-28T19:25:52.937-03:00Olga Tokarczuk - Sobre os ossos dos mortos<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0p0-JW6Hb_-o36hbaZ8mZmfwt7GD3R09XqEBNnaQLjnGY75xqsNjOkxwTpupR6cyyQx80IThTK9Skax9eK-0drnUKJcZvTAiOnKeMDIf6jlJh4RX5MXPRI03UXEFa_ISFnbvUEctAEQZEmDN4M4RNasXBPmRv4cfgAV4OJuabeLfDP49dd_DO/s800/Olga%20Tokarczuk%20-%20Sobre%20os%20ossos%20dos%20mortos_C.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura polonesa contemporânea" border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0p0-JW6Hb_-o36hbaZ8mZmfwt7GD3R09XqEBNnaQLjnGY75xqsNjOkxwTpupR6cyyQx80IThTK9Skax9eK-0drnUKJcZvTAiOnKeMDIf6jlJh4RX5MXPRI03UXEFa_ISFnbvUEctAEQZEmDN4M4RNasXBPmRv4cfgAV4OJuabeLfDP49dd_DO/w640-h480/Olga%20Tokarczuk%20-%20Sobre%20os%20ossos%20dos%20mortos_C.jpg" title="Olga Tokarczuk - Sobre os ossos dos mortos" width="640" /></a></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Olga Tokarczuk - Sobre os ossos dos mortos - Editora Todavia - 256 Páginas - Tradução de Olga Baginska-Shinzato - Capa: Flávia Castanheira - Ilustração de capa: Talita Hoffmann - Lançamento: 2019.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">A polonesa Olga Tokarczuk foi a vencedora do Man Booker International Prize versão 2018 com o romance <i>Flights</i>, lançado no Brasil em 2014 como <i>Os Vagantes</i> pela Editora Tinta Negra e, no mesmo ano (concedido em 2019), levou o Prêmio Nobel de Literatura pelo conjunto da obra. Como era de se esperar nesses casos, a autora, pouco conhecida em nosso país na época, recebeu grande atenção da mídia e lançamentos em tradução direta do polonês, publicados pela Editora Todavia: <i>Sobre os ossos dos mortos</i> (2019), <i>A alma perdida</i> (2020), <i>Correntes</i> (2021), <i>Escrever é muito perigoso: Ensaios e conferências</i> (2023) e <i>Um senhor notável </i>(2023).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Sobre os ossos dos mortos</i> é um inusitado romance policial ambientado em uma remota região da Polônia, fronteira com a República Tcheca, onde Janina Dusheiko, engenheira aposentada e professora de inglês, trabalha como caseira de algumas propriedades no inverno, quando os poucos moradores da localidade se mudam para a cidade. Ela tem obessão pela preparação de mapas astrológicos e a tradução de poemas de William Blake, além de proteger os animais ameaçados pelos caçadores ilegais. Na verdade, a sua postura extremada na defesa dos animais sivestres e da natureza faz com que seja considerada uma velha excêntrica no local.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Era difícil conversar com Esquisito. Ele falava muito pouco, e se não podíamos trocar ideias, era preciso ficar em silêncio. É difícil conversar com certas pessoas, particularmente homens. Tenho uma teoria a respeito disso. A partir de certa idade, muitos homens desenvolvem autismo de testosterona, que se manifesta lentamente como uma deficiência de inteligência social e da habilidade de comunicação interpessoal que compromete a formulação de ideias. Um ser humano atacado por essa moléstia torna-se taciturno e parece imerso em seus pensamentos. Mostra-se mais interessado pelas diferentes ferramentas e maquinarias. Sente-se atraído pela Segunda Guerra Mundial e por biografias de pessoas famosas, geralmente de políticos e malfeitores. Sua capacidade de ler romances desaparece quase por completo, pois o autismo de testosterona interfere no seu entendimento psicológico dos personagens. Acho que Esquisito sofria dessa moléstia."</i> (p. 28)</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Uma série de assassinatos tem início quando um dos vizinhos de Janaína, chamado por ela de Pé Grande, membro do clube de caça local, aparece morto em condições estranhas. A narrativa é conduzida em primeira pessoa pela protagonista o que nos permite acompanhar de perto os seus conceitos: <i>"Passou, então, pela minha cabeça a ideia de que a morte de Pé Grande poderia ser considerada, de alguma forma, algo bom, pois o libertou da bagunça que era a sua vida. E libertou outros seres vivos dele. Eis que, repentinamente, me dei conta dos benefícios da morte e de como ela era justa, à semelhança de um desinfetante ou de um aspirador. [...]"</i></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"A escritora costumava vir em maio, num carro carregado até o teto de livros e comida exótica. Eu ajudava a descarregá-lo porque ela sofria com dores nas costas. Usava um colar cervical: parece ter sofrido um acidente no passado. Ou talvez tenha ficado mal da coluna de tanto escrever. Lembrava um sobrevivente de Pompeia – como se estivesse coberta de cinzas. Seu rosto era cinzento; até mesmo os lábios e os olhos eram cinza. Prendia os longos cabelos com um elástico e fazia um pequeno coque no topo da cabeça. Se eu a conhecesse um pouco menos, certamente leria seus livros. Mas, por conhecê-la tinha medo de os ler. Era possível que eu me achasse neles, descrita de uma forma que não conseguiria entender? Ou os lugares que amo seriam completamente diferentes do que são para mim? De alguma forma as pessoas como ela, que dominam a escrita, costumam ser perigosas. Logo, levantam suspeitas de falsidade – que não são elas mesmas, mas um olho que está sempre observando, e tranformando em frases tudo o que observa; assim retira da realidade a sua qualidade mais importante – sua inexpressividade."</i> (p. 54)</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">De fato, a defesa intransigente da natureza pela protagonista e a sua teoria sobre a elucidação dos assasinatos que, segundo ela, seriam obra da vingança dos animais, fazem com que o próprio leitor considere a possibilidade de sua insanidade. Ela tem poucos amigos, um vizinho também idoso chamado por ela de Esquisito e dois amigos jovens (Dísio, um ex-aluno e Boas Novas, uma vendedora local). </span><span style="font-family: arial; text-align: center;">Olga Tokarczuk é uma autora que reflete na sua obra um extremo engajamento político que, neste livro, está expresso na defesa da causa ambiental e direitos dos animais, uma defesa que assume, algumas vezes, uma postura subversiva e radical.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"– Vejam só como funcionam esses púlpitos. É diabólico, precisamos chamar as coisas pelo nome. É um mal pérfido e sofisticado construir cochos, colocar lá maçãs frescas e trigo para atrair os animais e, depois que se acostumam e ficam mansos, atirar na cabeça deles de um esconderijo, de um 'púlpito' – comecei a falar em voz baixa, com o olhar fixo no chão. eu podia sentir que eles me olhavam inquietos enquanto se dedicavam a seus afazeres – Queria conhecer a escrita dos animais – continuei –, os sinais com os quais pudesse escrever avisos para eles: 'Não se aproximem deste lugar', 'Este alimento é letal', 'Fiquem longe dos púlpitos, de lá vocês não ouvirão ninguém pregar o Evangelho, tampouco virá uma boa palavra, não lhes prometerão salvação depois da morte, não se compadecerão de sua pobre alma, pois eles dizem que vocês não possuem alma. Não verão em vocês um próximo, não lhes abençoarão. O pior dos criminosos possui uma alma, mas não você bela corça, nem você, javali, nem sequer você, ganso selvagem, tampouco você, porco, ou você, cão'. O ato de matar se tornou impune. E por ser impune, ninguém o percebe mais. E já que ninguém percebe, não existe. [...]"</i> (p. 102)</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgU7uDmIKswgZxHc8e35eEYy56tZ9UL4sCslwXyqiz4YMddy-PBDzbI2UC6ZCfQrxg_rusM03lTV9PNuWkoTA5xEkXIL-hfJZ5B-CpFjEj9QceS-2ZRP-PDxLnLC7-IxnJ-fEXIKlL5GOERfhla0506naH-dZ7VglHwph_4SlzdQN2V61jq6Pmo/s1500/Olga%20Tokarcczuk%20-%20Sobre%20os%20ossos%20dos%20mortos.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura polonesa contemporânea" border="0" data-original-height="1500" data-original-width="988" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgU7uDmIKswgZxHc8e35eEYy56tZ9UL4sCslwXyqiz4YMddy-PBDzbI2UC6ZCfQrxg_rusM03lTV9PNuWkoTA5xEkXIL-hfJZ5B-CpFjEj9QceS-2ZRP-PDxLnLC7-IxnJ-fEXIKlL5GOERfhla0506naH-dZ7VglHwph_4SlzdQN2V61jq6Pmo/w211-h320/Olga%20Tokarcczuk%20-%20Sobre%20os%20ossos%20dos%20mortos.jpg" title="Olga Tokarczuk - Sobre os ossos dos mortos" width="211" /></a></i></span></div><span style="font-family: arial;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Sobre a autora</i>: Vencedora do Prêmio Nobel de Literatura 2018, </span><span style="font-family: arial; text-align: center;">Olga Tokarczuk é o nome mais conhecido da literatura polonesa contemporânea. Suas obras já ganharam as principais distinções de seu país e alguns dos mais importantes prêmios de tradução na língua inglesa (Man Booker Prize), além de edições na França, na Itália, na Espanha e na Alemanha. Nascida em 1962, e autora de roteiros e dezenas de livros, é uma voz dissonante da atual política repressiva dos países do Leste Europeu.</span></div></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/3vVbfmc" target="_blank">Clique aqui para comprar </a></span><a href="https://amzn.to/3vVbfmc" target="_blank"><span style="font-family: arial; text-align: center;"><i>Sobre os ossos dos mortos</i> de </span><span style="font-family: arial; text-align: center;">Olga Tokarczuk</span></a></p><div class="blogger-post-footer"><a href="http://feeds2.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml"><img src="http://www.feedburner.com/fb/images/pub/feed-icon32x32.png" alt="" style="border:0"/></a><a href="http://feeds.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml">Subscribe in a reader</a></div>Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38645424.post-37302318788195816392024-01-21T16:34:00.006-03:002024-01-26T17:36:00.398-03:00Micheliny Verunschk - Caminhando com os mortos<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisfE0xUBz3PDxmmHS-lNLGV8OUQa30KpdeCrB1Q3dv3sDKGv2s-FGZ-ohy2Z-2_1yl1-ninXYI5xYd6nmhL8JiN4AJrwRsYF9R8vwoEi90r3IGJLET1odeCVlQiGgNBVzjFKXYEWqhSwvINOoewURN3W9wAVwwEiR6ReCsHvkB954gxlnjJIh4/s900/Micheliny%20Verunschk%20-%20Caminhando%20com%20os%20mortos.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="600" data-original-width="900" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisfE0xUBz3PDxmmHS-lNLGV8OUQa30KpdeCrB1Q3dv3sDKGv2s-FGZ-ohy2Z-2_1yl1-ninXYI5xYd6nmhL8JiN4AJrwRsYF9R8vwoEi90r3IGJLET1odeCVlQiGgNBVzjFKXYEWqhSwvINOoewURN3W9wAVwwEiR6ReCsHvkB954gxlnjJIh4/w640-h426/Micheliny%20Verunschk%20-%20Caminhando%20com%20os%20mortos.jpg" title="Micheliny Verunschk - Caminhando com os mortos" width="640" /></a></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Micheliny Verunschk - Caminhando com os mortos - Companhia das Letras - 144 Páginas - Capa: Alceu Chiesorin Nunes - Imagem de capa: <i>Jurema Preta visita Satanás</i> de Stephan Doitschinoff - Lançamento: 2023.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Ao descrever as consequências da intolerância religiosa, </span><span style="font-family: arial; text-align: center;">Micheliny Verunschk, em seu mais recente romance, me faz refletir sobre o filósofo Baruch de Espinosa (1632-1677), crítico do modelo de religião na qual Deus é um ser colérico ao qual se deve prestar culto para que seja sempre benéfico, originando também intermediários e intérpretes da Sua vontade, capazes de oficiar os cultos, profetizar eventos e invocar milagres. O conceito de Espinosa de um Deus Natureza em oposição ao Deus humanizado das religiões parece ainda mais necessário principalmente em regiões do interior do Brasil, assoladas pela pobreza e ignorância. A população, sem assistência do Estado, torna-se uma </span><span style="font-family: arial; text-align: center;">presa fácil para pastores inescrupulosos. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; text-align: center;">De fato, me ocorre uma citação de outro famoso filósofo, Blaise Pascal (1623-1662), que definiu bem uma das questões deste livro: <i>"Os homens nunca fazem o mal tão plenamente e com tanto entusiasmo como quando o fazem por convicção religiosa"</i>. Esta é a chave que a autora utiliza para demonstrar a violência contra as mulheres e minorias com base no fanatismo religioso. No romance de Micheliny, a jovem Celeste é queimada viva, tal qual uma bruxa na idade média. Lourença e Ismênio, os pais, acreditavam que o ritual iria purificar a filha de seus pecados, nas palavras de Ismênio ao delegado: <i>"Não era pra matar, não, doutor. Não era. O pregador disse que quando se fazia a purificação o Inimigo ia embora, mas a pessoa permanecia. [...]"</i>.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Não foi minha filha que eu matei, não, doutor. O que eu fiz foi outra coisa. Eu não matei. A menina vai se levantar. O senhor vai testemunhar esse milagre da salvação. No terceiro dia. O senhor vai ver, ela vai fazer a sua páscoa e vai voltar pela graça de Deus. Matar Letinha? Matei, não, senhor. Jamais. O verdadeiro crente expulsa o espírito maligno, o senhor sabe o que é isso? O senhor sabe, eu sei que o senhor sabe. O senhor já viu o espírito maligno? Já percebeu como ele age? É esperto, manhoso, ele. Anda pelo mundo espalhando malícia e falsidade. É feio. É torto. É o pai de toda mentira. Mas Deus não quer o pecado."</i> (pp. 19-20) </span><span style="font-family: arial;">- Depoimento de Lourença</span></blockquote><span style="font-family: arial;"></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O romance transmite uma atmosfera fantástica devido à prosa forte e poética da autora com características comuns a uma distopia, </span><span style="font-family: arial;">mas infelizmente reflete a violência diária de um país que cada vez mais evitamos reconhecer. </span><span style="font-family: arial;">Lourença carrega o trauma da morte acidental da primeira filha, Quitéria, como santa Quitéria de Brácara Augusta, a virgem que, segundo a tradição, após ter a cabeça decepada, a tomou em suas mãos e caminhou até a cidade vizinha onde caiu e foi sepultada. A pequena Quiterinha, ainda neném, teve um destino pior, encontrada desacordada em meio a uma poça de sangue, atacada por uma porca de um morador vizinho.</span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"O doutor deve saber que na casa de um justo de Cristo reina a ordem, a limpeza e os ensinamentos da santa Bíblia, do profeta e do pai espiritual, que é representado pelo pregador. Quem sou eu pra lhe ensinar isso? O senhor sabe bem. Mas o que quero é mostrar pro senhor que a gente fez tudo certinho. E que assim era lá em casa desde que Lourença se converteu e depois eu e os meninos. Todos os dias, depois da oração da tarde, eu desligava a caixa de luz pra mente não se distrair em pecado. Mas não é todo justo que faz isso, só os mais fervorosos. O pregador contava pra gente dos bons exemplos que ele já havia presenciado pelo mundo. E desde que ele me ajudou a largar o vício que fiz essa promessa, de ser um crente fiel, de valor. Um justo verdadeiro. Foi ele quem me ensinou a falar bem. O senhor viu como sei explicar tudinho? Só que pra Letinha isso não bastava."</i> (pp. 50-51) - Depoimento de Ismênio</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">A narrativa avança com base nos fragmentos de depoimentos da família e vizinhos, cabendo a responsabilidade de conectar os diferentes pontos de vista desta tragédia anunciada a uma personagem não nomeada, a perita, ela própria que confessa ter mais facilidade em afundar os dedos nas feridas e orifícios dos cadáveres do que lidar com a confusão dos vivos. No entanto, outras cenas de violência local e a morte de um antigo amigo fazem com que ela enfrente uma crise existencial. O seu sentimento confuso de ódio e pena diante da mãe assassina, demonstra bem a dificuldade de separar os vilões das vítimas nesta história, principalmente quando Lourença não resiste à tortura dos interrogatórios e tem uma parada cardiorrespiratória na cela.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Dos três presos nessa maldita ocorrência, a mulher é quem me inspira sentimentos que eu gostaria de soterrar. Quando alguém muito querido morre, é como se não houvesse mais nenhum lugar seguro no mundo. Onde quer que se esteja, ela, a morte, irá buscar você, esmiuçando pistas e sinais de sua presença no mundo, inquirindo presente, passado e futuro, revirando você nas lembranças dos amigos, farejando sua passagem em lugares de afeto, apreendendo o som da sua voz, os cheiros que você exala, o jeito como o seu corpo se enrosca quando dorme ou transa, os intervalos entre a respiração e a risada, as marcas dos seus dedos em papéis, corpos, alimentos, objetos variados. De posse de absolutamente tudo sobre você, a morte enfim acaba te pegando. E é esse o seu encargo e, por mais que ela demore, você sabe que ela nunca deixa sua missão por terminar. Ou, então, a morte é uma semente que nasce dentro da gente e espera o tempo que for, o momento certo, para germinar."</i> (p. 97) - A perita</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"></span></div><span style="font-family: arial;"><div style="text-align: justify;"><i>Sobre a autora<i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYC4zq0wPorSEJ6NPWwgvFdOVYl6qv6XBktZ-yxGSzBiYsbM1qquyrWzo_pjKvlK7KweNxc_OJGVWFk3tfnSFk1C8DNEK_69A7douuWhVtps0kfbaMFW040qsQV5MOAAkogiby85jiuqmA_6kOjv2HXPyOvieUBuqoHOhk7eMB7oyuv_a3u8La/s1500/Micheliny%20Verunschk%20-%20Caminahndo%20com%20os%20mortps_Small.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="1500" data-original-width="1000" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYC4zq0wPorSEJ6NPWwgvFdOVYl6qv6XBktZ-yxGSzBiYsbM1qquyrWzo_pjKvlK7KweNxc_OJGVWFk3tfnSFk1C8DNEK_69A7douuWhVtps0kfbaMFW040qsQV5MOAAkogiby85jiuqmA_6kOjv2HXPyOvieUBuqoHOhk7eMB7oyuv_a3u8La/w213-h320/Micheliny%20Verunschk%20-%20Caminahndo%20com%20os%20mortps_Small.jpg" title="Micheliny Verunschk - Caminhando com os mortos" width="213" /></a></i></i>: <span style="text-align: center;">Micheliny Verunschk </span>nasceu em 1972, em Pernambuco. Escritora e historiadora, é autora de livros de contos, poesias e romances, incluindo <i>Nossa Teresa: vida e morte de uma santa suicida</i> (Patuá, 2014), ganhador do prêmio São Paulo de Literatura, e <i><a href="https://www.mundodek.com/2021/05/micheliny-verunschk-o-som-do-rugido-da.html" target="_blank">O som do rugido da onça</a></i> (Companhia das Letras, 2021), que conquistou o Jabuti de melhor romance literário em 2022 e o terceiro lugar do prêmio Oceanos.</div></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/3U67PqA" target="_blank">Clique aqui para comprar </a></span><a href="https://amzn.to/3U67PqA" target="_blank"><span style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;"><i>Caminhando com os mortos</i> de </span></span><span style="font-family: arial; text-align: left;">Micheliny Verunschk</span></a></p><div class="blogger-post-footer"><a href="http://feeds2.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml"><img src="http://www.feedburner.com/fb/images/pub/feed-icon32x32.png" alt="" style="border:0"/></a><a href="http://feeds.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml">Subscribe in a reader</a></div>Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-38645424.post-80268378452061376062024-01-06T11:23:00.002-03:002024-01-06T11:30:53.440-03:00Han Kang - A vegetariana<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxapXut8WYbohBVP2qbIi36oZIynmVieDHqkyc9DkG-cnTxKyNFXA2aaL-CBeKg2hQG0396pg2FOey_Y7rrn5D-QuL9tTiuX5obAyh8mjKmwAs6doxHnh5JFooKdwq5643L230ivEvfIWWNB7bNCoshvjJru75Qrvqr0MXED8z26HyNnP4sLL9/s800/Han%20Kang%20-%20A%20vegetariana_B.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura contemporânea sul-coreana" border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxapXut8WYbohBVP2qbIi36oZIynmVieDHqkyc9DkG-cnTxKyNFXA2aaL-CBeKg2hQG0396pg2FOey_Y7rrn5D-QuL9tTiuX5obAyh8mjKmwAs6doxHnh5JFooKdwq5643L230ivEvfIWWNB7bNCoshvjJru75Qrvqr0MXED8z26HyNnP4sLL9/w640-h480/Han%20Kang%20-%20A%20vegetariana_B.jpg" title="Han Kang - A vegetariana" width="640" /></a></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Han Kang - A vegetariana - Editora Todavia - 176 Páginas - Tradução de Jae Hyung Woo - Capa de Pedro Inoue - Lançamento no Brasil: 2018.</span></div><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Narrado a partir de três vozes com perspectivas totalmente diferentes, o poderoso romance da sul-coreana Han Kang, vencedor do Man Booker International Prize de 2016, que chegou a ter o seu estilo definido como kafkiano por boa parte da crítica mundial, descreve a perturbadora transformação de uma mulher comum não apenas devido à sua rejeição ao consumo de carne, mas também a todos os padrões esperados de comportamento social e familiar. Os efeitos desta lenta inadaptação e consequente desumanização, afetam não somente a protagonista, mas também os integrantes da sua família, particularmente o marido, o cunhado e a irmã mais velha, desencadeando assim uma série de eventos que irão destruir as relações familiares.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Para reforçar o efeito de distanciamento e inadaptação</span><span style="font-family: arial;">, não é concedida pela autora uma voz narrativa para a própria protagonista, tudo o que sabemos dela, além do nome, </span><span style="font-family: arial;">Yeonghye,</span><span style="font-family: arial;"> tem como base o ponto de vista dos outros personagens </span><span style="font-family: arial;">nos três longos capítulos que compõem o livro:</span><span style="font-family: arial;"> </span><i style="font-family: arial;">A vegetariana</i><span style="font-family: arial;">,</span><span style="font-family: arial;"> </span><i style="font-family: arial;">A mancha mongólica</i><span style="font-family: arial;"> </span><span style="font-family: arial;">e</span><span style="font-family: arial;"> </span><i style="font-family: arial;">Árvores em chamas</i><span style="font-family: arial;">. </span><span style="font-family: arial;">Por exemplo, a primeira parte é inteiramente narrado pelo marido – com exceção de trechos de sonhos de Yeonghye que originaram a sua decisão de não comer mais carne –, contando com naturalidade os detalhes de uma relação doentia e sem autoestima de ambas as partes: <i>"Acabei me casando porque ela não tinha nenhum charme especial, e também por não ter notado defeitos muito gritantes."</i></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Nunca tinha me ocorrido que minha esposa era uma pessoa especial até ela adotar o estilo de vida vegetariano. Para ser bem franco, não me senti atraído por ela na primeira vez em que a vi. Estatura mediana. O cabelo não era nem comprido nem curto. Tinha a pele levemente amarelada, as maçãs do rosto um pouco pronunciadas. Vestia-se de forma neutra, como se tivesse algum tipo de receio de se destacar. Calçando um par de sapatos pretos bastante sem graça, ela se aproximou da mesa em que eu a esperava. Não andava nem rápido nem devagar, sem firmeza, mas também sem muita fragilidade. / Acabei me casando porque ela não tinha nenhum charme especial, e também por não ter notado defeitos muito gritantes. Uma personalidade dessas, sem frescor brilhantismo ou refinamento, me deixava confortável. Não sentia necessidade de bancar o inteligente para conquistá-la e não precisava correr tentando não chegar atrasado aos nossos encontros. Tampouco sentia complexo de inferioridade ao me comparar com os típicos galãs dos catálogos de moda. Ganhei uma barriguinha já na segunda metade dos meus vinte anos. Meu corpo não desenvolvia massa magra nem mesmo com meus repetidos esforços de me exercitar. Até mesmo meu pênis pequeno, que costumava me deixar um tanto apreensivo, parou de me incomodar quando estava com ela."</i> (p. 9) - Trecho da primeira parte - <i>A vegetariana</i></span></blockquote><span style="font-family: arial;"><i></i></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Na segunda parte, a condução da narrativa é feita em terceira pessoa, mas sob o ponto de vista do cunhado de </span><span style="font-family: arial;">Yeonghye, um artista plástico dedicado à videoarte que se torna obcecado sexualmente pela cunhada depois de saber que ela ainda mantém uma marca de nascença típica de bebês, normalmente chamada de mancha mongólica e, aproveitando-se da sua condição fragilizada após isolar-se da família, a convence a participar de uma performance totalmente nua e com o corpo pintado por ele com motivos florais; a conclusão da primeira parte da filmagem o motiva a avançar para a conclusão do trabalho com um homem e uma mulher copulando com os corpos pintados de flores. A situação obviamente acaba fugindo de controle. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Passaram-se dois verões desde que a cunhada cortara os pulsos na casa deles. Foi no almoço de aniversário da sogra, estavam todos reunidos, pouco depois de terem se mudado para um apartamento maior. A família de sua esposa sempre gostou muito de carne, mas a irmã mais nova tinha virado vegetariana de uma hora para outra e isso deixou todos desconfortáveis, a começar por seu sogro. Sua cunhada estava tão fraca que dava pena, por isso era compreensível que a família a criticasse. Mas o sogro, um ex-combatente na Guerra do Vietnã, esbofeteou a filha e ainda a fez comer carne à força. Foi uma cena tão absurda que era difícil acreditar que tinha mesmo acontecido. / O mais nítido e espantoso em sua memória, no entanto, era o grito que a cunhada soltou na ocasião. Depois de cuspir a carne, ela empunhou a faca de cortar frutas e lançou um olhar feroz a todos os membros da família. Seus olhos estavam esbugalhados e pareciam os de um animal encurralado."</i> (pp. 66-7) - Trecho da segunda parte - <i>A mancha mongólica</i></span></blockquote><span style="font-family: arial;"><i></i></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Na terceira e última parte, internada em uma clínica psiquiátrica sob os cuidados da irmã mais velha, apesar do escândalo devido aos vídeos gravados pelo seu marido, praticamente se completa a transformação de </span><span style="font-family: arial;">Yeonghye – e, talvez venha daí, a comparação dos críticos com Kafka –, de animal para um ser vegetal que não se alimenta nem se comunica com as outras pessoas. De fato, o vegetarianismo nesta obra vai muito além da conhecida prática de alimentação saudável, muito pelo contrário. Com a evolução do isolamento de Yeonghye e o gradativo abandono de qualquer alimento, ela persiste em um caminho sem volta de libertação.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Agora ela visita a irmã todas as quartas-feiras para ver como ela evolui. Antes do desaparecimento de Yeonghye naquele dia chuvoso, ela fazia o trajeto uma vez por mês . Por aquele caminho , que ela percorria levando frutas, bolinhos de arroz, tofu recheado e coisas assim, raramente passavam pessoas ou carros, de modo que era muito silencioso. Quando enchia com comidas a mesa da sala de visitas, que ficava ao lado da seção administrativa, Yeonghye devorava tudo sem dizer nada, como se fosse uma criança fazendo a lição de casa. Passava a mão pelos cabelos da irmã pelos cabelos da irmã mais nova, colocando-os atrás da orelha, e Yeonghye levantava os olhos e chegava a esboçar um sorriso. Nesses momentos, até parecia estar curada. Será que não bastaria viver assim? Não seria possível que Yeonghye permanecesse ali, que falasse quando quisesse e não comesse carne , se não quisesse? Não seria suficiente que ela visitasse a irmã de vez em quando?"</i> (p. 122) - Trecho da terceira parte - <i>Árvores em chamas</i></span></blockquote><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilP5iqR49jTWtQHC_vsj16tO1PnkXpOo7cUy_LprgeFaUHpecxnfBgDCcavdMCQjHsyQM_pblWmyFkMbdZ9GYRJl9GJ-7dCkfkNh3vi7JKY9BHEMFkcxHEWuP22C2JLPcGjyG-QzS63jNVZsaddRi4g1B_pqLuhDGmIXnf7TjB3nphLT2nPlWJ/s1557/Han%20Kang%20-%20A%20vegetariana_A.jpeg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura contemporânea sul-coreana" border="0" data-original-height="1557" data-original-width="1024" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilP5iqR49jTWtQHC_vsj16tO1PnkXpOo7cUy_LprgeFaUHpecxnfBgDCcavdMCQjHsyQM_pblWmyFkMbdZ9GYRJl9GJ-7dCkfkNh3vi7JKY9BHEMFkcxHEWuP22C2JLPcGjyG-QzS63jNVZsaddRi4g1B_pqLuhDGmIXnf7TjB3nphLT2nPlWJ/w210-h320/Han%20Kang%20-%20A%20vegetariana_A.jpeg" title="Han Kang - A vegetariana" width="210" /></a></i></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i><i>Sobre a autora</i>: </i>Nascida na Coreia do Sul em 1970, Han Kang estudou literatura coreana na Universidade Yonsei. Tornou-se mundialmente conhecida após a publicação do seu romance <i>"A vegetariana"</i> em 2007, pelo qual, após sua tradução ao inglês, conquistou o Man Booker International Prize em 2016. Atualmente, Han Kang ensina escrita criativa no Universidade de Seul e escreve contos e novelas, além de realizar trabalhos de artes visuais.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/48AZY8k" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>A vegetariana</i> de Han Kang</a></span></p><div class="blogger-post-footer"><a href="http://feeds2.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml"><img src="http://www.feedburner.com/fb/images/pub/feed-icon32x32.png" alt="" style="border:0"/></a><a href="http://feeds.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml">Subscribe in a reader</a></div>Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38645424.post-11931794369504594672024-01-03T13:19:00.003-03:002024-01-03T14:39:36.980-03:00Haruki Murakami - Primeira pessoa do singular<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKVDNxWdjVR5Ixl38JZHVu6AOfmfKW6TSjEdttMDfu9kYWsmEFxyetn2USlTXj7oSruPyvAzVcaLeW-4m9l0oK9H1CAaz14_95WldavpHjrCqnyumOfUiOKkP8a5IQthyphenhyphenWKJvI4Bh-7umAftBzgM08SF8DPY-UrXQtY6hVzmNAXD-_-49gFkQL/s800/Haruki%20Murakami%20-%20Primeira%20pessoa%20do%20singular_B.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura japonesa contemporânea" border="0" data-original-height="800" data-original-width="800" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKVDNxWdjVR5Ixl38JZHVu6AOfmfKW6TSjEdttMDfu9kYWsmEFxyetn2USlTXj7oSruPyvAzVcaLeW-4m9l0oK9H1CAaz14_95WldavpHjrCqnyumOfUiOKkP8a5IQthyphenhyphenWKJvI4Bh-7umAftBzgM08SF8DPY-UrXQtY6hVzmNAXD-_-49gFkQL/w640-h640/Haruki%20Murakami%20-%20Primeira%20pessoa%20do%20singular_B.jpg" title="Haruki Murakami - Primeira pessoa do singular" width="640" /></a></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Haruki Murakami - Primeira pessoa do singular - Editora Alfaguara - 168 Páginas - Capa de Alceu Chiesorin Nunes - Imagem de capa: <i>My Tattoo</i>, de Lee Heinen - Lançamento: 2023.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O mais recente lançamento de um dos autores prediletos da casa é uma coletânea de oito contos conduzidos por um protagonista-narrador inspirado pelo próprio Haruki Murakami e suas memórias, nem sempre verdadeiras é claro, assim como as incursões ao universo fantástico e paralelo em meio às suas obsessões com o o jazz, a música clássica, os Beatles, beisebol e a cultura pop ocidental de uma forma geral. Desta vez temos poucas referências aos gatos, presença constante em outras obras, mas em contrapartida ganhamos a participação de um macaco falante e suas reminiscências em <i>A confissão do macaco de Shinagawa</i>, um inusitado personagem que rouba os nomes das mulheres pelas quais se apaixona, provocando uma inconveniente perda de identidade em suas vítimas, mais Murakami do que isso é impossível.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">A música, como não poderia deixar de ser, ocupa um papel central em algumas das narrativas como é o caso de </span><i style="font-family: arial;">Charlie Parker Plays Bossa Nova</i><span style="font-family: arial;">, inspirado em uma resenha supostamente escrita pelo próprio Murakami no início de sua carreira sobre um álbum fictício que continha preciosas gravações de Charlie "Bird" Parker juntamente com Tom Jobim, incluindo <i>Corcovado</i>, <i>Chega de Saudade</i> e outros sucessos da bossa nova. Já em <i>With the Beatles</i>, o famoso segundo álbum da banda está associado às lembranças de uma namorada do ensino médio e um dia em particular no qual o protagonista lê em voz alta um conto de Ryunosuke Akutagawa para o irmão dessa menina, enquanto a espera chegar na sua casa. Assim como outros contos de Murakami, o amor está sempre associado a um sentimento de inadaptação e melancolia.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"É óbvio que não existe nenhum álbum chamado 'Charlie Parker Plays Bossa Nova'. Charlie Parker faleceu no dia 12 de março de 1955, e foi só em 1962 que, graças às interpretações de artistas como Stan Getz, a bossa nova explodiu nos Estados Unidos. Mas... e se Bird ainda estivesse vivo na década de 1960? E se ele se interessasse pela bossa nova e resolvesse gravar algumas dessas canções? Foi pensando nesse cenário que escrevi essa crítica musical fictícia. [...] A primeira surpresa que o álbum nos traz é a maneira maravilhosa como o piano minimalista e simples de Jobim se combina ao fraseado eloquente e extravagante de Bird. Simplesmente indescritível. Alguém poderia argumentar que a voz de Jobim (e aqui estou falando apenas da voz do seu instrumento, pois ele não canta neste LP) e a de Bird são diferentes demais, têm estilos opostos, vão em direções contrárias. Sem dúvida, são duas vozes completamente distintas. Chega a ser difícil encontrar pontos em comum entre elas. E, além disso, nenhum dos dois parece fazer qualquer esforço para modificar sua performance e acompanhar o parceiro. Mas é precisamente desse desencontro, da fresta que separa as duas vozes, que brota a força vital capaz de criar uma música de beleza incomparável."</i> (pp. 40 e 43) - Trecho do conto <i>Charlie Parker Plays Bossa Nova</i></span></blockquote><span style="font-family: arial;"><i></i></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">A música clássica inspira o conto <i>Carnaval</i>, cujo título é uma referência a uma peça pouco conhecida de Schuman para piano, obsessão do protagonista e sua amiga, citada da maneira mais politicamente incorreta que se possa imaginar, sem qualquer eufemismo: <i>"De todas as mulheres que conheci até hoje, ela foi a mais feia. Não, talvez nao seja justo pôr desta maneira. Certamente houve muitas outras de aparência pior. Mas, entre as mulheres com quem tive contato mais próximo, as que fincaram raízes razoáveis no solo da minha memória, acho que não seria errado falar que ela foi a mais feia."</i> Na verdade, o autor deixa passar frequentemente algum tipo de misoginia, comum na sociedade patriarcal japonesa, seja pela falta de definição e complexidade psicológica de suas personagens ou até mesmo pelo comportamento simplista.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Ela era linda. Pelo menos aos meus olhos, naquele momento, pareceu incrivelmente bela. Não era muito alta. Tinha o cabelo longo e bem preto, as pernas esguias, e cheirava muito bem (quer dizer, talvez eu tenha inventado isso. Talvez ela não tivesse cheiro nenhum, mas foi o que me pareceu. Ao passar por ela, tive a impressão de sentir um perfume maravilhoso). Naquele momento, fui intensamente atraído por ela – por aquela menina linda cujo nome eu não sabia, com o LP 'With the Beatles' apertado contra o peito. / Meu coração disparou e não consegui respirar direito, os sons ficaram todos distantes, como se eu estivesse no fundo de uma piscina; eu só escutava bem ao longe o barulho de um guizo baixinho. Como se alguém estivesse tentando me transmitir uma mensagem crucial. Mas foi tudo muito rápido, coisa de dez ou quinze segundos. Um acontecimento súbito que, quando dei por mim, já havia terminado. E a mensagem preciosa que havia ali, como a essência de todos os sonhos, simplesmente desapareceu. Assim como costuma acontecer com a maioria das experiências preciosas da vida."</i> (p. 54) - Trecho do conto <i>With the Beatles</i></span></blockquote><span style="font-family: arial;"><i></i></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Os torcedores cariocas do Botafogo, assim como este resenhista que vos escreve, certamente se identificarão muito com o time de beisebol do coração de Murakami em Tóquio, os Yakult Swallows, uma equipe tradicional que desenvolveu ao longo do tempo uma relação conflituosa com a vitória, se podemos definir assim. Esse conto, assim como outros presentes no livro, mistura ficção e realidade pois tem como base um livro de poemas escritos pelo autor enquanto assistia aos jogos do Yakult Swallows, obra que nunca existiu, espécie de ode à filosofia de saber como perder bem: <i>"O jogo desta noite vai começar. Temos que rezar para que nosso time ganhe. E ao mesmo tempo, discretamente, nos preparar para a derrota."</i> </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Em 1978, quando eles ganharam o primeiro campeonato, eu morava em Sendagaya, a apenas dez minutos de caminhada do estádio. então, sempre que podia, ia ver os jogos. Naquele ano, o vigésimo nono desde seu estabelecimento, o Yakult Swallows (a essa altura eles já tinham mudado de nome) venceu o campeonato da Liga Central pela primeira vez, e no impulso conquistou ainda a Nippon Series. Foi realmente um milagre. E foi nesse mesmo ano, em que eu também estava com vinte e nove, que escrevi pela primeira vez uma obra literária. 'Ouça a canção do vento' ganhou o Prêmio Gunzo para novos autores, e desde então passei a ser chamado de escritor. Nada mais do que uma coincidência, é claro, mas não pude deixar de sentir que esses fatos nos conectavam, eu e o time. / Mas isso tudo aconteceu muito mais tarde. Nos dez anos que antecederam esse momento, entre 1968 e 1977, assisti a uma quantidade exorbitante, quase astronômica (pelo menos me pareceu assim), de derrotas. Em outras palavras, fui aclimatando meu organismo a esse mundo de 'perdemos mais uma vez'. Como um mergulhador acostuma o corpo, lenta e cuidadosamente, à pressão da água. É, na vida a gente perde mais do que ganha. E a verdadeira sabedoria não está em saber como vencer seu oponente, mas em saber como perder bem."</i> (pp. 93-4) - Trecho do conto <i>Coletânea de poemas Yakult Swallows</i></span></blockquote><span style="font-family: arial;"><i></i></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Mesmo que os contos não tenham a regularidade de outros livros de Haruki Murakami, alguns deles compensam a leitura, principalmente para os já iniciados no estranho universo paralelo do autor. Um lugar no qual pode acontecer um encontro no alto de uma montanha num domingo mágico de fim de outono e um idoso pedir para imaginar um círculo que tem muitos centros diferentes, mas sem circunferência. Uma tarefa difícil sem dúvida, porém <i>"existe alguma coisa neste mundo que valha a pena ter e que seja fácil de conseguir?"</i>, certamente que não.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlN67LNzAicfh9NABDSuLLdDIe_KJI8UCfrHjytnLystxfPxSesikR9RshE5oeytc83-Af5rlXu56r2kBw1vVRpiuwzUR0gFcOaETHxp3rm7Yktp9_Y0yv3jGfOAlRD_v6YtebrPypThJfsenfFX-BlW4yIwpnEaeQDvBqyIlCcrVB7ud-I3sW/s1500/Haruki%20Murakami%20-%20Primeira%20pessoa%20do%20singular.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura japonesa contemporânea" border="0" data-original-height="1500" data-original-width="962" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlN67LNzAicfh9NABDSuLLdDIe_KJI8UCfrHjytnLystxfPxSesikR9RshE5oeytc83-Af5rlXu56r2kBw1vVRpiuwzUR0gFcOaETHxp3rm7Yktp9_Y0yv3jGfOAlRD_v6YtebrPypThJfsenfFX-BlW4yIwpnEaeQDvBqyIlCcrVB7ud-I3sW/w205-h320/Haruki%20Murakami%20-%20Primeira%20pessoa%20do%20singular.jpg" title="Haruki Murakami - Primeira pessoa do singular" width="205" /></a></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Sobre o autor</i>: Haruki Murakami nasceu em Kyoto, no Japão, em janeiro de 1949. É considerado um dos autores mais importantes da atual literatura japonesa. Sua obra foi traduzida para mais de quarenta idiomas e recebeu importantes prêmios, como o Yomiuri e o Franz Kafka. O escritor vive atualmente nas proximidades de Tóquio. Outros livros do autor resenhados no Mundo de K: 1Q84 (<a href="https://www.mundodek.com/2013/01/haruki-murakami-1q84.html#.UPU1pWelBMs" target="_blank">Livro 1</a>, <a href="https://www.mundodek.com/2013/03/haruki-murakami-1q84-livro-2.html#.UtRvyvu7KH8" target="_blank">Livro 2</a>, <a href="https://www.mundodek.com/2014/01/haruki-murakami-1q84-livro-3.html#.WLQcuGQrIfE" target="_blank">Livro 3</a>), <a href="https://www.mundodek.com/2015/10/haruki-murakami-cacando-carneiros.html#.Vh_YCPlVhBc" target="_blank">Caçando carneiros</a>, <a href="https://www.mundodek.com/2017/12/haruki-murakami-cronica-do-passaro-de.html#.WlIzW7T81sM" target="_blank">Crônica do pássaro de corda</a>, <a href="https://www.mundodek.com/2016/01/haruki-murakami-homens-sem-mulheres.html#.VpZ71MArIfE" target="_blank">Homens sem mulheres</a>, <a href="https://www.mundodek.com/2012/01/haruki-murakami-minha-querida-sputnik.html#.UPU2B2elBMs" target="_blank">Minha querida Sputnik</a>, <a href="https://www.mundodek.com/2018/12/haruki-murakami-o-assassinato-do.html#.XHqFQs9KjVo" target="_blank">O assassinato do comendador</a>, <a href="https://www.mundodek.com/2015/07/haruki-murakami-o-incolor-tsukuro.html#.VbA2b2TBzGc" target="_blank">O incolor Tsukuro Tazaki e seus anos de peregrinação</a>, <a href="https://www.mundodek.com/2015/12/haruki-murakami-sono.html#.VoQhvberRpg" target="_blank">Sono</a>, <a href="https://www.mundodek.com/2021/05/haruki-murakami-sul-da-fronteira-oeste.html" target="_blank">Sul da fronteira, oeste do sol</a>, <a href="https://www.mundodek.com/2015/01/haruki-murakami-elephant-vanishes.html" target="_blank">The Elephant Vanishes</a>.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/48EXshG" target="_blank">Clique aqui para comprar </a></span><span style="font-family: arial;"><a href="https://amzn.to/48EXshG" target="_blank"><i>Primeira pessoa do singular</i> de Haruki Murakami</a></span></p><div class="blogger-post-footer"><a href="http://feeds2.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml"><img src="http://www.feedburner.com/fb/images/pub/feed-icon32x32.png" alt="" style="border:0"/></a><a href="http://feeds.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml">Subscribe in a reader</a></div>Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38645424.post-21037178192794886372023-12-27T16:14:00.054-03:002023-12-27T16:35:15.386-03:00Os melhores livros e resenhas de 2023<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQoQhe0e0lBbDV_rpepUrAZy9_nMgcxwOKWRFaWNbQXkmVALtRjowiYblj0-avfQNH-oFfA1HpUt3IubGN3h93afQgV6SSjsJGvY9mbXdza7h-HgiQgtlQHo_qKprlVS7LqmLWpIA_ZNpXspd0GFtKUJo1IRMzJF9LWCA6EApKuFZtihVqib_U/s800/Melhores%20livros%20e%20resenhas%20de%202023.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="blog Mundo de K" border="0" data-original-height="800" data-original-width="800" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQoQhe0e0lBbDV_rpepUrAZy9_nMgcxwOKWRFaWNbQXkmVALtRjowiYblj0-avfQNH-oFfA1HpUt3IubGN3h93afQgV6SSjsJGvY9mbXdza7h-HgiQgtlQHo_qKprlVS7LqmLWpIA_ZNpXspd0GFtKUJo1IRMzJF9LWCA6EApKuFZtihVqib_U/w640-h640/Melhores%20livros%20e%20resenhas%20de%202023.jpg" title="Melhores livros e resenhas de 2023" width="640" /></a></span></div><span style="font-family: arial;"><br /><div style="text-align: justify;">A lista reflete uma seleção das melhores resenhas publicadas no ano em ordem cronológica, como sempre com base apenas no meu gosto — sigam os links clicando no título dos livros para ler as resenhas completas. Desejo a todos um ótimo 2024 com muita literatura, cultura e arte em geral. Conto com a presença de vocês no Mundo de K!</div></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh02jLZd6H7D3OzRW6ahy4DTBmQ5AvaAtyTl3ejI_S8Ns33KmBzQc2jwiLBUq-TLXZRBi6VZD3VwCigK-43YIv_IwWvKUslgmA10iLHIMbDFHv7ePZ-NkssWvzvDb_IHOsWBwHDLzsRwfQLBTnKmecRCqopEf0X6hXAdDsWJkHTjyVYiMa56GsH/s2156/La%CC%81szlo%CC%81%20Krasznahorkai%20-%20Sa%CC%81ta%CC%81ntango%CC%81.jpeg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura húngara contemporânea" border="0" data-original-height="2156" data-original-width="1500" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh02jLZd6H7D3OzRW6ahy4DTBmQ5AvaAtyTl3ejI_S8Ns33KmBzQc2jwiLBUq-TLXZRBi6VZD3VwCigK-43YIv_IwWvKUslgmA10iLHIMbDFHv7ePZ-NkssWvzvDb_IHOsWBwHDLzsRwfQLBTnKmecRCqopEf0X6hXAdDsWJkHTjyVYiMa56GsH/w223-h320/La%CC%81szlo%CC%81%20Krasznahorkai%20-%20Sa%CC%81ta%CC%81ntango%CC%81.jpeg" title="László Krasznahorkai - Sátántangó" width="223" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(01) <a href="https://www.mundodek.com/2022/12/laszlo-krasznahorkai-satantango.html" target="_blank">László Krasznahorkai - Sátántangó</a> (resenha publicada em 31/12/2022)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Sátántangó</i> ou <i>Tango de Satã</i> na ótima tradução direta do húngaro de Paulo Schiller, é a obra de estreia e considerada a mais importante de László Krasznahorkai, um autor que ainda não havia sido publicado no Brasil, mesmo tendo sido vencedor do prestigiado Man Booker International Prize em 2015. O romance, lançado na Hungria em 1985, foi adaptado para o cinema pelo cineasta Béla Tarr em 1994 em uma produção em preto e branco de sete horas e meia de duração, o tempo que leva a leitura do livro, segundo Béla Tarr. Na verdade, <i>Sátántangó</i> demanda bem mais tempo do leitor. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Onde encontrar o livro: <a href="https://amzn.to/3GW3UVo" target="_blank">Clique aqui para comprar </a></span><i style="font-family: arial;"><a href="https://amzn.to/3GW3UVo" target="_blank">Sátántangó de László Krasznahorkai</a></i></p><p style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCEPL_GRAM7WXnm09SWUYHtz2xh_TIEveA2q2uyB8loEnrzC02WWNVxBzUAIvdQxzh4qTDM1vWiRiF8ojsaWLA_Nmntw-tK4kHz3oHtq_fHjW6oliZ6lBDMu7cJB2iMdBwhBjZxb-hbxo6KmkL1UZeHXVypB9DNUwwbDzAywpDewBzygDV1_VR/s900/Shirley%20Jackson%20-%20A%20loteria%20e%20outros%20contos.jpg" style="clear: left; display: inline; float: left; font-family: arial; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img alt="Literatura norte-americana contemporânea" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCEPL_GRAM7WXnm09SWUYHtz2xh_TIEveA2q2uyB8loEnrzC02WWNVxBzUAIvdQxzh4qTDM1vWiRiF8ojsaWLA_Nmntw-tK4kHz3oHtq_fHjW6oliZ6lBDMu7cJB2iMdBwhBjZxb-hbxo6KmkL1UZeHXVypB9DNUwwbDzAywpDewBzygDV1_VR/w213-h320/Shirley%20Jackson%20-%20A%20loteria%20e%20outros%20contos.jpg" title="Shirley Jackson - A loteria e outros contos" width="213" /></a></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">(02) </span><a href="https://www.mundodek.com/2023/01/shirley-jackson-loteria-e-outros-contos.html" style="font-family: arial;" target="_blank">Shirley Jackson - A loteria e outros contos</a><span style="font-family: arial;"> (resenha publicada em 14/01/2023)</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Apesar de ter escrito romances, livros de memória, novelas e narrativas curtas, a carreira de Shirley Jackson (1916-1965) ficou marcada – para o bem e para o mal, como ocorre geralmente nesses casos – por um único conto, A loteria, que consta obrigatoriamente em qualquer seleção de grandes contos norte-americanos do século XX, sendo considerado um marco moderno na literatura de terror e influenciado alguns famosos autores contemporâneos do gênero. A narrativa, publicada originalmente em 1948 pela New Yorker, descreve uma estranha tradição anual em uma pequena comunidade fictícia no interior dos Estados Unidos.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/47jXhqO" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>A loteria e outros contos</i> de Shirley Jackson</a></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgH0fyn8tkL1vlPE9gHIGRTsa0L5nLVKYVseQ0d7LEFJoM78GZBzDuhFBFfH0ew7jeE9AEDUsuGBESHdDrUGsGWup3EyvC-05cmsZpP2h43dNuujiNTtD3Ck0Owbh0RelhG9RqavFqnw1uAeKe-RRiRv6E-kNCf-Jl1Qfw_KouxH2mLx4_IQrF2/s900/Paulo%20Henriques%20Britto%20-%20Fim%20de%20vera%CC%83o.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Poesia brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgH0fyn8tkL1vlPE9gHIGRTsa0L5nLVKYVseQ0d7LEFJoM78GZBzDuhFBFfH0ew7jeE9AEDUsuGBESHdDrUGsGWup3EyvC-05cmsZpP2h43dNuujiNTtD3Ck0Owbh0RelhG9RqavFqnw1uAeKe-RRiRv6E-kNCf-Jl1Qfw_KouxH2mLx4_IQrF2/w213-h320/Paulo%20Henriques%20Britto%20-%20Fim%20de%20vera%CC%83o.jpg" title="Paulo Henriques Britto - Fim de verão" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(03) <a href="https://www.mundodek.com/2023/01/paulo-henriques-britto-fim-de-verao.html" target="_blank">Paulo Henriques Britto - Fim de verão</a> (resenha publicada em 21/01/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Além da crítica ao estado de ignorância que assola o país, Britto reflete também sobre a brevidade da vida, um tema presente em muitos poemas, particularmente no lindo <i>Fim de verão</i>, que empresta o título ao livro: <i>"É a hora inevitável do crepúsculo, / e não se decidiu coisa nenhuma / sobre nada. Ninguém moveu um músculo / nem disse nada de substância. Em suma, / ainda estamos no lugar exato / do qual partimos – digo, de que não / partimos. Há que aceitar este fato [...]"</i> E também em <i>Coda</i>: <i>"Toda vida é provisória. / todo poema é fragmento. / Cada dia, cada hora, / cada verso é só um momento"</i>.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/3vd2K5n" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>Fim de Verão</i> de </a></span><span style="font-family: arial;"><a href="https://amzn.to/3vd2K5n" target="_blank">Paulo Henriques Britto</a></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXLXe8Hq0WWvlB35q17ftzro0KuaR9lHMoEl2Wdyy30eOKfoKdKWsdrRYVnwrJYcLH9cbYBgxZDNFm91zq2ScYEGbYhz2Vl7xyIp-CUg-k9x9ZRpDbtMSDMQwYl6-lZ5hk4QFajblCY_VX3WWP1sRWauWGU7ILBWCKNAGxediG6Y8B4JYQIxae/s900/Natalia%20Ginzburg%20-%20A%20cidade%20e%20a%20casa.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura italiana" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXLXe8Hq0WWvlB35q17ftzro0KuaR9lHMoEl2Wdyy30eOKfoKdKWsdrRYVnwrJYcLH9cbYBgxZDNFm91zq2ScYEGbYhz2Vl7xyIp-CUg-k9x9ZRpDbtMSDMQwYl6-lZ5hk4QFajblCY_VX3WWP1sRWauWGU7ILBWCKNAGxediG6Y8B4JYQIxae/w213-h320/Natalia%20Ginzburg%20-%20A%20cidade%20e%20a%20casa.jpg" title="Natalia Ginzburg - A cidade e a casa" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(04) <a href="https://www.mundodek.com/2023/01/natalia-ginzburg-cidade-e-casa.html" target="_blank">Natalia Ginzburg - A cidade e a casa</a> (resenha publicada em 28/01/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Natalia Ginzburg (1916-1991) criou neste romance um efeito polifônico único ao reunir as cartas de um grupo de amigos e múlltiplos pontos de vista – nem sempre confiáveis – de acordo com as personalidades de cada personagem. De fato, o leitor vai construindo aos poucos a sua versão da história ao organizar e validar os fragmentos narrativos, do particular para o geral, em uma aproximação já sugerida no título. A dissolução do núcleo de amigos, assim como outros desencontros, representa a desagregação da família, por sinal um tema recorrente na obra de Ginzburg, que costuma escrever sobre as relações familiares e refletir sobre a condição humana.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/3RFHJb2" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>A cidade e a casa</i> de Natalia Ginzburg</a></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjN6N_cyaMfE79Dlqznm-i9l98KTlJHuK06OdxNcLLMJH0zO1BO7MqPf1oF31rcwattN87EwxV0-zgs5KU6OEa3hty2AkeSHlXXpHd2jZR-KXFMeJnmK_oK1kzX345KEUjMyl-t1lCUDKOLOnShwx9d3pidk0P9rPGFshb8prIKq9BD98JpdtOv/s900/Joa%CC%83o%20Paulo%20Parisio%20-%20Beija-flor.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjN6N_cyaMfE79Dlqznm-i9l98KTlJHuK06OdxNcLLMJH0zO1BO7MqPf1oF31rcwattN87EwxV0-zgs5KU6OEa3hty2AkeSHlXXpHd2jZR-KXFMeJnmK_oK1kzX345KEUjMyl-t1lCUDKOLOnShwx9d3pidk0P9rPGFshb8prIKq9BD98JpdtOv/w213-h320/Joa%CC%83o%20Paulo%20Parisio%20-%20Beija-flor.jpg" title="João Paulo Parisio - Beija-flor" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(05) <a href="https://www.mundodek.com/2023/02/joao-paulo-parisio-beija-flor.html" target="_blank">João Paulo Parisio - Beija-flor </a>(resenha publicada em 03/02/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Os contos de João Paulo Parisio têm em comum a presença de crianças. Contudo, não é a inocência dessas personagens que é abordada pelo autor nas narrativas, normalmente histórias cruéis com situações de violência física e psicológica vivenciadas por meninos e meninas que têm a sua infância roubada pelo mundo dos adultos, testemunhas involuntárias de cenas brutais entre os pais e alvos de agressões ou até mesmo forçadas a praticar atos violentos como forma de sobrevivência. Caso do homem-aranha, saqueador de apartamentos, que pode ser confundido com um homem, mas sob o olhar atento de uma das vítimas se torna um menino novamente.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://www.vacatussa.com.br/beija-flor/p" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>Beija-flor</i> de João Paulo Parisio</a></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFS4mjEDZSoa1HOIm2lw26Y3VJTL7DBrZcKgMdgCJFfubSXooeI0H765c9FxlgupB5JzIRRsOh214fE7XttfehuqAG81X7WbyNVv1YptBbYylc7pXkDq6IeEYJPz-WTukw7CzWRHKiAzgLYtqNqQHOiIMPWXMgPodSBal8xAcZK1ulRD-GG4-T/s900/06_Leonardo%20Almeida%20Filho%20-%20Os%20possessos.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFS4mjEDZSoa1HOIm2lw26Y3VJTL7DBrZcKgMdgCJFfubSXooeI0H765c9FxlgupB5JzIRRsOh214fE7XttfehuqAG81X7WbyNVv1YptBbYylc7pXkDq6IeEYJPz-WTukw7CzWRHKiAzgLYtqNqQHOiIMPWXMgPodSBal8xAcZK1ulRD-GG4-T/w213-h320/06_Leonardo%20Almeida%20Filho%20-%20Os%20possessos.jpg" title="Leonardo Almeida Filho - Os possessos" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(06) <a href="https://www.mundodek.com/2023/02/leonardo-almeida-filho-os-po.html" target="_blank">Leonardo Almeida Filho - Os possessos</a> (resenha publicada em 11/02/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O poeta e escritor Leonardo Almeida Filho aceitou o desafio de fazer literatura a partir da crise política que se instaurou em nosso país nos anos recentes, contudo sem cair na armadilha de um discurso meramente panfletário. Em seu romance, Os possessos, o início da narrativa é marcado pelo velório do protagonista, Luiz Carlos Mariano, um famoso e, ao mesmo tempo, solitário escritor encontrado morto em seu apartamento em Copacabana, sendo, portanto, toda a construção ficcional desenvolvida por meio da visão dos outros personagens que conviveram com ele e da sua própria obra, inclusive notas autobiográficas.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://www.editorapatua.com.br/os-possessos-de-leonardo-almeida-filho/p" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>Os possessos</i> de Leonardo Almeida Filh</a>o</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmKPgK6mWFVn8XsiYOsbvTtE_O0vd5fME7wvAhuSno4Lva0KmgmTiCO41Cqup3voy7GwT0WK7D5OymYgBDEJ9shIdaVVIj9gsSBPINfmWqJx_prZK9HiLVBN95V1xezyQmoSbT0JYOMgS3jBBBPyfW4Am7HSTvR22MYxNHR0T3XCgqZQCZOfCZ/s900/07_Thiago%20Camelo%20-%20Dia%20um.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmKPgK6mWFVn8XsiYOsbvTtE_O0vd5fME7wvAhuSno4Lva0KmgmTiCO41Cqup3voy7GwT0WK7D5OymYgBDEJ9shIdaVVIj9gsSBPINfmWqJx_prZK9HiLVBN95V1xezyQmoSbT0JYOMgS3jBBBPyfW4Am7HSTvR22MYxNHR0T3XCgqZQCZOfCZ/w213-h320/07_Thiago%20Camelo%20-%20Dia%20um.jpg" title="Thiago Camelo - Dia um" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(07) <a href="https://www.mundodek.com/2023/02/thiago-camelo-dia-um.html" target="_blank">Thiago Camelo - Dia um</a> (resenha publicada em 18/02/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O romance descreve a trajetória de uma família de classe média carioca que precisa lidar com o suicídio de um de seus membros e de como essa tragédia influenciou a vida de todos. A condução da narrativa é feita em segunda pessoa, utilizando o pronome 'você' e nomeando os personages apenas como: 'seu pai,' 'sua mãe', 'sua avó', 'seu irmão do meio' e 'seu irmão mais velho', uma estratégia que mostrou-se apropriada neste caso ao provocar um certo afastamento e um olhar impessoal, protegendo, assim, o protagonista-narrador (irmão mais novo) e o próprio autor que também passou por experiência semelhante ao ter que assimilar o suicídio do irmão mais velho.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/3RxCdHw" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>Dia um</i> de Thiago Camelo</a></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdxPBp2rNk2RQ156M9U-83h9D23I8V8HF4HFcSxW9W-FNoECbZU6j6Rq4h3SF9kUlveZEuiIKhyTdCy0KtSXEGK4emCmT8l1oq9bkbGPJx6P4_jU6NocwPB6ddHsQibaf68k9geXza71hjmCY6glUhLcAICSN392hbhwU_Dl9z6TXt311K7J-d/s900/08_TIago%20Feijo%CC%81%20-%20Doze%20dias.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdxPBp2rNk2RQ156M9U-83h9D23I8V8HF4HFcSxW9W-FNoECbZU6j6Rq4h3SF9kUlveZEuiIKhyTdCy0KtSXEGK4emCmT8l1oq9bkbGPJx6P4_jU6NocwPB6ddHsQibaf68k9geXza71hjmCY6glUhLcAICSN392hbhwU_Dl9z6TXt311K7J-d/w213-h320/08_TIago%20Feijo%CC%81%20-%20Doze%20dias.jpg" title="Tiago Feijó - Doze dias" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(08) <a href="https://www.mundodek.com/2023/02/tiago-feijo-doze-dias.html" target="_blank">Tiago Feijó - Doze dias</a> (resenha publicada em 26/02/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O romance de Tiago Feijó foi lançado originalmente em Portugal, tendo sido finalista do Prêmio Leya 2021 e vencedor do Prêmio Manuel Teixeira Gomes de Literatura no mesmo ano. O fio condutor é o reencontro entre Raul e Antônio, pai e filho, após 15 anos de afastamento nos quais se comunicaram poucas vezes em telefonemas curtos e protocolares. No entanto, este reencontro não se deve a uma decisão voluntária de nenhum dos dois e sim a uma emergência médica, quando o senhor Raul acorda com uma dor que o impede de se levantar e não lhe resta outra alternativa, vivendo sozinho, senão ligar para o filho em busca de socorro. Assim começa a saga de doze dias no hospital.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/3TEksJm" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>Doze dias</i> de Tiago Feijó</a></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnF3Gev9P8zASOOY4c1H_ESPgiIyMWzpaWSvsmFFWA_blArBA5s9UT9NPOPzl-T5UUEpjWx9tkeBmoVBOjcn6s3NQfRD_XCDG5lwPlHTK9dgTMHw2TlmC1-6hod2U8vfVgiGcg8SK7_kaxf-zN6AlNGo3HiekIpCA427kNVE_DofiCLlX5X5eY/s900/09_Hoffmann%20-%20Os%20elixires%20do%20diabo.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Clássicos da Literatura" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnF3Gev9P8zASOOY4c1H_ESPgiIyMWzpaWSvsmFFWA_blArBA5s9UT9NPOPzl-T5UUEpjWx9tkeBmoVBOjcn6s3NQfRD_XCDG5lwPlHTK9dgTMHw2TlmC1-6hod2U8vfVgiGcg8SK7_kaxf-zN6AlNGo3HiekIpCA427kNVE_DofiCLlX5X5eY/w213-h320/09_Hoffmann%20-%20Os%20elixires%20do%20diabo.jpg" title="Hoffmann - Os elixires do Diabo" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(09) <a href="https://www.mundodek.com/2023/03/hoffmann-os-elixires-do-diabo.html" target="_blank">Hoffmann - Os elixires do Diabo</a> (resenha publicada em 04/03/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Hoffmann (1776-1822) é considerado um precursor da literatura fantástica, tendo infuenciado outros escritores, tais como Edgar Allan Poe (1809-1849), Dostoiévski (1821-1881) e Franz Kafka (1883-1924), para citar somente os principais. Hoffmann é dono de um estilo que vai muito além das limitações do romantismo alemão de sua época, revelando o que há de mais trágico e grotesco na natureza humana. A utilização do inconsciente como matéria-prima literária, antes de Freud (1856-1939), uma fragmentação da identidade do protagonista que leva ao tema do duplo, assim como um clima gótico e detetivesco, são características do autor presentes nesta obra.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/3txi7oR" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>Os elixires do Diabo</i> de Hoffmann</a></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipfXoisXmx_mPKRK4U5Yun6qnXX2tJKYkIodiJgpS0gKBDYMWA8SmIt_CMc6l6DTziec6N8M6FGjVqghrhNdEz2HI7smvLALaB7ZkIbZn9EsSRAOgXoxcSY1lb3Y_cT8OfxtSvw2w_2fi4z9yBtwMh5iBAtgMq39NGQzw7MViQr8wdErGYtcVH/s900/10_Kenzaburo%20Oe%20-%20Adeus%20meu%20livro.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura japonesa" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipfXoisXmx_mPKRK4U5Yun6qnXX2tJKYkIodiJgpS0gKBDYMWA8SmIt_CMc6l6DTziec6N8M6FGjVqghrhNdEz2HI7smvLALaB7ZkIbZn9EsSRAOgXoxcSY1lb3Y_cT8OfxtSvw2w_2fi4z9yBtwMh5iBAtgMq39NGQzw7MViQr8wdErGYtcVH/w213-h320/10_Kenzaburo%20Oe%20-%20Adeus%20meu%20livro.jpg" title="Kenzaburo Oe - Adeus, meu livro!" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(10) <a href="https://www.mundodek.com/2023/03/kenzaburo-oe-adeus-meu-livro.html" target="_blank">Kenzaburo Oe - Adeus, meu livro!</a> (resenha publicada em 25/03/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Kogito Choko, alter ego do próprio Kenzaburo Oe (1935-2023), está de volta neste romance, que faz parte da trilogia iniciada com <i>A substituição ou As regras do Tagame</i>, livros marcados por elementos autobiográficos e engajamento político sobre questões polêmicas do Japão moderno, como o ativismo antinuclear e pacifista. Contudo<i>,</i> a ironia é que Kogito Choko é envolvido por um amigo de infância, Shigeru Tsubaki em um projeto ambicioso, "a grande empreitada" como ele chama, um evento inspirado nos ataques de 11 de setembro ao World Trade Center de Nova York e que pretende a absurda destruição de um arranha-céu de Tóquio.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/4aOGDTp" target="_blank">Clique aqui para comprar </a></span><a href="https://amzn.to/4aOGDTp" target="_blank"><span style="font-family: arial;"><i>Adeus, meu livro!</i> de </span><span style="font-family: arial;">Kenzaburo Oe</span></a></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-oA1WirjGd2Cbe4WBkLy36CFozob9b1BQscmFGYl7cZErW51qlYwxj27W-bUZcqSAGuYjxVBEOC4dxb2FZ-xguy1f1Z8F5XZGdhWARx7BBu9OiE77gCrnIb1ckiMzjaLWNeklkqC2hY94n_VF1qQs3GDOl7k9nNtWRdXrpyzBYzoU74hCl5vj/s900/11_Cinthia%20Kriemler%20-%20Viu%CC%81vas%20de%20sal.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-oA1WirjGd2Cbe4WBkLy36CFozob9b1BQscmFGYl7cZErW51qlYwxj27W-bUZcqSAGuYjxVBEOC4dxb2FZ-xguy1f1Z8F5XZGdhWARx7BBu9OiE77gCrnIb1ckiMzjaLWNeklkqC2hY94n_VF1qQs3GDOl7k9nNtWRdXrpyzBYzoU74hCl5vj/w213-h320/11_Cinthia%20Kriemler%20-%20Viu%CC%81vas%20de%20sal.jpg" title="Cinthia Kriemler - Viúvas de sal" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(11) <a href="https://www.mundodek.com/2023/04/cinthia-krimler-viuvas-de-sal.html" target="_blank">Cinthia Kriemler - Viúvas de sal</a> (resenha publicada em 15/04/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O mais recente lançamento de Cinthia Kriemler é um romance com alguns temas recorrentes no estilo visceral de outras obras da autora, tanto na prosa quanto na poesia. Em Viúvas de sal, a violência contra o gênero feminino é perpetuada por uma rotina de ritos patriarcais e perseguiçao religiosa, mantendo as personagens presas a um destino cruel e inescapável, do qual apenas a morte pode representar um alívio. Um romance com potência e originalidade narrativa em um estilo forte no qual a urgência de escrever sobre aquilo que existe de mais perverso, vergonhoso e bárbaro no comportamento humano, não compromete em nada a beleza e o lirismo do texto.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://www.editorapatua.com.br/viuvas-de-sal-de-cinthia-kriemler/p" target="_blank">Cliqe aqui para comprar </a></span><span style="font-family: arial;"><a href="https://www.editorapatua.com.br/viuvas-de-sal-de-cinthia-kriemler/p" target="_blank"><i>Viúvas de sal</i> de Cinthia Kriemler</a></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5z2wVXIQtuWpleq7hf7PhlHxIcgTdOT2ROZZ2T7a3cSprPn7PNhrbUS59jGoa0ZjAPqKFiVac3FezOsQfwIAE4xaeiJNnDr6Dh7ky9hxsUhOXUB3xtwN2u7oV0Ve1iXj7Y-nP5lb2Pc6DDtA2gPdFRpj7uveNvTThvg4xJkXscQ_46oAJHrfw/s900/12_Vale%CC%81ria%20Martins%20-%20O%20lugar%20das%20palavras.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5z2wVXIQtuWpleq7hf7PhlHxIcgTdOT2ROZZ2T7a3cSprPn7PNhrbUS59jGoa0ZjAPqKFiVac3FezOsQfwIAE4xaeiJNnDr6Dh7ky9hxsUhOXUB3xtwN2u7oV0Ve1iXj7Y-nP5lb2Pc6DDtA2gPdFRpj7uveNvTThvg4xJkXscQ_46oAJHrfw/w213-h320/12_Vale%CC%81ria%20Martins%20-%20O%20lugar%20das%20palavras.jpg" title="Valéria Martins - O lugar das palavras" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(12) <a href="https://www.mundodek.com/2023/04/valeria-martins-o-lugar-das-palavras.html" target="_blank">Valéria Martins - O lugar das palavras</a> (resenha publicada em 22/04/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">A agente literária Valéria Martins faz a sua estreia na ficção utilizando a própria experiência no mercado editorial como inspiração para a criação do protagonista-narrador Rafael Sant'Anna, um jovem recém-formado em jornalismo que sonha em se tornar escritor. No entanto, assim como tantos outros autores iniciantes, Rafael, que está desempregado e precisa cuidar da mãe e da avó dependentes, logo percebe que escrever bem é uma condição necessária, mas não suficiente para ter sucesso na área de literatura, uma empreitada que demanda muito trabalho e organização para vencer as etapas de criação, publicação e divulgação. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/4asXk6q" target="_blank">Clique aqui para comprar </a></span><a href="https://amzn.to/4asXk6q" target="_blank"><span style="font-family: arial;"><i>O lugar das palavras</i> de </span><span style="font-family: arial;">Valéria Martins</span></a></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhM1z33PTEem9O3z72dD9KQ_IvhzQWP92XUMXAX7jKXgHt7eJzgYmeWVozw6Pqw-3C_rxQ0NeJTQ3sWM0EoKQSVAPu4MeWy0WQROHhkqYuE2jtU1i3jyI_xcTEhWKlzqeGDrEcqp7fQpCpKm-N7HAd5-twC7Kr5dsgi3f6Z4eZv3P3iLmVhlGO9/s900/13_Pedro%20Augusto%20Bai%CC%81a%20-%20Corpos%20benzidos%20em%20metal%20pesado.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhM1z33PTEem9O3z72dD9KQ_IvhzQWP92XUMXAX7jKXgHt7eJzgYmeWVozw6Pqw-3C_rxQ0NeJTQ3sWM0EoKQSVAPu4MeWy0WQROHhkqYuE2jtU1i3jyI_xcTEhWKlzqeGDrEcqp7fQpCpKm-N7HAd5-twC7Kr5dsgi3f6Z4eZv3P3iLmVhlGO9/w213-h320/13_Pedro%20Augusto%20Bai%CC%81a%20-%20Corpos%20benzidos%20em%20metal%20pesado.jpg" title="Pedro Augusto Baía - Corpos benzidos em metal pesado" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(13) <a href="https://www.mundodek.com/2023/05/pedro-augusto-baia-corpos-benzidos-em.html" target="_blank">Pedro Augusto Baía - Corpos benzidos em metal pesado</a> (resenha publicada em 07/05/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Os contos do livro de estreia do paraense Pedro Augusto Baía, vencedor do prêmio Sesc de Literatura edição 2022, têm como elemento de ligação a rotina de violência e destruição que domina a região norte do Brasil nos últimos anos. As narrativas demonstram o avanço do garimpo ilegal, impulsionado pela omissão do poder público na fiscalização para proteção do meio ambiente e dos povos indígenas, assim como a desigualdade social que perpetua o cenário de devastação atual, restando apenas a migração. O regionalismo do autor assume um tom de urgência e denúncia, contudo sem perder o lirismo do texto literário.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/3REG8lT" target="_blank">Clique aqui para comprar </a></span><a href="https://amzn.to/3REG8lT" target="_blank"><span style="font-family: arial;"><i>Corpos benzidos em metal pesado</i> de </span><span style="font-family: arial;">Pedro Augusto Baía</span></a></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtRNy2itLnGT_PFB1wT0ug98-OQb8dTO_-0asxpD3EjMi0dokVP3sxaI24Sn-pR3kfu39K3DUWgldBx4N8JyGjXO4RY02H5SklyGYpn7OeuwOsoQYJbkNM_FrVLS7mmJUCZKAbwBdXSsOM4jB9cRNp2R6nFj85UJNNu6y8w22uJBSGZOgiTr2J/s900/14_Adriane%20Garcia%20-%20A%20bandeja%20de%20Salom.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Poesia brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtRNy2itLnGT_PFB1wT0ug98-OQb8dTO_-0asxpD3EjMi0dokVP3sxaI24Sn-pR3kfu39K3DUWgldBx4N8JyGjXO4RY02H5SklyGYpn7OeuwOsoQYJbkNM_FrVLS7mmJUCZKAbwBdXSsOM4jB9cRNp2R6nFj85UJNNu6y8w22uJBSGZOgiTr2J/w213-h320/14_Adriane%20Garcia%20-%20A%20bandeja%20de%20Salom.jpg" title="Adriane Garcia - A bandeja de Salomé" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(14) <a href="https://www.mundodek.com/2023/05/adriane-garcia-bandeja-da-salome.html" target="_blank">Adriane Garcia - A bandeja de Salomé</a> (resenha publicada em 14/05/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Apresentando um conceito semelhante aos poemas reunidos em Eva-proto-poeta, este mais recente lançamento de Adriane Garcia também seria em outros tempos um ótimo candidato à fogueira, juntamente com sua autora, condenada por questionar os dogmas de uma religião estabelecida sobre estruturas patriarcais. De fato, principalmente no Antigo Testamento, a bíblia perpetua uma espécie de legitimação para a dominação masculina com base em narrativas cruéis nas quais o modelo de submissão da mulher é exaltado como exemplo moral e validado por uma antologia de textos que justificam muitas vezes a exploração sexual e o feminicídio.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/48tWqF1" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>A bandeja de Salomé</i> de Adriane Garcia</a> </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjD2Hx4tU4ozsOdw5xcnOZRWvZe0HtWnP6-7DlVmUFatLeSe5-neMG1zmSlJcv_4ILmlXxTGd1df-gEqB2ZSkiioFo4KnkUIYINpw-jv52lL_BYE1Kk3vrYadb1uuTv7HQ69qhmR3Cpg_nDgTGHfn1saAiVhLBC7qGOY_l3_HK5pfnwGmqwn3n6/s960/15_Sandra%20Godinho%20-%20A%20secura%20dos%20ossos.jpeg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="960" data-original-width="678" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjD2Hx4tU4ozsOdw5xcnOZRWvZe0HtWnP6-7DlVmUFatLeSe5-neMG1zmSlJcv_4ILmlXxTGd1df-gEqB2ZSkiioFo4KnkUIYINpw-jv52lL_BYE1Kk3vrYadb1uuTv7HQ69qhmR3Cpg_nDgTGHfn1saAiVhLBC7qGOY_l3_HK5pfnwGmqwn3n6/w226-h320/15_Sandra%20Godinho%20-%20A%20secura%20dos%20ossos.jpeg" title="Sandra Godinho - A secura dos ossos" width="226" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(15) <a href="https://www.mundodek.com/2023/05/sandra-godinho-secura-dos-ossos.html" target="_blank">Sandra Godinho - A secura dos ossos</a> (resenha publicada em 27/05/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O romance mais recente de Sandra Godinho demonstra a maturidade atingida pela autora após uma curta e intensa carreira literária. De fato, alguns de seus premiados livros anteriores, tais como: <i>Tocaia do norte</i>, <i>A morte é a promessa de algum fim</i> e <i>Estranha entre nós</i>, parecem ter pavimentado o caminho para a importância e urgência desta obra, na qual, mais uma vez, o registro histórico é a base de toda a construção ficcional. No romance, finalista do Prêmio Leya 2022, o Massacre de Haximu, ocorrido em 1993, é revisitado com sensibilidade e lirismo, mas sem omitir a brutalidade da execução de homens, mulheres e crianças do povo indígena Yanomami.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/3GUWSAu" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>A secura dos ossos</i> de Sandra Godinho</a></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRbVKFdsMC408eeJ_zUlkPGPJA5Ik8X98E7hz-GTLm20rUqB93QIW8KKOsj4FaZHP3xcLL34anPoEJDIhFfLztIv8q5_a8-FV77OXiB4ooEtRXgjQ9xng4NqrtxKSvhgeRmyUMCQ0K8NIELdm5mfftbWLGRTna8QAvDwRYF57lpptILEWaB-Tt/s900/16_Ma%CC%81rcia%20Barbieri%20-%20Tempo%20de%20ca%CC%83o.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRbVKFdsMC408eeJ_zUlkPGPJA5Ik8X98E7hz-GTLm20rUqB93QIW8KKOsj4FaZHP3xcLL34anPoEJDIhFfLztIv8q5_a8-FV77OXiB4ooEtRXgjQ9xng4NqrtxKSvhgeRmyUMCQ0K8NIELdm5mfftbWLGRTna8QAvDwRYF57lpptILEWaB-Tt/w213-h320/16_Ma%CC%81rcia%20Barbieri%20-%20Tempo%20de%20ca%CC%83o.jpg" title="Márcia Barbieri - [Tempo de cão]" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(16) <a href="https://www.mundodek.com/2023/06/marcia-barbieri-tempo-de-cao.html" target="_blank">Márcia Barbieri - [Tempo de cão]</a> (resenha publicada em 03/06/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Apesar do romance ter sido concebido com base em uma região independente no tempo e no espaço, há referências claras à recente pandemia e ao processo de isolamento social, um período sombrio da nossa história que mesmo a literatura mais delirante e distópica tem dificuldade em representar, contudo, Márcia se saiu muito bem, como no trecho no qual os "vira-latas foram abandonados" e houve a necessidade de "economizar covas" devido à alta mortalidade, como bem lembramos dos noticiários da época. Este é um romance forte que exige atenção redobrada, um desafio para o leitor, tanto na forma quanto no conteúdo. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/41zhZBX" target="_blank">Clique aqui para comprar </a></span><a href="https://amzn.to/41zhZBX" target="_blank"><span style="font-family: arial;"><i>[Tempo de cão]</i> de </span><span style="font-family: arial;">Márcia Barbieri</span></a></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGGrMgf0y0rr-xcT9OLbbWoZ7DXR222NARIIjBL-2PnRSxHGQcXn7c7B0RQkigCXB_BFpoRbYNK1Nicur8AR4k8ts_DXWZMLseNt2PbhAwdjTZCGSTQ9y7UWr5RpIIZ7Ro_9Ge1YDDaHaSqiIF0CXS_qL7Xq5jQRVJnNbwO0bURF8yuTNlJvyp/s900/17_Ka%CC%81tia%20Bandeira%20de%20Mello%20-%20A%20patafi%CC%81sica%20do%20quadrado.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGGrMgf0y0rr-xcT9OLbbWoZ7DXR222NARIIjBL-2PnRSxHGQcXn7c7B0RQkigCXB_BFpoRbYNK1Nicur8AR4k8ts_DXWZMLseNt2PbhAwdjTZCGSTQ9y7UWr5RpIIZ7Ro_9Ge1YDDaHaSqiIF0CXS_qL7Xq5jQRVJnNbwO0bURF8yuTNlJvyp/w213-h320/17_Ka%CC%81tia%20Bandeira%20de%20Mello%20-%20A%20patafi%CC%81sica%20do%20quadrado.jpg" title="Kátia Bandeira de Mello - A patafísica do quadrado" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(17) <a href="https://www.mundodek.com/2023/06/katia-bandeira-de-mello-patafisica-do.html" target="_blank">Kátia Bandeira de Mello - A patafísica do quadrado</a> (resenha publicada em 10/06/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O surrealismo na literatura ficou marcado pela fase inicial compreendida entre 1919 e 1925 na França, destacando: Louis Aragon, André Breton, Paul Éluard, Benjamin Pet e Philippe Soupalt, autores que tinham a intenção de exprimir o inconsciente do homem. No entanto, pouco se fala em um dos maiores influenciadores do movimento, o excêntrico Alfred Jarry (1873-1907), poeta, romancista e dramaturgo francês, mais conhecido por sua peça Ubu Rei (1896), criador da patafísica, a ciência das soluções imaginárias e das leis que regulam as exceções, com base no humor irônico e nonsense, transformando o real em absurdo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://www.confrariadovento.com/editora/catalogo/item/326-a-patafisica-do-quadrado-um-romance-na-rota-das-galochas.html" target="_blank">Clique aqui para comprar </a></span><a href="https://www.confrariadovento.com/editora/catalogo/item/326-a-patafisica-do-quadrado-um-romance-na-rota-das-galochas.html" target="_blank"><span style="font-family: arial;"><i>A patafísica do quadrado</i></span><span style="font-family: arial;"> de </span><span style="font-family: arial;">Kátia Bandeira de Mello</span></a></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUFwiU8HbXJzw8H0IEBOJwJGpkGnR5HuEQgxGtZ6cq4Px4_dJhhiLPFXDcJpfyVvqKZkvnK1JowXsRYNia3Iie982lIzuP0WvEQTZiHakpFHlsGj0zJApF3BL5hu2F-IUyuu2DJoLHWzaTaI1pWQuCkOEU6zAY2EzEWhPfwp_yTPyDQj2XiSWs/s900/18_Isabor%20Quintiere%20-%20Ritua%CC%81lia.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUFwiU8HbXJzw8H0IEBOJwJGpkGnR5HuEQgxGtZ6cq4Px4_dJhhiLPFXDcJpfyVvqKZkvnK1JowXsRYNia3Iie982lIzuP0WvEQTZiHakpFHlsGj0zJApF3BL5hu2F-IUyuu2DJoLHWzaTaI1pWQuCkOEU6zAY2EzEWhPfwp_yTPyDQj2XiSWs/w213-h320/18_Isabor%20Quintiere%20-%20Ritua%CC%81lia.jpg" title="Isabor Quintiere - Rituália" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(18) <a href="https://www.mundodek.com/2023/06/isabor-quintiere-ritualia.html" target="_blank">Isabor Quintiere - Rituália</a> (resenha publicada em 24/06/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Os contos apresentam um estilo próprio com base em influências da literatura fantástica, do realismo mágico e até mesmo da ficção científica, porém não se enquadrando em nenhuma dessas categorias. Talvez a referência mais próxima seja a escola literária argentina, consagrada por Jorge Luis Borges, Adolfo Bioy Casares, Julio Cortázar, Silvina Ocampo e, mais recentemente, Samanta Schweblin. De qualquer forma, o leitor encontrará em Rituália uma característica que une a obra de todos esses autores, a busca pela representação daquela coisa que existe dentro de nós e que não tem nome mas, como já dizia José Saramago, é o que verdadeiramente somos.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://www.caoseletras.com/ritualia---isabor-quintiere/p" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>Rituália</i> de Isabor Quintiere</a></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVuPQ3E4Rbzao8QouI_lHDkN7Q92uTXwNE4XswhJIhCwaxa2B2S30_TR03Yk4J9E81W-gJhIgcBR2-T98WKwBKlbjhSulshGvZ9qF2-JAYZMJxXIn5ctpgzNf-_NLw4LmXuzEEiINTY8ihq5HcixYVazVcDv5LezvQt2A_e-N4PeQXpcxG-svI/s900/19_Yoko%20Ogawa%20-%20Tre%CC%82s%20novelas.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura japonesa contemporânea" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVuPQ3E4Rbzao8QouI_lHDkN7Q92uTXwNE4XswhJIhCwaxa2B2S30_TR03Yk4J9E81W-gJhIgcBR2-T98WKwBKlbjhSulshGvZ9qF2-JAYZMJxXIn5ctpgzNf-_NLw4LmXuzEEiINTY8ihq5HcixYVazVcDv5LezvQt2A_e-N4PeQXpcxG-svI/w213-h320/19_Yoko%20Ogawa%20-%20Tre%CC%82s%20novelas.jpg" title="Yoko Ogawa - A piscina; Diário de gravidez; Dormitório: três novelas" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(19) <a href="https://www.mundodek.com/2023/07/yoko-ogawa-piscina-diario-de-gravidez.html" target="_blank">Yoko Ogawa - A piscina; Diário de gravidez; Dormitório: três novelas</a> (resenha publicada em 01/07/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">A literatura japonesa contemporânea não se limita a Haruki Murakami, prova disso está na obra de Yoko Ogawa que ganhou todos os principais prêmios literários japoneses, incluindo o Prêmio Akutagawa e o Prêmio Yomiuri. No ocidente, ela recebeu o Shirley Jackson e o American Book Award, além de ter sido finalista do International Booker Prize em 2020. Os seus livros são desafiadores ao ponto dela ser comparada a autores modernos já consagrados como Yukio Mishima e Kenzaburo Oe, o qual declarou que Yoko consegue expressar as mais sutis nuances do psicológico humano, sendo gentil e penetrante ao mesmo tempo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/3NIC82N" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>três novelas</i> de Yoko Ogawa</a></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgePOLMBatMyp5ejisGU00bKTKxz6YykfZlL5ZWHuECliXYQLZlFPBXOyVVF_GNlWDg8nuYQAyrNWAhNlK-aDfL2S5LC9OAleVWOx04JZFy2kQ5R0zkCsLMwGpvHQrb6EuhCLYglxLSFQrA7IM2_ESmmqW5YriP_bw6F73QBHYE9idbC-avQQsX/s900/20_Andre%CC%81%20de%20Leones%20-%20Vento%20de%20queimada.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgePOLMBatMyp5ejisGU00bKTKxz6YykfZlL5ZWHuECliXYQLZlFPBXOyVVF_GNlWDg8nuYQAyrNWAhNlK-aDfL2S5LC9OAleVWOx04JZFy2kQ5R0zkCsLMwGpvHQrb6EuhCLYglxLSFQrA7IM2_ESmmqW5YriP_bw6F73QBHYE9idbC-avQQsX/w213-h320/20_Andre%CC%81%20de%20Leones%20-%20Vento%20de%20queimada.jpg" title="André de Leones - Vento de queimad" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(20) <a href="https://www.mundodek.com/2023/07/andre-de-leones-vento-de-queimada.html" target="_blank">André de Leones - Vento de queimada</a> (resenha publicada em 16/07/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O romance é ambientado na região Centro-Oeste, entre as cidades de Brasília, Goiânia e outras menos conhecidas, tais como: Silvânia, Minaçu e Vianópolis, locais normalmente ausentes na literatura nacional, nos fazendo refletir como o Brasil é realmente um amontoado de países estrangeiros. A narrativa se passa em 1983, durante o governo de João Figueiredo (1979-85), marcando o final do longo período de governos militares. Não há inocentes entre os personagens, sejam eles matadores de aluguel, políticos corruptos ou simplesmente criminosos, todos irão provocar a dor e o sofrimento de suas vítimas para lucrar o máximo possível e tentar sobreviver.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/48BRoqd" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>Vento de queimada</i> de André de Leones</a></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj21Jus_7WZogydVYVwtI_njskLTvysT3GvgSSsVvpCz3IS6TMUh4T_b4bFAQ-pSPp9oFFTRgN_LpwGi-YZrWEA8CQQnTIwNt-QhC1ckuFoWaTankKoWokylu3v4Dv4P8y1LIrykpRiRl93QLObCou-RgzQny7XST3JSYB2A6bvtepL3UygRbq4/s900/21_Vanessa%20Malago%CC%81%20-%20Torrente.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj21Jus_7WZogydVYVwtI_njskLTvysT3GvgSSsVvpCz3IS6TMUh4T_b4bFAQ-pSPp9oFFTRgN_LpwGi-YZrWEA8CQQnTIwNt-QhC1ckuFoWaTankKoWokylu3v4Dv4P8y1LIrykpRiRl93QLObCou-RgzQny7XST3JSYB2A6bvtepL3UygRbq4/w213-h320/21_Vanessa%20Malago%CC%81%20-%20Torrente.jpg" title="Vanessa Malagó - Torrente" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(21) <a href="https://www.mundodek.com/2023/08/vanessa-malago-torrente.html" target="_blank">Vanessa Malagó - Torrente</a> (resenha publicada em 05/08/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O romance, selecionado no PROAC 2022 – Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura do Estado de SP – categoria Literatura, fala sobre as relações amorosas em uma época na qual a concepção do amor romântico idealizado, eterno, único e fiel, parece estar definitivamente descartada. Os relacionamentos que resistem à rotina mostram a necessidade de encontrar novas fórmulas para manter os vínculos emocionais e reinventar um amor ainda possível. A estrutura narrativa, portanto, intercala de forma não linear as histórias de sucesso ou fracasso de diferentes casais, buscando o difícil equilíbrio entre razão e paixão.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://www.editorapatua.com.br/torrente-romance-de-vanessa-malago/p" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>Torrente</i> de Vanessa Malagó</a></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3cwFoLhdUGLUdgBGt7fVu-_Orsvkol4kQ1IvhvkuTOoESs6pPXv7o2u_hlE0q6Tyak2QkEt91iWTl6eg1E6JV0HZZ4K-lmfVyp1yVEIMm0ewZ93zqUFqFeuBvLLVnG9W-wFxzah7uOEuxnVahvltFIR92HFaYiFuIBC0ARoiWlWIPwV-FdLYJ/s900/22_Marcos%20Faber%20-%20Por%20dentro%20de%20Rita%20Hayworth.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3cwFoLhdUGLUdgBGt7fVu-_Orsvkol4kQ1IvhvkuTOoESs6pPXv7o2u_hlE0q6Tyak2QkEt91iWTl6eg1E6JV0HZZ4K-lmfVyp1yVEIMm0ewZ93zqUFqFeuBvLLVnG9W-wFxzah7uOEuxnVahvltFIR92HFaYiFuIBC0ARoiWlWIPwV-FdLYJ/w213-h320/22_Marcos%20Faber%20-%20Por%20dentro%20de%20Rita%20Hayworth.jpg" title="Marcos Alexandre Faber - Por dentro de Rita Hayworth" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(22) <a href="https://www.mundodek.com/2023/08/marcos-alexandre-faber-por-dentro-de.html" target="_blank">Marcos Alexandre Faber - Por dentro de Rita Hayworth</a> (resenha publicada em 06/08/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Uma novela narrada em primeira pessoa por Rita Hayworth (1918-1987), mas não uma personagem representando a atriz norte-americana em carne e osso e sim uma imagem dela em um pôster na parede de uma cela. Em uma criativa construção literária de intertextualidade, esta cela pertence a Andy Dufresne, na prisão de Shawshank, retratada no filme "The Shawshank Redemption" estrelado por Tim Robbins e Morgan Freeman e lançado no Brasil como “Um sonho de liberdade” em 1994, livremente inspirado em "Rita Hayworth and Shawshank Redemption", uma novela escrita por Stephen King e publicada em 1982.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/3RLrz06" target="_blank">Clique aqui para comprar </a></span><a href="https://amzn.to/3RLrz06" target="_blank"><span style="font-family: arial;"><i>Por dentro de Rita Hayworth</i> de </span><span style="font-family: arial;">Marcos Alexandre Faber</span></a></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0AjlNW0cXPcGHJszNRsjnP2c-t9eqmyalkxrbF54SgxhnB9UXEriRX9K-oETkSWcsExhGedv9YvDd6WS_aJaWGl-l2gVzQUYsU-mnZR_91gGTdi0z5cKtxU9Oxlx5Cq26reCLk9ralOjWMHG8JI5CE02NHVHNRcjeDeP8cKm0bKCOtb4u7t1w/s900/23_Lilia%20Guerra%20-%20O%20ce%CC%81u%20para%20os%20bastardos.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0AjlNW0cXPcGHJszNRsjnP2c-t9eqmyalkxrbF54SgxhnB9UXEriRX9K-oETkSWcsExhGedv9YvDd6WS_aJaWGl-l2gVzQUYsU-mnZR_91gGTdi0z5cKtxU9Oxlx5Cq26reCLk9ralOjWMHG8JI5CE02NHVHNRcjeDeP8cKm0bKCOtb4u7t1w/w213-h320/23_Lilia%20Guerra%20-%20O%20ce%CC%81u%20para%20os%20bastardos.jpg" title="Lilia Guerra - O céu para os bastardos" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(23) <a href="https://www.mundodek.com/2023/09/lilia-guerra-o-ceu-para-os-bastardos.html" target="_blank">Lilia Guerra - O céu para os bastardos</a> (resenha publicada em 17/09/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Esta resenha poderia iniciar com a afirmação de que Lilia Guerra é a legítima herdeira da obra de Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo no que se refere à dura realidade das comunidades carentes em nosso país, o que seria verdade, mas não me parece justo limitar a abrangência dos livros da autora apenas à categoria de denúncia social, originada pelo racismo estrutural, por mais importante que seja este tema. Ao escrever sobre a vida das mulheres negras na periferia dos centros urbanos brasileiros, a literatura de Lilia Guerra extrapola o caráter local e panfletário, tornando-se universal como representação da condição humana.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/4aBeQW3" target="_blank">Clique aqui para comprar </a></span><span style="font-family: arial;"><a href="https://amzn.to/4aBeQW3" target="_blank"><i>O céu para os bastardos </i>de Lilia Guerra</a></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUZgLq3Q3mnM16xFbQ57P-o5BrowwYbkclVMt0bd5qA76G6iwX1mYB_BQnfCScOalOMpslm1_UlBTVhBaNVp5H-yJa3RTWyJeh-T1CoSsEZ8g57ttu3M-nsSAaSmKlH4a8WDd7zOdW6hma9NDFDwZAIbDgplZc4HodrInB1leFv0QkO8DeJUhS/s900/24_Jose%CC%81%20Nascimento%20-%20A%20noite%20dentro%20de%20no%CC%81s.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUZgLq3Q3mnM16xFbQ57P-o5BrowwYbkclVMt0bd5qA76G6iwX1mYB_BQnfCScOalOMpslm1_UlBTVhBaNVp5H-yJa3RTWyJeh-T1CoSsEZ8g57ttu3M-nsSAaSmKlH4a8WDd7zOdW6hma9NDFDwZAIbDgplZc4HodrInB1leFv0QkO8DeJUhS/w213-h320/24_Jose%CC%81%20Nascimento%20-%20A%20noite%20dentro%20de%20no%CC%81s.jpg" title="José Nascimento - A noite dentro de nós" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(24) <a href="https://www.mundodek.com/2023/09/jose-nascimento-noite-dentro-de-nos.html" target="_blank">José Nascimento - A noite dentro de nós</a> (resenha publicada em 24/09/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Os contos do livro de estreia de José Nascimento têm como inspiração a fragilidade dos relacionamentos na era dos amores descartáveis, a frustração com o trabalho e a violência urbana; fatores que intensificam a angústia dessa "noite" que cresce cada vez mais dentro de nós. A condução das narrativas em primeira pessoa – nem sempre confiáveis, diga-se de passagem – permite ao autor explorar o impasse existencial de seus personagens e nos fazer compreender a solidão de uma época na qual as redes sociais e aplicativos de relacionamentos se multiplicam para aproximar as pessoas e, contudo, atingem um resultado oposto na prática.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://editoraurutau.com/titulo/a-noite-dentro-de-nos" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>A noite dentro de nós</i> de José Nascimento</a></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjA_AsCGoZzMByYPjhmH81KAC-RYbr4HAin2MNycEBu8p39MVnlZiK3uTVOlXDviAZb5VNrcvHDSaqyBPwOhwtBd2thZ2yCsxTspQADM-6cIIy5h-MbKmbvhyH7fPxQBFy7SipbGAjmXnDpZnHnc9Mgot0Isom8CJHq5HnEDldCblI8bMuMaMkg/s900/25_Leonardo%20Valente%20-%20Relica%CC%81rio%20de%20cuspes.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjA_AsCGoZzMByYPjhmH81KAC-RYbr4HAin2MNycEBu8p39MVnlZiK3uTVOlXDviAZb5VNrcvHDSaqyBPwOhwtBd2thZ2yCsxTspQADM-6cIIy5h-MbKmbvhyH7fPxQBFy7SipbGAjmXnDpZnHnc9Mgot0Isom8CJHq5HnEDldCblI8bMuMaMkg/w213-h320/25_Leonardo%20Valente%20-%20Relica%CC%81rio%20de%20cuspes.jpg" title="Leonardo Valente - Relicário de cuspes" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(25) <a href="https://www.mundodek.com/2023/10/leonardo-valente-relicario-de-cuspes.html" target="_blank">Leonardo Valente - Relicário de cuspes</a> (resenha publicada em 08/10/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O mais recente lançamento de Leonardo Valente é uma obra experimental e desafiadora e a frase de abertura , na forma de epígrafe, nos dá uma pista da estratégia que será desenvolvida: "Neste livro, interessa menos o que a palavra diz e muito mais o quanto machuca." De fato, as palavras são utilizadas como signos, em um contexto surrealista, provocando sensações decorrentes das emoções de um protagonista atormentado por seus traumas de infância. Com base em uma polifonia narrativa não linear no tempo, este homem-menino precisa mergullhar no seu mar interior para resgatar as palavras escondidas.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/4ayCfYp" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>Relicário de cuspes</i> de Leonardo Valente</a></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUbRvXXGyAwBQtDAbiw_pZYAU8mg0oaOfkOc6oOTMdXeEIxCO4OQ5G_9pbEunZJ5FLLrGUWb6o5_QW4F0yaOjeSscdcZI433kbCKMXuhIPuWiLDyCWIvZBQiMtSaN4LsKH5Mb9sThlE9qa3BgRSmSzGLs8nsGCOx9QMUReHVpFqcM0M1di_FCE/s900/26_Adriana%20Vieria%20Lomar%20-%20E%CC%81bano%20sobre%20os%20canaviais.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUbRvXXGyAwBQtDAbiw_pZYAU8mg0oaOfkOc6oOTMdXeEIxCO4OQ5G_9pbEunZJ5FLLrGUWb6o5_QW4F0yaOjeSscdcZI433kbCKMXuhIPuWiLDyCWIvZBQiMtSaN4LsKH5Mb9sThlE9qa3BgRSmSzGLs8nsGCOx9QMUReHVpFqcM0M1di_FCE/w213-h320/26_Adriana%20Vieria%20Lomar%20-%20E%CC%81bano%20sobre%20os%20canaviais.jpg" title="Adriana Vieira Lomar - Ébano sobre os canaviais" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(26) <a href="https://www.mundodek.com/2023/10/adriana-vieira-lomar-ebano-sobre-os.html" target="_blank">Adriana Vieira Lomar - Ébano sobre os canaviais</a> (resenha publicada em 21/10/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Romance histórico que demonstra o processo desumano da escravidão, origem do racismo estrutural e a consequente desigualdade social no Brasil. A obra retrata o final do século XIX, quando o tráfico negreiro já havia sido proibido em nosso país por meio da Lei Eusébio de Queirós de 1850, contudo a entrada de cativos africanos continuava ocorrendo de forma ilegal, mesmo com a pressão da campanha abolicionista por parte da sociedade na época. Na ficção de Adriana Vieira Lomar, Ébano é uma mulher negra alforriada que luta contra os preconceitos para ficar com José, imigrante português em busca de melhores condições de vida em nosso país.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/4aEEQAb" target="_blank">Clique aqui para comprar </a></span><a href="https://amzn.to/4aEEQAb" target="_blank"><span style="font-family: arial;"><i>Ébano sobre os canaviais</i> de </span><span style="font-family: arial;">Adriana Vieira Lomar</span></a></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUl0iuuR37lMpZHwbw-6IhnvXRUOclgzw-k2l8EgtwGsSHN_4WBo7GUZ9ozU1ZMeYnX5EXaqKkstjKXb15WlfDtU1ez5205sx3yjU7VQa0Ts01Hc2QIipuiKQ0wniPm6N3nogAGNDgAolFpmc74Rhp1oXkb6ydykHd8pUOIMz5Sdw6VqXHf-AS/s900/27_Thiago%20Medeiros%20-%20Dias%20depois%20sai%CC%81mos%20do%20leprosa%CC%81rio.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Poesia brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUl0iuuR37lMpZHwbw-6IhnvXRUOclgzw-k2l8EgtwGsSHN_4WBo7GUZ9ozU1ZMeYnX5EXaqKkstjKXb15WlfDtU1ez5205sx3yjU7VQa0Ts01Hc2QIipuiKQ0wniPm6N3nogAGNDgAolFpmc74Rhp1oXkb6ydykHd8pUOIMz5Sdw6VqXHf-AS/w213-h320/27_Thiago%20Medeiros%20-%20Dias%20depois%20sai%CC%81mos%20do%20leprosa%CC%81rio.jpg" title="Thiago Medeiros - Dias depois saímos do leprosário" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(27) <a href="https://www.mundodek.com/2023/11/thiago-medeiros-dias-depois-saimos-do.html" target="_blank">Thiago Medeiros - Dias depois saímos do leprosário</a> (resenha publicada em 02/11/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Poemas inspirados na vida pós-pandemia COVID-19, ainda sob o recente impacto de uma distopia que nenhuma ficção poderia ter imaginado. Contudo, este resumo é insatisfatório para uma obra que trata de temas tão abrangentes quanto família, religião e a própria fragilidade da natureza humana. Sempre atento ao ritmo e à oralidade dos seus versos, o autor renova a mágica da literatura ao alcançar a universalidade por meio de um regionalismo que canta ao mesmo tempo a esperança e a desesperança, como destacado pelo poeta Mailson Furtado na orelha do livro, a ambiguidade de um sentimento tão representativo desse sertão que existe dentro de todos nós.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/487Lk8S" target="_blank">Clique aqui para comprar </a></span><span style="font-family: arial;"><a href="https://amzn.to/487Lk8S" target="_blank"><i>Dias depois saímos do leprosário</i> de Thiago Medeiros</a></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAUZxB7Yk0l6hfUK7d2dwhok5gu7zGdcSO4bt-SP7FlKc9eiK1sANebnv4t3HE9VfHWckKD3Fe4shW0gV2XwQ0AtxdKaGIZgWz852jiI2Ry7cTgelKhi-E1x9I6lTlpZgpSUict1yXPE6ozZmNvLNiVP2Upy2pXEW_gNXLME7M_KwRCAB-GV9F/s900/28_Tito%20Leite%20-%20A%20palavra%20em%20seu%20deserto.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Poesia brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAUZxB7Yk0l6hfUK7d2dwhok5gu7zGdcSO4bt-SP7FlKc9eiK1sANebnv4t3HE9VfHWckKD3Fe4shW0gV2XwQ0AtxdKaGIZgWz852jiI2Ry7cTgelKhi-E1x9I6lTlpZgpSUict1yXPE6ozZmNvLNiVP2Upy2pXEW_gNXLME7M_KwRCAB-GV9F/w213-h320/28_Tito%20Leite%20-%20A%20palavra%20em%20seu%20deserto.jpg" title="Tito Leite - A palavra em seu deserto" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(28) <a href="https://www.mundodek.com/2023/11/tito-leite-palavra-em-seu-deserto.html" target="_blank">Tito Leite - A palavra em seu deserto</a> (resenha publicada em 18/11/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Assim como em seu livro de poemas anterior, <i>Aurora de Cedro</i> (7Letras, 2019), nos deparamos com o cuidado de Tito Leite na lapidação da palavra exata, associada com a sonoridade e a força da imagem: <i>"[...] Os físicos escrevem / com uma caneta Bic azul: / a luaviolácea cabe / num buraco de minhoca. / Muitas vezes, a melhor / palavra é a boa imagem."</i> (O homem da caneta azul - p. 61). Quem sabe, sagrado e profano não sejam posições tão antagônicas, quando percebemos que a religião e a arte não deixam de ser expressões do mesmo espírito humano, monástico ou nômade e, portanto, David Bowie e Lou Reed podem ser citados no silêncio do claustro de um mosteiro.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://www.editoracloe.com/poesia?pgid=knhl7lng-9b060811-d920-4987-98bd-0331aa17fad0" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>A palavra em seu deserto</i> de Tito Leite</a></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhs_0xo-wg6CqWA8gD27CcmKeXhip7PDc9dUfbAMp-lD5f0UuPSjXkIh5HChSm7QVbOxLxMrqD8-ig-lt_SKuuquva3epCzdUTDoS1EjuFHVCQzUmczPSAfzFcQZQ8a5h1cxvPOpzgOnNhqqBIDXB0wSU5_Hv-CnnoZMW4MvLkDIEoi4Tb_m4nQ/s900/29_Cale%CC%81u%20Moraes%20-%20Schopenhauer%20e%20o%20Kung%20Fu.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhs_0xo-wg6CqWA8gD27CcmKeXhip7PDc9dUfbAMp-lD5f0UuPSjXkIh5HChSm7QVbOxLxMrqD8-ig-lt_SKuuquva3epCzdUTDoS1EjuFHVCQzUmczPSAfzFcQZQ8a5h1cxvPOpzgOnNhqqBIDXB0wSU5_Hv-CnnoZMW4MvLkDIEoi4Tb_m4nQ/w213-h320/29_Cale%CC%81u%20Moraes%20-%20Schopenhauer%20e%20o%20Kung%20Fu.jpg" title="Caléu Moraes - Schopenhauer e o Kung Fu" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(29) <a href="https://www.mundodek.com/2023/12/caleu-moraes-schopenhauer-e-o-kung-fu.html" target="_blank">Caléu Moraes - Schopenhauer e o Kung Fu</a> (resenha publicada em 10/12/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Romance que tem como base uma compilação de ensaios e fatos históricos, alguns verdadeiros e outros falsos, formando uma tese mais do que delirante: a inusitada relação entre o filósofo alemão Schopenhauer e a prática do Kung Fu. Tudo isso sob a influência de um certo Wang, chinês professor de mandarim, que ele conheceu em 1803 na Escola Wimbledon para Cavalheiros na Inglaterra aos quinze anos de idade. Wang, que teria nascido na China em 1744, era filho de uma das prostitutas eruditas do famoso bordel literário idealizado por Zhi Dao, um homem que gostava de recitar versos de Zhang Dai e seus dois colegas: Hong Zaikuan e Wang.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://editoranauta.com.br/schopenhauer-e-o-kung-fu" target="_blank">Clique aqui para comprar </a></span><span style="font-family: arial;"><a href="https://editoranauta.com.br/schopenhauer-e-o-kung-fu" target="_blank"><i>Schopenhauer e o Kung Fu</i> de Caléu Moraes</a></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglT-kSu6fR0_9EHQClaGVgIoxWJP9QO_ahD9GhyEmhPsRNDpV8Fio6AKn4GGAfiXe4ZQzoxPEyE-AtU_tLFmTwHE8XAbEZ2ERQzfhPxHTbomSfgayXCRPWRXcxK45ZjGDRG_kFCFqFf3bHjnDR2fxKEv1h6hpzXlrSgLhw0k1NJiLtwMt2WtX7/s900/30_Airton%20Souza%20-%20Outono%20de%20carne%20estranha.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="900" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglT-kSu6fR0_9EHQClaGVgIoxWJP9QO_ahD9GhyEmhPsRNDpV8Fio6AKn4GGAfiXe4ZQzoxPEyE-AtU_tLFmTwHE8XAbEZ2ERQzfhPxHTbomSfgayXCRPWRXcxK45ZjGDRG_kFCFqFf3bHjnDR2fxKEv1h6hpzXlrSgLhw0k1NJiLtwMt2WtX7/w213-h320/30_Airton%20Souza%20-%20Outono%20de%20carne%20estranha.jpg" title="Airton Souza - Outono de carne estranha" width="213" /></a></span></div><span style="font-family: arial;">(30) <a href="https://www.mundodek.com/2023/12/airton-souza-outono-de-carne-estranha.html" target="_blank">Airton Souza - Outono de carne estranha</a> (resenha publicada em 17/12/2023)</span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Romance vencedor do Prêmio SESC de Literatura 2023, "Outono de carne estranha" tem como cenário a região de Serra Pelada, situada no sul do estado do Pará e que foi considerado o maior garimpo a céu aberto do mundo entre 1980 e 1983. Como ocorre nessas situações, a corrida do ouro atraiu milhares de garimpeiros em busca de enriquecimento rápido. O ambiente de trabalho era extremamente inseguro, principalmente para os "formigas" que subiam e desciam escadas improvisadas chamadas de “adeus mamãe” com sacos de até 35 kg de terra. Desmoronamentos e contaminações pelo ar, barro e mercúrio levaram à ocorrência de muitas mortes.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/3vfPSvl" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>Outono de carne estranha</i> de Airton Souza</a></span></p><div class="blogger-post-footer"><a href="http://feeds2.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml"><img src="http://www.feedburner.com/fb/images/pub/feed-icon32x32.png" alt="" style="border:0"/></a><a href="http://feeds.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml">Subscribe in a reader</a></div>Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-38645424.post-89015228343319927412023-12-26T19:47:00.002-03:002023-12-26T19:48:21.283-03:00Andri Carvão - A Poesia Invisível - 30 anos de poesia (1993-2023)<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinzeQpx3mhboLE5w5FYEsFXxgYTfgc0sZj3VRLqxZOq9MYBnB1sd8IT-PASSp37jHZut8Y7OIqg2_w8bGE6GG5TkJf5yeMlekZjwlLXlqCVaeAArKzGhAD8qn9MCnnAosVxPQnNSN0mFaGgN34TURSEgt1FQe8HucBMjR6DVHt1AS8I1hm097b/s800/Andri%20Carva%CC%83o%20-%20A%20Poesia%20Invisi%CC%81vel_A.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Poesia brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinzeQpx3mhboLE5w5FYEsFXxgYTfgc0sZj3VRLqxZOq9MYBnB1sd8IT-PASSp37jHZut8Y7OIqg2_w8bGE6GG5TkJf5yeMlekZjwlLXlqCVaeAArKzGhAD8qn9MCnnAosVxPQnNSN0mFaGgN34TURSEgt1FQe8HucBMjR6DVHt1AS8I1hm097b/w640-h480/Andri%20Carva%CC%83o%20-%20A%20Poesia%20Invisi%CC%81vel_A.jpg" title="Andri Carvão - A Poesia Invisível - 30 anos de poesia (1993-2023)" width="640" /></a></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Andri Carvão - A Poesia Invisível - 30 anos de poesia (1993-2023) - Editora Patuá - 212 Páginas - Diagramação: Estúdio Encruzilhada - Imagem de capa: Freepik.com - Lançamento: 2023.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Este mais recente lançamento de Andri Carvão reúne trinta anos de poesia a partir de seus livros anteriores: <i>Puizya pop</i>, <i>Bagaços no abismo</i>, <i>Um sol para cada montanha</i>, <i>Ócios do orifício</i>, <i>Espírito periférico</i>, <i>Poemas do golpe</i>, <i>Dança do fogo dança da chuva</i>, <i>O lado b da poesia</i>, <i>O mundo gira até ficar jiraiya</i> e poemas inéditos. O título, obviamente uma provocação, não deixa de ser também uma homenagem aos poetas e editores que insistem apesar de tudo, permanecendo livres e independentes. O prefácio certeiro da escritora Lilia Guerra explica o conceito da poesia invisível: <i>"[...] A invisibilidade não a enfraquece. É o que a mantém liberta. Livre. Para escolher o sentido pelo qual se manifesta. E, apesar de reunida, não está completa. É infinita." </i></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O que notamos é a mesma inquietação diante das encruzilhadas do mundo, sabendo que apenas a dúvida é verdadeira: <i>"Metade de tudo que existe / é falso / e a outra parte / são meias verdades. / A única verdade absoluta / é a dúvida"</i>. E assim, a poesia de Andri não envelheceu, continua girando até ficar jiraiya: <i>"Nossa poesia sem like / Nossa poesia sem coração / Nossa poesia sem compartilhamento / Nossa poesia sem impulsionamento pago / Nossa poesia amostra grátis / Nossa poesia sem colaboradores / Sem troca de favores / Nossa poesia só / Nossa poesia em si / Por si só / Cheia de si / Esvaziada [...] Poesia transparente que é / Pura entrega puro ego / Coração e razão / Corpo e alma / Nossa poesia invisível / É o nosso lugar de fala"</i></span></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span><span style="font-size: medium;">Encruzilhada</span><span style="font-size: small;"><br /></span></span></span><span style="font-family: arial; font-size: small; font-weight: normal;">(Bagaços no abismo p.43)</span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Quem conhece o caminho<br /></span><span style="font-family: arial;">Está perdido<br /></span><span style="font-family: arial;">Quem conhece o caminho<br /></span><span style="font-family: arial;">Só conhece um caminho<br /></span><span style="font-family: arial;">Quem conhece o caminho<br /></span><span style="font-family: arial;">Não sabe de si<br /></span><span style="font-family: arial;">Quem conhece o caminho<br /></span><span style="font-family: arial;">Só pode seguir sozinho</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Um sol para cada montanha<br /></span><span style="font-family: arial; font-size: small; font-weight: normal;">(Um sol para cada montanha p.66)</span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Eu não queria precisar<br /></span><span style="font-family: arial;">de moedas e medalhas<br /></span><span style="font-family: arial;">Eu só queria precisar<br /></span><span style="font-family: arial;">de uma vida sem migalhas.<br /></span><span style="font-family: arial;">Eu só queria precisar<br /></span><span style="font-family: arial;">de uma vida<br /></span><span style="font-family: arial;">devida-<br /></span><span style="font-family: arial;">mente dividida<br /></span><span style="font-family: arial;">: uma árvore como casa<br /></span><span style="font-family: arial;">(da madeira faz-se a brasa!),<br /></span><span style="font-family: arial;">ossos como ferramentas,<br /></span><span style="font-family: arial;">folhas e gravetos como teto,<br /></span><span style="font-family: arial;">couro de animais como vestimentas<br /></span><span style="font-family: arial;">e um filho que me destinasse um neto.<br /></span><span style="font-family: arial;">Animal, mineral, vegetal<br /></span><span style="font-family: arial;">nunca iam faltar.<br /></span><span style="font-family: arial;">Eu só queria um lugar!<br /></span><span style="font-family: arial;">Eu só queria precisar<br /></span><span style="font-family: arial;">de mais nada.<br /></span><span style="font-family: arial;">Eu não queria precisar.<br /></span><span style="font-family: arial;">Eu só queria precisar...<br /></span><span style="font-family: arial;">Além do mundo,<br /></span><span style="font-family: arial;">de uma sacada,<br /></span><span style="font-family: arial;">além de tudo<br /></span><span style="font-family: arial;">e mais nada.</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Os canalhas detestam a poesia<br /></span><span style="font-family: arial; font-size: small; font-weight: normal;">(O lado b da poesia p.151)</span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Quando abro um dos livros de poesia<br /></span><span style="font-family: arial;">das amigas e dos amigos, penso:<br /></span><span style="font-family: arial;">quando eu crescer quero escrever assim.<br /></span><span style="font-family: arial;">Deslizo os dedos na <i>timeline</i> para ver<br /></span><span style="font-family: arial;">as novidades políticas,<br /></span><span style="font-family: arial;">rir dos memes,<br /></span><span style="font-family: arial;">descobrir novos poemas<br /></span><span style="font-family: arial;">e me deparo com o post de alguém<br /></span><span style="font-family: arial;">que me põe a refletir<br /></span><span style="font-family: arial;">e que minutos depois se perde<br /></span><span style="font-family: arial;">em meio a essa modernidade líquida :<br /></span><span style="font-family: arial;">os canalhas detestam a poesia.<br /></span><span style="font-family: arial;">Lembro dos livros dos amigos e das amigas,<br /></span><span style="font-family: arial;">dos livros lindos das amigas e dos amigos,<br /></span><span style="font-family: arial;">das pequenas tiragens,<br /></span><span style="font-family: arial;">do número de leitores que não temos<br /></span><span style="font-family: arial;">e me ponho mais triste<br /></span><span style="font-family: arial;">do que uma casa<br /></span><span style="font-family: arial;">sem uma estante<br /></span><span style="font-family: arial;">de livros.</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">A leitora<br /></span><span style="font-family: arial; font-size: small; font-weight: normal;">(Inéditos p.189)</span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Hoje eu vi no ônibus uma pessoa lendo um livro.<br /></span><span style="font-family: arial;">Parecia séria de tão compenetrada,<br /></span><span style="font-family: arial;">pois mal piscava<br /></span><span style="font-family: arial;">imersa naquelas páginas;<br /></span><span style="font-family: arial;">de postura imponente,<br /></span><span style="font-family: arial;">mesmo de cabeça baixa,<br /></span><span style="font-family: arial;">trajada com simplicidade,<br /></span><span style="font-family: arial;">nem humilde nem sofisticada,<br /></span><span style="font-family: arial;">embora bem vestida.<br /></span><span style="font-family: arial;">Parecia que o mundo havia acabado ao seu redor.<br /></span><span style="font-family: arial;">e ela fosse um oásis<br /></span><span style="font-family: arial;">na imensidão do espaço deserto.</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Hoje eu vi uma pessoa lendo um livro no ônibus.<br /></span><span style="font-family: arial;">Era como se a única coisa a fazer sentido<br /></span><span style="font-family: arial;">naquele momento em sua vida<br /></span><span style="font-family: arial;">estivesse longe de ser<br /></span><span style="font-family: arial;">a música pop americana<br /></span><span style="font-family: arial;">vazando do fone de ouvido<br /></span><span style="font-family: arial;">do jovem ao seu lado<br /></span><span style="font-family: arial;">e o burburinho de conversas aleatórias<br /></span><span style="font-family: arial;">em trocas de áudios no WhatsApp<br /></span><span style="font-family: arial;">ou vídeos de 30 segundos<br /></span><span style="font-family: arial;">compartilhados nas redes sociais dos passageiros,<br /></span><span style="font-family: arial;">formando uma multidão de solitários.</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">As estatísticas dizem que<br /></span><span style="font-family: arial;">as mulheres leem mais do que os homens no Brasil.<br /></span><span style="font-family: arial;">As estatísticas dizem que <br /></span><span style="font-family: arial;">os jovens leem mais do que os velhos no Brasil.<br /></span><span style="font-family: arial;">As estatísticas dizem que<br /></span><span style="font-family: arial;">se lê mais por obrigação do que por prazer no Brasil.<br /></span><span style="font-family: arial;">As estatísticas dizem (mas não provam nada)<br /></span><span style="font-family: arial;">que o livro é caro, que a educação é cara,<br /></span><span style="font-family: arial;">que a cultura é cara, que o teto é caro,<br /></span><span style="font-family: arial;">que o agasalho é caro, que o sapato é caro,<br /></span><span style="font-family: arial;">que a comida é cara, que o custo de vida é caro,<br /></span><span style="font-family: arial;">meu caro, minha cara.</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Hoje eu vi uma pessoa no ônibus lendo um livro.<br /></span><span style="font-family: arial;">Era como se o mundo tivesse parado<br /></span><span style="font-family: arial;">e só houvesse ela e a sua imaginação<br /></span><span style="font-family: arial;">longe bem longe tão longe daquele ônibus lotado<br /></span><span style="font-family: arial;">carregando sonhos despedaçados<br /></span><span style="font-family: arial;">das casas da periferia até o centro do trabalho.<br /></span><span style="font-family: arial;">Enfim,<br /></span><span style="font-family: arial;">era como se uma arca se abrisse<br /></span><span style="font-family: arial;">e todo o tesouro perdido do mundo<br /></span><span style="font-family: arial;">estivesse logo ali ao lado<br /></span><span style="font-family: arial;">de asas abertas em suas mãos<br /></span><span style="font-family: arial;">iluminando seus olhos.</span></span></h3><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpmKc_T-ykL2guTIsZojLQ_3_l30U6xsZbZ6PIAxGPdfscEVqEiPP350thFRNIOIPc8kJHp8YDr1OzMkgk1Oh4jahCuKRWKW0Pw9CokYSo8NmkFbVbfK8MUKOLM3ibPMD7F2BOaQj6Pqg_KMpGoZP_mvKpRU41XK5Hl1zsF9y-E6hJe8T4ftEA/s699/Andri%20Carva%CC%83o%20-%20A%20Poesia%20Invisi%CC%81vel.jpeg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="poesia brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="699" data-original-width="394" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpmKc_T-ykL2guTIsZojLQ_3_l30U6xsZbZ6PIAxGPdfscEVqEiPP350thFRNIOIPc8kJHp8YDr1OzMkgk1Oh4jahCuKRWKW0Pw9CokYSo8NmkFbVbfK8MUKOLM3ibPMD7F2BOaQj6Pqg_KMpGoZP_mvKpRU41XK5Hl1zsF9y-E6hJe8T4ftEA/w180-h320/Andri%20Carva%CC%83o%20-%20A%20Poesia%20Invisi%CC%81vel.jpeg" title="Andri Carvão - A Poesia Invisível - 30 anos de poesia (1993-2023)" width="180" /></a></i></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i><i>Sobre o autor</i>: </i>Andri Carvão é poeta, artista plástico e carnavalesco. Cursou artes plásticas na Escola de Arte Fego Camargo em Taubaté, na Fundação das Artes de São Caetano do Sul e na EPA — Escola Panamericana de Arte [SP]. Graduando em Letras pela Universidade de São Paulo. É autor de <i>Um sol para cada montanha</i>, <i>Poemas do golpe</i>, <i>Dança do fogo dança da chuva</i>, <i>O mundo gira até ficar jiraiya</i>, entre outros. Mantém o canal no YouTube <i>Poesia•Nunca•Mais</i> e a coluna <i>Traça de Livro:... impressões de leitura...</i> no site da revista Ruído Manifesto.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://www.editorapatua.com.br/a-poesia-invisivel---30-anos-de-poesia-1993-2023-de-andri-carvao/p" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>A Poesia Invisível</i> de Andri Carvão</a></span></p><div class="blogger-post-footer"><a href="http://feeds2.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml"><img src="http://www.feedburner.com/fb/images/pub/feed-icon32x32.png" alt="" style="border:0"/></a><a href="http://feeds.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml">Subscribe in a reader</a></div>Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38645424.post-30690374169456847932023-12-17T13:09:00.021-03:002023-12-17T13:19:52.917-03:00Airton Souza - Outono de carne estranha<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjt-dFcs9czPAwx-ylcMtvDgdvm5LN7tk4qfwQ7nPDdSlr6NpzvZjNwZ0BOnqc4gSHY6P7BH6E1xonOTxnc93DWBkuejpFKA1De7Nbfwt45rcCxcYCKjeEDwP1ke2Db2SWG8XkBaDFINrhGvV_1k3gGfVD1gsccYlM-yPAmlUgMr89SHMJGuDCd/s800/Airton%20Souza%20-%20Outono%20de%20carne%20estranha_A.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Prêmio SESC de Literatura 2023 - Romance" border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjt-dFcs9czPAwx-ylcMtvDgdvm5LN7tk4qfwQ7nPDdSlr6NpzvZjNwZ0BOnqc4gSHY6P7BH6E1xonOTxnc93DWBkuejpFKA1De7Nbfwt45rcCxcYCKjeEDwP1ke2Db2SWG8XkBaDFINrhGvV_1k3gGfVD1gsccYlM-yPAmlUgMr89SHMJGuDCd/w640-h480/Airton%20Souza%20-%20Outono%20de%20carne%20estranha_A.jpg" title="Airton Souza - Outono de carne estranha" width="640" /></a></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Airton Souza - Outono de carne estranha - Editora Record - 176 Páginas - Capa de Leonardo Iaccarino sobre foto de Collart Hervé - Lançamento: 2023.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Romance vencedor do Prêmio SESC de Literatura 2023, "Outono de carne estranha" tem como cenário a região de Serra Pelada, situada no sul do estado do Pará e que foi considerado o maior garimpo a céu aberto do mundo entre 1980 e 1983. Como ocorre nessas situações, a corrida do ouro atraiu milhares de garimpeiros em busca de enriquecimento rápido. O ambiente de trabalho era extremamente inseguro, principalmente para os "formigas" que subiam e desciam escadas improvisadas chamadas de “adeus mamãe” com sacos de </span><span style="font-family: arial;">até 35 kg de terra. Desmoronamentos e contaminações pelo ar, barro e mercúrio levaram à ocorrência de muitas mortes.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">A prosa de Airton Souza, rica em lirismo e sonoridade, lida com fatos históricos e ficção para contar a história de Zuza e Manel, dois garimpeiros que mantêm uma relação homoafetiva não permitida pelas leis locais, e Zacarias, um padre que perdeu a fé e trocou a batina pela bateia. Os protagonistas tentam, a todo custo, "bamburrar", ou seja, encontrar uma grande quantidade de ouro. O autor surpreende pelo contraste entre as descrições ricas em imagens poéticas com cenas brutais de sexo e violência, típicas da região na qual os personagens tentam sobreviver com os corpos cobertos de "melechete", lama fina resultante da lavagem do cascalho, longe da família e abandonados por deus.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">"Os dois homens, nuzinhos, trancados no único cômodo do barraco de Zuza, tentavam, de qualquer maneira, atravessar os fonemas das palavras bateia e bamburro, abraçadas, diariamente, às carnes deles. Zuza e Manel buscavam compreender os sentidos dos horizontes se distanciando dos igapós e de deus. No entanto, permaneciam em silêncio porque qualquer barulho poderia ser escutado pelos garimpeiros que dormiam nos barracos próximos. [...] Com o barraco iluminado apenas por uma lamparina, a meio metro de distância, era impossível distinguir um homem do outro. Nuzinhos, eles formavam uma coisa só. Parados, aparentavam ser um dos formigas carregando um saco atulhado de cascalho dependurado na cabeça. Ao se moverem, os dois machos elaboravam a figura de um garimpeiro com o corpo quase curvado, segurando firme uma picareta nas mãos e cavando sozinho, de maneira frenética, um barranco inteiro." (pp. 14-5)</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">A presença do Estado no garimpo se faz sentir pela repressão do marechal e seus capangas, chamados de "bate-paus", que controlam a lei e a ordem impedindo a presença de mulheres e bebida na região, assim como só permitindo a compra de mantimentos e ferramentas na cobal, um armazém local com preços superfaturados, quase o triplo dos mesmos produtos vendidos em Marabá. Nas palavras do marechal: <i>"A vida é só um caminho para a morte."</i> Resta aos garimpeiros sonhar com as pepitas de ouro não descobertas e gastar a pouca "bufunfa", resultante dos lucros semanais nos cabarés da região com cachaça e as raparigas, <i>"Carne, pão e amor, amém"</i>, como na oração de Zuza que mistura o sagrado e o profano em seu barraco.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">"Os garimpeiros, antes de chegarem a Serra Pelada, construíram a mesma imagem daquele lugar dentro de si. Nenhum deles, quando pisava nos primeiros centímetros de chão do garimpo, levava consigo qualquer tipo de remorso ou infelicidade. Àquela hora, estavam inteiramente entregues à esperança do bamburro. Imaginavam-se com pepitas de ouro nos dentes. A boroca cheia de bufunfa. Noitadas nos cabarés de Marabá. Comprar um chevrolet chevette vermelho. A carteirinha amarela com seu nome completo e fotografia. Quando pensavam nisso, o coração acelerava a ponto de quase sair pela boca. A língua salivava com menos frequência. Do nada, havia uns que sentiam até as mãos formigarem bem no meio delas. A maioria prendia a respiração por mais de um minuto quando entrava na estrada de chão que ligava o vilarejo de eldorado ao que tinha sido a fazenda três barras. Não importavam se seriam formigas ou meias-praças. Interessava mais era descer vivos do pau de arara, dentro do garimpo, com a boroca e os documentos em mãos. Conseguir a permissão de entrar e depois um barranco para trabalhar." (p. 35)</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Manel e Zuza tentam encontrar alguma saída para a solidão e a desesperança em um resto de amor possível nas condições em que se encontram, enquanto o padre Zacarias se vê cada vez mais distante da fé e dos homens: <i>"Umedecido de suor. Da cava. Da alienação dos seminários. Das rezas. Da devoção à igreja. Da ausência de deus. Das respostas das cartas. Do desejo de bamburrar. Da crença de terminar o próprio calvário longe daquela terra." </i>Airton Souza descreve o sofrimento desses personagens em um belo exercício de literatura, nos mostrando um período da nossa história pouco conhecido e no qual o inferno ficou mais próximo da terra. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">"O padre Zacarias, desde a hora em que chegou ao cabaré, prometeu a si mesmo que entraria em um dos quartos com uma rapariga. Pediu uma antarctica. Encheu o copo até derramar. Bebeu todinho de um gole só. Do nada, as luzes embaçaram suas retinas. O gosto amargo da cerveja fê-lo querer cuspir. Antes de chegar ali, durante a viagem do quilômetro cem a Marabá, quando se lembrava de Serra Pelada, metia a mão no bolso e acariciava a bufunfa. Sabia quantas notas de cruzeiro havia lá dentro. A sequência das cédulas dobradinhas naquele maço. O apurado da semana consistia em trezentos e cinquenta e dois gramas de ouro extraído do barranco em que trabalhava. Imaginou sentir o cheiro de incenso quando pensava nos dez por cento do dízimo guardados no bolso de sua calça. O semblante todo impregnado pelas igrejas por onde pregou seus sermões. As unhas doloridas de acariciar os cascalhos." (p. 101)</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; font-style: italic; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgg31uKv5n44W4uPZlS16GFnlljfgLv8LaG3MGtEWLIsnkDNclvCRQjBcKO3CrjkmrNBGMAUR5TBsj-BYB4hBHcN23uxSC_Ny9bjgBwgS_aWSyg4y1rHAcWugL2qtspnRd1SdrO7jEB0v0dMDY2x25Zb-UmDY3oS43j_UT6kx5k8VJTevwGZ5fa/s1500/Airton%20Souza%20-%20Outono%20de%20carne%20estranha.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Prêmio SESC Literatura 2023 - Romance" border="0" data-original-height="1500" data-original-width="988" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgg31uKv5n44W4uPZlS16GFnlljfgLv8LaG3MGtEWLIsnkDNclvCRQjBcKO3CrjkmrNBGMAUR5TBsj-BYB4hBHcN23uxSC_Ny9bjgBwgS_aWSyg4y1rHAcWugL2qtspnRd1SdrO7jEB0v0dMDY2x25Zb-UmDY3oS43j_UT6kx5k8VJTevwGZ5fa/w211-h320/Airton%20Souza%20-%20Outono%20de%20carne%20estranha.jpg" title="Airton Souza - Outono de carne estranha" width="211" /></a></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i style="font-style: italic;">Sobre o autor</i><i>: </i>Airton Souza (Marabá/PA, 1982) é poeta, professor e pesquisador. Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Cultura e Amazônia da Universidade Federal do Pará, também se tornou mestre em Letras na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. Já publicou 47 livros. Idealizou e coordena importantes projetos ligados ao livro, à leitura, às bibliotecas e às literaturas nas Amazônias, entre eles o Anuário da Poesia Paraense e o Prêmio Amazônia de Literatura. Venceu mais de cem prêmios literários, entre os quais os da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, da Academia Paraense de Letras, da Imprensa Oficial do Estado do Pará, da Fundação Cultural do Pará, o III Prêmio Ufes de Literatura e o Prêmio Literário Cidade de Manaus 2022, com o livro de poemas <i>Horóscopo de batizar brumas contra a solidão das asas</i>. </span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><i style="font-family: arial;">Onde encontrar o livro</i><span style="font-family: arial;">: </span><a href="https://amzn.to/41nyJMl" style="font-family: arial;" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>Outono de carne estranha</i> de Airton Souza</a></p><div class="blogger-post-footer"><a href="http://feeds2.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml"><img src="http://www.feedburner.com/fb/images/pub/feed-icon32x32.png" alt="" style="border:0"/></a><a href="http://feeds.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml">Subscribe in a reader</a></div>Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38645424.post-83523653149840719872023-12-16T11:57:00.002-03:002023-12-16T21:22:34.531-03:00Luís Roberto Amabile - O lado que não era visível para quem estava na estrada<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUef55lQqLUIF_oApUWUpOJNvURBE7PRszdLhJULNOplZL9CcwdJZ4kLDfUGfdk-SDRsW4wlGjmRJsBxrMBbakoX4CqEs67a2qql367lykvJXqREM2DiS5Jpb3OlrFNC7OZRZoQhqZV1vCpTBN0wBEkjcz1XjwbSY7ghH_ZXz8Nt5MAtGKf84o/s800/Lui%CC%81s%20Roberto%20Amabile%20-%20O%20lado%20que%20na%CC%83o%20era%20visi%CC%81vel_A.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUef55lQqLUIF_oApUWUpOJNvURBE7PRszdLhJULNOplZL9CcwdJZ4kLDfUGfdk-SDRsW4wlGjmRJsBxrMBbakoX4CqEs67a2qql367lykvJXqREM2DiS5Jpb3OlrFNC7OZRZoQhqZV1vCpTBN0wBEkjcz1XjwbSY7ghH_ZXz8Nt5MAtGKf84o/w640-h480/Lui%CC%81s%20Roberto%20Amabile%20-%20O%20lado%20que%20na%CC%83o%20era%20visi%CC%81vel_A.jpg" title="Luís Roberto Amabile - O lado que não era visível para quem estava na estrada" width="640" /></a></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Luís Roberto Amabile - O lado que não era visível para quem estava na estrada - Editora Zouk - 116 Páginas - Capa: Maria Williane - Lançamento: 2020.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">A capa desta coletânea de contos de Luís Roberto Amabile pode nos passar a impressão de uma leitura leve e agradável, sem maiores desafios literários. Contudo, nada mais longe da realidade, tanto em relação à escolha dos temas, alguns bastante perturbadores, quanto à variedade de técnicas narrativas. O autor, professor de Teoria Literária e Escrita Criativa na PUCRS, colaborou com Luiz Antonio de Assis Brasil na elaboração de <a href="https://www.mundodek.com/2019/04/luiz-antonio-de-assis-brasil-escrever.html" target="_blank">“Escrever Ficção – Um Manual de Criação Literária”</a> (2019), considerada uma obra de referência para escritores, editores, resenhistas e outros profissionais ligados à área de criação e crítica literária.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O conto inicial, "A quem interessar possa", é uma narrativa de pequena extensão conduzida em segunda pessoa, porém de muito impacto, principalmente para leitores mais velhos que poderão se reconhecer na melancolia do personagem ao perceber como a vida passou: <i>"Um dia você vai acordar cansado. Sim, você já acorda cansado, mas nesse dia vai acordar </i>ainda<i> mais cansado, e com uma insistente dor de cabeça. E tonturas, tonturas."</i> O narrador, a partir desta abertura, irá relembrar ao protagonista os acontecimentos da noite anterior, até o ponto em que o mesmo se vê em pedaços no espelho do banheiro, destruído e espalhado no chão.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"São comuns as termas em Budapeste, e todos vão, principalmente os velhos, e mesmo no inverno, principalmente no inverno, e existem várias termas, mas nenhuma tão emblemática como as de Széchenyi. É uma experiência e tanto ficar na piscina observando (de canto de olho) as húngaras, claro, mas também (com menos discrição) os grupos de senhores barrigudos jogando xadrez. Foi o que fiz, depois de alugar um calção de banho de duvidosa estampa de dinossauros ou talvez alguma criatura da mitologia magiar, e fiquei um tempo a olhar os velhos pensando dentro da piscina e movendo as peças no tabuleiro bem na borda, e um deles me perguntou se eu queria jogar."</i> (pp. 26-7) - Trecho do conto "Budapeste"</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Em alguns contos, a metaficção comanda o texto, tornando o ofício do escritor, assim como a paixão pela leitura, pontos centrais da narrativa. É o caso de "Budapeste", livremente inspirado no romance de Chico Buarque, "Dois homens que (nunca) se encontram em Buenos Aires", sobre o desaparecimento do escritor argentino Rodolfo Walsh, assassinado aos cinquenta anos por um comando militar na capital da cidade portenha e o surpreendente "Fresta" com referência à obra "A Trilogia de Nova York" de Paul Auster, narrando um encontro ficcional com o autor americano em Paraty, durante sua participação na segunda edição da FLIP, em 2004.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Achei a vó Zilda desconfortável, com algodão saindo do nariz, os crisântemos disputando espaço com ela. Vestia uma de suas blusas estampadas, uma espécie de bata que mandava fazer na costureira. Numa mistura de comoção e nojo, puxei o véu e lhe dei um beijo na testa seca. Juro que senti o cheiro daquele perfume de alfazema que uma vez derrubei de cima da sua penteadeira. Deixei escapar algumas lágrimas. Minha mãe não percebeu. Ou não quis perceber. Foi a tia Vilma quem se aproximou, meio sonâmbula, pôs um dos pesados braços nos meus ombros e disse: 'É, foi a vez da sua vozinha'."</i> (pp. 60-1) - Trecho do conto "Crônica de velórios anunciados"</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Temas recorrentes em Amabile são as relações familiares e amorosas, assim como a constante presença da morte, caso de "Crônica de velórios anunciados", "A tarde do meu tio", "Domingo de azul Portinari", "Labaredas, labaredas" e o ótimo conto que dá o título ao livro, destacado na apresentação de Amilcar Bettega: <i>"E, de modo quase encantatório, quando a história parece estar se desgarrando como um automóvel que sai da estrada, que encontramos o conto. Nestes textos, o conto se constrói a partir de uma certa lateralidade que quando menos se espera faz emergir um detalhe, aparentemente desconexo, que acaba por dar todo sentido ao texto." </i></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"O noivo tinha ido verificar o outro lado da camionete, o do passageiro, o lado que não era visível para quem estava na estrada. / O noivo deve ter ficado uns dez minutos fora do campo de visão da noiva. Ela permaneceu no carro, enfiando os lábios para dentro da boca e olhando para a camionete. E para a estrada, na direção de onde achava que viria o resgate. Nada. Pensou em ligar para os pais. Não, eles ficariam preocupados. Veio um carro. Não parou. A poeira tinha se dispersado por completo. A noiva abriu os vidros. Não ventava."</i> (pp. 86-7) - Trecho do conto "O lado que não era visível para quem estava na estrada"</span></blockquote><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHcRxrZezuDrf883vDR5XdCYITMJO0jJ_cKUE94AxviUF_-_ZgwV0FTna8gRAeG0uCJzMqq512tmWJKyAaVZNHPEskAWs4jeEZ4ZnpJHYCwUOl54tAFTSgvPm-fOlAYeIojoZrl441yAgn89NcHK8wFjhgoEVxdQzL8w6AlTLXrxcZ8ufls5fS/s1500/Lui%CC%81s%20Roberto%20Amabile%20-%20O%20lado%20que%20na%CC%83o%20era%20visi%CC%81vel.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="1500" data-original-width="1000" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHcRxrZezuDrf883vDR5XdCYITMJO0jJ_cKUE94AxviUF_-_ZgwV0FTna8gRAeG0uCJzMqq512tmWJKyAaVZNHPEskAWs4jeEZ4ZnpJHYCwUOl54tAFTSgvPm-fOlAYeIojoZrl441yAgn89NcHK8wFjhgoEVxdQzL8w6AlTLXrxcZ8ufls5fS/w213-h320/Lui%CC%81s%20Roberto%20Amabile%20-%20O%20lado%20que%20na%CC%83o%20era%20visi%CC%81vel.jpg" title="Luís Roberto Amabile - O lado que não era visível para quem estava na estrada" width="213" /></a></i></span></div><span style="font-family: arial;"><div style="text-align: justify;"><i>Sobre o autor</i>: Luís Roberto Amabile é escritor e professor na Escola de Humanidades da PUCRS, doutor em Teoria da Literatura (2017) e em Escrita Criativa (2020). Teve textos publicados em revistas e antologias no Brasil, em Portugal, na Espanha e nos Estados Unidos. Colaborou com Luiz Antonio de Assis Brasil em <i>Escrever ficção</i> (2019). É autor, entre outros, de <i>O amor é um lugar estranho</i> (2012, finalista do Prêmio Açorianos na categoria contos) e <i>O livro dos cachorros</i> (2015, vencedor da chamada para publicação do IEL/RS).</div></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/41nohED" target="_blank">Clique aqui para comprar </a></span><span style="font-family: arial;"><a href="https://amzn.to/41nohED" target="_blank"><i>O lado que não era visível para quem estava na estrada</i> de Luís Roberto Amabile</a></span></p><div class="blogger-post-footer"><a href="http://feeds2.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml"><img src="http://www.feedburner.com/fb/images/pub/feed-icon32x32.png" alt="" style="border:0"/></a><a href="http://feeds.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml">Subscribe in a reader</a></div>Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38645424.post-79976906397091817502023-12-10T13:19:00.003-03:002023-12-10T13:24:53.892-03:00Caléu Moraes - Schopenhauer e o Kung Fu<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMJrlEk3DSuK6GZN9vF-zMQn425oDoIuOcRItX3GZJGuOMW26shjn9WEry_Fu2u0uJEGHDe-2aNPUpJgPBr5l1yi2a-xwfZ11JK-UzCSzb3XlEzqXz_dMq4JeNRYG2oP3q7NMZU27yXXVqufSROX4nNoHIaLERYnqUOh24MDJUwj-Eqe9tAFT4/s800/Cale%CC%81u%20Moraes%20-%20Schopenhauer%20e%20o%20Kung%20Fu_A.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMJrlEk3DSuK6GZN9vF-zMQn425oDoIuOcRItX3GZJGuOMW26shjn9WEry_Fu2u0uJEGHDe-2aNPUpJgPBr5l1yi2a-xwfZ11JK-UzCSzb3XlEzqXz_dMq4JeNRYG2oP3q7NMZU27yXXVqufSROX4nNoHIaLERYnqUOh24MDJUwj-Eqe9tAFT4/w640-h480/Cale%CC%81u%20Moraes%20-%20Schopenhauer%20e%20o%20Kung%20Fu_A.jpg" title="Caléu Moraes - Schopenhauer e o Kung Fu" width="640" /></a></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Caléu Moraes - Schopenhauer e o Kung Fu - Editora Nauta - 154 Páginas - Foto da capa: Leung King Yu (autor desconhecido, circa 1925) - Lançamento: 2023.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O mais recente lançamento do catarinense Caléu Moraes é um romance que tem como base uma compilação de ensaios e fatos históricos, alguns verdadeiros e outros falsos, formando uma tese mais do que delirante: a inusitada relação entre o filósofo alemão Schopenhauer (1788-1860) e a prática do Kung Fu. Tudo isso sob a influência de um certo Wang, chinês professor de mandarim, que ele conheceu em 1803 na Escola Wimbledon para Cavalheiros na Inglaterra aos quinze anos de idade. Wang, que teria nascido na China em 1744, era filho de uma das prostitutas eruditas do famoso bordel literário idealizado por Zhi Dao, um homem que gostava de recitar versos de </span><span style="font-family: arial;">Zhang Dai (1597-1684)</span><span style="font-family: arial;"> e seus dois colegas: Hong Zaikuan e Wang.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Para contar esta tresloucada história em estilo de romance policial, o autor apresenta algumas evidências da relação de Schopenhauer com Wang e da prática de artes marciais: a primeira em uma carta do filósofo ao pai na qual menciona um chinês que conheceu na escola; a segunda, um registro de seu diário: <i>"para tornar a estadia neste lugar sombrio pelo menos suportável, líamos juntos, o senhor Wang e eu, as aventuras dum certo Juiz Di"</i>. A terceira, um fato conhecido da biografia de Schopenhauer que teria empurrado uma vizinha escada abaixo, utilizando a arte de deslocar o ar contra um adversário. Finalmente, a referência a uma publicação barata inglesa sobre um jovem alemão, Arthur Hauer, que elimina um vampiro. </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"[...] Zhi Dao, dias atrás, teve uma ideia: 'poderíamos construir um bar literário, um bordel de eruditos? Certamente, ainda que com pouco dinheiro, eu o frequentaria'. Não há coisa que os literatos chineses gostam mais do que se queixar da desgraça dos exames públicos. São terríveis. Os candidatos fazem textos longos e estúpidos, comentários incansáveis sobre trechos de clássicos que não servem para nada. Seus ensaios não têm outro fim que o dos cargos públicos. Todos querem ser um mandarim, 'figura mole e [de] vestuário seboso de modesto burguês', descreveu Camilo Pessanha (1993, p. 32). Querem o poder de enjaular criminosos e desafetos. Zhi Dao também. É um chinês do seu tempo, afinal. Conservou por alguns anos uma pensão magra do governo que lhe permitia estudar. Certo dia, sem mais, suspenderam o seu benefício. Estava velho e reprovara, outra vez, nos exames públicos. Não teria outra chance. Então, para sustentar os quatro filhos, dos quais apenas um tinha alguma inteligência, precisava trabalhar. A esposa era imprestável; estava acamada. Foi aí, durante uma noite amarga, quando ouvia os três meninos idiotas balbuciarem alguma coisa, que teve a grande ideia do bordel literário: putas inteligentes que falassem de poesia para entreter os clientes."</i> (p. 20)</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Para tornar a leitura ainda mais desafiadora, Caléu Moraes se coloca como narrador misturando ficção e realidade para falar da perda do próprio pai em agumas passagens que deixam um pouco de lado a narrativa bem-humorada, característica do autor, para assumir um tom bem mais sensível (na verdade, a paternidade é um tema recorrente em todo o livro, mesmo sem sabermos o que é necessariamente verdadeiro ou falso): <i>"Quando padecia do câncer que o matou, meu pai arriscava: 'Talvez eu pudesse voltar do mundo dos mortos' [...] 'Preciso lhe contar que, certa vez, aprendi alguns movimentos de kung fu.' / 'Como é?' / 'Como é o quê? Movimentos de kung fu. Se eu pudesse voltar dos mortos eu iria ensiná-los a você.'" </i></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Schopenhauer estava em Amsterdã, cidade de que gostara. Dizia que suas casas, ainda que velhas, pareciam novas, porque os moradores as pintavam constantemente. Revirava as lojas de porcelana que 'tinham um largo inventário de objetos chineses'. Mas ele queria um pagode, a estatueta sorridente dum homem gordo e sentado. Não sabemos como eram estas lojas. No entanto, é possível imaginar que o jovem Schopenhauer tenha visto um chinês de verdade. Na Holanda do século XVII havia chegado alguns chineses. Sendo Amsterdã um dos centros do capitalismo mercante, era natural, como nos mostra van Zanden (1993), que boa parte da sua força de trabalho fosse constituída de imigrantes. Os chineses traziam consigo estatuetas e vasos de porcelana para vender na Europa. Por esta razão, talvez o dono de uma das lojas que Schopenhauer visitou, fosse um chinês. Talvez. Evitemos especular demais. Sabemos que um ano mais tarde, o grande filósofo alemão, tornou-se o discípulo favorito de um chinês. [...] Em geral, apenas um homem é representado da maneira que Schopenhauer buscava: a barriga e a cabeça redondas; os olhos puxados; as pernas cruzadas e os pés em oposição às coxas... Falamos, naturalmente, de Buda."</i> (pp. 33-4)</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_u7B1-1F6JNWsTR426x7shlHJH8XCKunrOmiidu2iaQICf2Eg02zsPZkuSzUyY3ipPvvzIiSmKnPuKrMFbLo6w2fYyrQsGNQ2Sqm9YalhMQoGDD1URvBxyCwpoU8D9Bu-NRJeuHpUDx7aiWLEKmElPfATqTggr-tdIWSilPqp5k02w-c7PFtp/s1316/Cale%CC%81u%20Moraes%20-%20Schopenhauer%20e%20o%20Kung%20Fu.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="1316" data-original-width="878" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_u7B1-1F6JNWsTR426x7shlHJH8XCKunrOmiidu2iaQICf2Eg02zsPZkuSzUyY3ipPvvzIiSmKnPuKrMFbLo6w2fYyrQsGNQ2Sqm9YalhMQoGDD1URvBxyCwpoU8D9Bu-NRJeuHpUDx7aiWLEKmElPfATqTggr-tdIWSilPqp5k02w-c7PFtp/w213-h320/Cale%CC%81u%20Moraes%20-%20Schopenhauer%20e%20o%20Kung%20Fu.png" title="Caléu Moraes - Schopenhauer e o Kung Fu" width="213" /></a></i></span></div><span style="font-family: arial;"><div style="text-align: justify;"><i>Sobre o autor</i>: Caléu Moraes é catarinense, graduado em História, e fez mestrado em Antropologia Social e doutorado em Estudos da Tradução pela UFSC. Venceu o Concurso de Contos Silveira de Souza, da mesma UFSC, com a obra <i>Guia literário para machos</i>. É autor dos romances <i>Declínio e queda de mim mesmo</i>, <i>A morte do ocultista</i> e <i><a href="https://www.mundodek.com/2023/08/caleu-moraes-as-aventuras-de-lorde.html" target="_blank">As aventuras de Lorde Nélson</a></i>, entre outros.</div></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://editoranauta.com.br/schopenhauer-e-o-kung-fu" target="_blank">Clique aqui para acessar o site da Editora de </a></span><span style="font-family: arial;"><a href="https://editoranauta.com.br/schopenhauer-e-o-kung-fu" target="_blank"><i>Schopenhauer e o Kung Fu</i> de Caléu Moraes</a></span></p><div class="blogger-post-footer"><a href="http://feeds2.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml"><img src="http://www.feedburner.com/fb/images/pub/feed-icon32x32.png" alt="" style="border:0"/></a><a href="http://feeds.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml">Subscribe in a reader</a></div>Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38645424.post-27313210344633323722023-12-09T15:28:00.001-03:002023-12-09T15:28:17.855-03:00Letícia Myrrha - Ichi go Ichi e<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHcQvP0ADJKv4BXu164kcl5aK1XRU9kfjikWHVkkJiXanioaEax7cCMXcAj7_hMOvGeHzlSrqJRfuZhUdd_dsVv3BJPBSg1Wrv6QlNnwGgNtZt2cdfUJFz6R8ttZ6_SCHW-jyO2hJDOGKuXB0fiqFAHGQe1q2S0Y_HoQC6nkH4-I501zLwzhj9/s800/Leti%CC%81cia%20Myrrha%20-%20Ichi%20Go%20Ichi%20e_A.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Crônicas de viagem" border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHcQvP0ADJKv4BXu164kcl5aK1XRU9kfjikWHVkkJiXanioaEax7cCMXcAj7_hMOvGeHzlSrqJRfuZhUdd_dsVv3BJPBSg1Wrv6QlNnwGgNtZt2cdfUJFz6R8ttZ6_SCHW-jyO2hJDOGKuXB0fiqFAHGQe1q2S0Y_HoQC6nkH4-I501zLwzhj9/w640-h480/Leti%CC%81cia%20Myrrha%20-%20Ichi%20Go%20Ichi%20e_A.jpg" title="Letícia Myrrha - Ichi go Ichi e" width="640" /></a></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Letícia Myrrha - Ichi go Ichi e: Crônicas de uma brasileira no Japão - Editora Patuá - 188 Páginas - Capa e Projeto Gráfico: Roseli Vaz - Lançamento: 2021.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O brasileiro demonstra uma habilidade única na arte de escrever crônicas, um gênero que expressa o inusitado casamento do jornalismo com a literatura e se tornou muito popular em nosso país ao longo do tempo. Por outro lado, para os autores contemporâneos, é um desafio e tanto manter o nível de gerações passadas que criaram a tradição e um público leitor cativo, gênios como: Machado de Assis, João do Rio, Lima Barreto, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Rubem Braga, Rachel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Nelson Rodrigues, Millôr Fernandes, João Ubaldo Ribeiro e Luis Fernando Verissimo, para citar apenas alguns poucos nomes mais consagrados.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; text-align: center;">Letícia Myrrha nos apresenta uma seleção de crônicas com as suas impressões, sentimentos e experiências sobre o período de três anos em que viveu na cidade de Nagoya no Japão, juntamente com o marido Eduardo e duas crianças pequenas, Lis e Pedrinho. Como destacado pela autora na apresentação do livro, não se trata de um trabalho de antropologia sobre a sociedade japonesa, mas sim o resultado da vivência e adaptação, juntamente com a família, em um país que não existe nos guias de turismo tradicionais ou livros de História, mas apenas dentro dela. Um Japão que se revela aos poucos entre a rigidez dos costumes e a delicadeza da cultura: <i>"rico de contradições, sabores, cores, medos, incertezas e, sobretudo, de beleza."</i></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Abri as malas e tudo aquilo que trouxemos agora me pareceu ser pouco. Cada objeto retirado de dentro da mala me fez querer estar em casa ou em algum lugar qualquer onde houvesse certeza. E só então, naquele instante, parei para sentir. Qual será o nosso destino? E as respostas todas me escaparam. Senti medo, mas um medo diferente de qualquer outro medo que já havia sentido. Um medo de me perceber sozinha no mundo, de reconhecer que somos coisa pouca perto da grandeza de tudo. / Depois de um banho quente, às duas da madrugada, Lis finalmente dormiu agarrada na bonequinha bebê. Olhei para aquela criança de dois anos e meu coração se encheu de amor. Quanta coisa ela ainda viveria no Japão e em qualquer outro lugar do mundo? Fechei os olhos e pensei em minha mãe, na nossa família agora tão distante. Em algum lugar deste mundo, que agora me parecia ainda maior, alguém sabia quem éramos de verdade. Em algum lugar éramos amados. E finalmente me senti segura para descansar."</i> - Techo da crônica <i>Hajimemashite</i> (p. 29) </span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Posso entender muito bem as crônicas de Letícia porque também vivi como expatriado por um longo período no Japão, aproximadamente um ano e, por coincidência, na mesma cidade em que ela residiu, Nagoya. O Japão sem dúvida é um país de grandes contradições, um povo que se orgulha do passado, preservando a cultura e as tradições locais mas, ao mesmo tempo, seduzido pela modernidade e a tecnologia de ponta. Uma sociedade extremamente rígida e vigilante com relação à disciplina, organização e comportamento, tanto na convivência familiar, na escola ou no trabalho, mas que se revela fascinante pela delicadeza dos costumes, na culinária, arquitetura e em outras expressões artísticas. A vida entre o crisântemo e a espada.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Viver como expatriado no Japão ou em qualquer lugar do mundo traz desafios. O medo da solidão, a ansiedade com o novo e a sensação de inadequação são presenças constantes. Vi pessoas sendo transformadas pelo medo, na pior versão delas mesmo. Observei, também, comportamentos característicos de quem vive um trauma – o apego excessivo à cultura de origem, a rejeição da cultura japonesa em absoluto, crises de pânico e ansiedade, desavenças frequentes entre adultos e ações que ignoravam os princípios mais básicos da sociabilidade. A verdade é que ninguém sai ileso da experiência assustadora que é morar em um país como o Japão. Olhamos em volta e enxergamos apenas o diferente, tudo aquilo que não somos. E uma pergunta aterrorizante começa a martelar na nossa cabeça. Se não somos tudo aquilo que está ali fora, então quem somos nós? Reflexão toda essa feita sem a segurança de estarmos em um ambiente familiar e acolhedor. Ter que olhar para si mesmo, se redescobrir, encarar os medos e se perceber em absoluta solidão, do outro lado do planeta, não é tarefa fácil para ninguém."</i> - Trecho da crônica <i>Oni wa sotto fuku wa uchi </i>(p. 98)</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Cada capítulo é nomeado por uma expressão japonesa e uma pequena explicação sobre o contexto em que essas expressões são utilizadas, conectando a acontecimentos no cotidiano da autora. <i>"</i><span style="text-align: center;"><i>Ichi go Ichi e"</i>, por exemplo, que empresta o título ao livro, significa que <i>"a vida deve ser aproveitada em toda a sua totalidade. Nenhum momento se repete, cada experiência é única e preciosa. Algumas traduções possíveis seriam 'uma vida, uma chance', 'um caminho, um encontro' ou 'só agora, nunca mais'"</i>. </span>Um livro muito recomendado para aqueles que já tiveram a experiência de viver no Japão ou pretendem viajar a trabalho no futuro para este país.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNubWtyZqSRGOOJ-rMUr_vUkbr9KAftPL5j9hxr_dLynldS7u-7McHSF4qsFVqemxNeek5R-EW0OTXCGF_Jj2AsgUwhFNWLzWHk2hP9q0s7Nv3SzRdBFuTz9fUvb1vcZgjbA-ij78nX8jpyEd4xQM4POE0Mxk1T4e4eusIeUx3El77rQAkmoWW/s1500/Leti%CC%81cia%20Myrrha%20-%20Ichi%20Go%20Ichi%20E.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Crônicas de viagem" border="0" data-original-height="1500" data-original-width="1000" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNubWtyZqSRGOOJ-rMUr_vUkbr9KAftPL5j9hxr_dLynldS7u-7McHSF4qsFVqemxNeek5R-EW0OTXCGF_Jj2AsgUwhFNWLzWHk2hP9q0s7Nv3SzRdBFuTz9fUvb1vcZgjbA-ij78nX8jpyEd4xQM4POE0Mxk1T4e4eusIeUx3El77rQAkmoWW/w213-h320/Leti%CC%81cia%20Myrrha%20-%20Ichi%20Go%20Ichi%20E.jpg" title="Letícia Myrrha - Ichi go Ichi e" width="213" /></a></i></span></div><span style="font-family: arial;"><div style="text-align: justify;"><i>Sobre a autora</i>: Com mais de 100 crônicas publicadas no Jornal Domingo, de Pouso Alegre, Letícia Myrrha iniciou sua carreira literária aos 22 anos com a crônica "Prisioneiros em liberdade". Em 2016, lançou seu primeiro livro de crônicas, "Caminho de mesa". Nascida em Belo Horizonte, formou-se em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas. Morou por dez anos em São José dos Campos, interior de São Paulo. Em 2016, se mudou para o Japão, onde viveu por três anos como expatriada na cidade de Nagoya.</div></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://amzn.to/46QflbV" target="_blank">Clique aqui para comprar </a></span><a href="https://amzn.to/46QflbV" target="_blank"><span style="font-family: arial;"><i>Ichi go Ichi e</i> de </span><span style="font-family: arial;">Letícia Myrrha</span></a></p><div class="blogger-post-footer"><a href="http://feeds2.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml"><img src="http://www.feedburner.com/fb/images/pub/feed-icon32x32.png" alt="" style="border:0"/></a><a href="http://feeds.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml">Subscribe in a reader</a></div>Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38645424.post-86714485371820852582023-12-03T11:57:00.002-03:002023-12-09T16:42:25.952-03:00Fernanda Melo - O futuro é vibrante<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwYtHjfN4enToWtwPtBLoLdXu8B4pzfo0Uy9Lk5LYzUk7lRwQjGC0UUSCopG5rpVLjRAnmftkb5sKTqP3m1JEHA-73UyaxN_LLDYgXnOfQUcylQmRipkicied28-CB0AiafPS7t8ytxhe3oA8FFY7iNY-kpw-qy3QqfedkzIpxOtgAsFX5El-S/s800/Fernanda%20Melo%20-%20O%20futuro%20e%CC%81%20vibrante_A.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwYtHjfN4enToWtwPtBLoLdXu8B4pzfo0Uy9Lk5LYzUk7lRwQjGC0UUSCopG5rpVLjRAnmftkb5sKTqP3m1JEHA-73UyaxN_LLDYgXnOfQUcylQmRipkicied28-CB0AiafPS7t8ytxhe3oA8FFY7iNY-kpw-qy3QqfedkzIpxOtgAsFX5El-S/w640-h480/Fernanda%20Melo%20-%20O%20futuro%20e%CC%81%20vibrante_A.jpg" title="Fernanda Melo - O futuro é vibrante" width="640" /></a></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Fernanda Melo - O futuro é vibrante - Editora Ópera - 230 Páginas - Capa e projeto gráfico: Moacir Calarga - Lançamento: 2023.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O livro de estreia de Fernanda Melo é uma coletânea de seis contos ou novelas, devido à extensão dos textos e variedade de personagens. Como elemento comum, em cada narrativa encontramos uma mulher em crise, buscando algum tipo de solução para seus problemas que podem ser de caráter prático ou existenciais e, neste ponto, a autora não economizou na criatividade, apresentando desdobramentos inusitados e situações que fogem ao controle das protagonistas. O estilo pode variar rapidamente da comédia ao drama, mas os textos – bem-humorados ou reflexivos – prendem a</span><span style="font-family: arial;"> atenção do leitor que não resiste a uma boa história.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Em "O futuro é vibrante", que empresta o título ao livro, Cíntia decide acreditar na indicação de uma amiga sobre um site que promete realizar os sonhos de seus clientes por meio de um pequeno implante, colocado na região da nuca, espécie de marca-passo vibracional que emite uma vibração favorável de acordo com a programação previamente selecionada. Cíntia escolhe o protocolo "Cinderela" que induz um comportamento adequado para despertar a atração física nos homens. No início, tudo parece funcionar como planejado, mas sabemos muito bem como os sonhos podem ser traiçoeiros, ou seja, é necessário muito cuidado com o que desejamos.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Talvez Cíntia tivesse que rever sua vida, talvez ela não fosse uma pessoa razoável, como sempre pensou que fosse. Quando se chega ao ponto de se sentar numa cadeira e levantar o cabelo da nuca para que uma completa estranha aponte para aquela região algo que tem toda aparência de uma pistola, alguma coisa só pode estar bem errada. E pensar que não é uma pistola, que é muito mais como um grampeador, e que aquela completa estava lá porque foi paga, porque Cíntia depositou todas as suas economias em um site que prometia realizar todos os seus desejos, à escolha, não tornava a situação menos insana. 'Se eu recuar agora', Cíntia pensou, 'perco todo meu dinheiro. Agora tenho que ir até o fim'. Ela realmente estava muito mais perdida, solitária, deprimida, sem perspectiva e crédula do que pensava. Como leu uma vez num livro de autoajuda, se uma situação é difícil demais de explicar, você nem ao menos deveria estar dentro dela. Era o caso."</i> (p. 11) - Trecho de "O futuro é vibrante"</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Já em "Três pedidos", Flora tem a mesma chance de realizar um desejo, na verdade três desejos, o que pode ser ainda mais complicado, como logo percebemos nesta hilária novela, cheia de reviravoltas, na qual a clássica fábula da lâmpada mágica ganha uma versão atual. As coisas ficam mais sérias em "Consciência pura" quando Ecléia relembra passagens da sua última vida na Terra, observando a si mesma sentada no chão da cozinha, aos oitenta e sete anos, <i>"um corpo num apartamento vazio que levou dias para ser encontrado"</i>, desejando reter um pouco mais dessa experiência, mesmo sabendo da fragilidade da existência humana.</span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Ele explicou que o ser humano é um animal tão simples, com vidas tão entrelaçadas aos que lhe são próximos e à sua época, que a partir da programação primária de experiências, todo resto é previsível. Tudo? Tudo. Quem conhece as programações de origem é capaz de saber qual será a decisão a cada passo, a cada etapa; a sensação do humano é que ele decidiu com o que estava acontecendo naquele momento, que pesou as informações que tinha – na verdade, ele apenas repetiu padrões de caráter formados decididos muito antes do seu próprio nascimento. Graças a essa previsibilidade, todos faziam o que era esperado, relacionavam-se da forma esperada, se sabia de antemão tudo o que aconteceria, do nascimento à morte. À medida que se descolasse daquela última existência, Ela deixaria de se ver como Ecléia, a última vida que preencheu, para se lembrar de quem era: uma Consciência Pura."</i> (p. 89) - Trecho de "Consciência pura"</span></blockquote><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Um tema recorrente na literatura e no cinema, o que faríamos se o mundo fosse acabar, é a abordagem de "A semana de Bellatrix", a protagonista tem uma semana para se despedir. Contudo, talvez a novela mais sensível seja a que encerra o livro, "Cahal e a mensagem da Deusa Lua", uma narrativa não localizada no tempo e no espaço, que descreve uma antiga civilização e a paixão de uma menina pela Lua: <i>"Quando chegou até lá em cima, no galho mais alto da árvore mais alta, Cahal tentou ficar de pé. A Lua havia acabado de surgir, um buraco negro entre estrelas acesas. O seu objetivo, a sua esperança, era conseguir tocar a Lua. [...]"</i></span></p><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; font-style: italic; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsXUfiGgS6pn6KzP4ERMEJsBwRTGNCn7CmbXml1n-NjuNszZoJO_sctcmKu94Wiyqs0wVnDtIHIJH2VshxBWwzJ9upUKD_nOs_ZGZrjFxySr__SuQJIYyGgWEZTGrO1cqWDdCf2Ib812yr3ImpmKGLATB-2mOXOXLGSnlF8eWPElPOw-uNlSX4/s748/Fernanda%20Melo%20-%20O%20futuro%20e%CC%81%20vibrante.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="748" data-original-width="500" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsXUfiGgS6pn6KzP4ERMEJsBwRTGNCn7CmbXml1n-NjuNszZoJO_sctcmKu94Wiyqs0wVnDtIHIJH2VshxBWwzJ9upUKD_nOs_ZGZrjFxySr__SuQJIYyGgWEZTGrO1cqWDdCf2Ib812yr3ImpmKGLATB-2mOXOXLGSnlF8eWPElPOw-uNlSX4/w214-h320/Fernanda%20Melo%20-%20O%20futuro%20e%CC%81%20vibrante.png" title="Fernanda Melo - O futuro é vibrante" width="214" /></a></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i style="font-style: italic;">Sobre a autora</i><i>: </i>Fernanda Melo nasceu em 1977, em São Paulo, e reside em Curitiba. Pela Universidade Federal do Paraná formou-se em Psicologia, Ciências Sociais – Sociologia e fez mestrado em Sociologia da Saúde, cuja dissertação “Cegueira e Normatividade Social” foi publicada como livro pela editora da mesma instituição. Dinossaura da internet, vivenciou a febre do Orkut e teimou em ser blogueira durante quase vinte anos, sob o nickname de Caminhante. No seu próprio blog e em colaboração com diversos sites, escreveu desde críticas literárias a crônicas, desenvolvendo seu estilo próprio. Este é o seu livro de estreia como contista.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://operaeditorial.com.br/produto/o-futuro-e-vibrante/" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>O futuro é vibrante</i> de Fernanda Melo</a></span></p><div class="blogger-post-footer"><a href="http://feeds2.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml"><img src="http://www.feedburner.com/fb/images/pub/feed-icon32x32.png" alt="" style="border:0"/></a><a href="http://feeds.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml">Subscribe in a reader</a></div>Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38645424.post-12801388191540271912023-11-25T13:14:00.021-03:002023-11-25T13:19:42.607-03:00Abaixo da bandeira - Fábio Mariano, Gabriel Morais Medeiros e Whisner Fraga<p><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpNtHVe1mtVfF6F8m1GOWsnt40AWM8gPR9U-CXjxB5Y5LeZn1k2YeuNSCI7OuGeSeU_U0kZYrXmiAUg389BwFiKvZTUsY-QV6Zn8aVNaC2RVonKzTi7zcoAEWTo5m8lkvNjAP_YDNihQK_uH7IIfHSRo5xHaK9oU7S6r_H_3mwAjd_tQJ23gx1/s800/Abaixo%20da%20bandeira_AAA.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpNtHVe1mtVfF6F8m1GOWsnt40AWM8gPR9U-CXjxB5Y5LeZn1k2YeuNSCI7OuGeSeU_U0kZYrXmiAUg389BwFiKvZTUsY-QV6Zn8aVNaC2RVonKzTi7zcoAEWTo5m8lkvNjAP_YDNihQK_uH7IIfHSRo5xHaK9oU7S6r_H_3mwAjd_tQJ23gx1/w640-h480/Abaixo%20da%20bandeira_AAA.jpg" title="Abaixo da bandeira - Editora Ofícios Terrestres" width="640" /></a></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Abaixo da bandeira - Fábio Mariano, Gabriel Morais Medeiros e Whisner Fraga - Editora Ofícios Terrestres - 176 Páginas - Ilustração de capa: Las camas de la muerte, Goya - Design de capa: Carla Dias - Lançamento: 2023.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Esta antologia de contos é o resultado de um projeto contemplado pelo ProAC 24/2022, de realização da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo. A ideia básica da edição foi a de reunir três autores brasileiros contemporâneos com diferentes estilos, mas um único tema. Fábio Mariano, Gabriel Morais Medeiros e Whisner Fraga escrevem sobre situações vivenciadas no Brasil nos anos recentes, alguns temas sombrios e perturbadores, tais como a pandemia de COVID-19, a crise no sistema educacional e o recente extremismo político que transformou a bandeira nacional em manto patriótico para alguns e, ao mesmo tempo, mortalha para outros, como bem destacado na apresentação da Editora Ofícios Terrestres e na ilustração de capa com a obra de Goya que expressa tão bem o terror da morte.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Na primeira parte, Fábio Mariano, assim como em seus livros anteriores, ambienta as narrativas na fictícia cidade de Cartago no Brasil. Destaque para os contos <i>"um menor"</i> que trabalha com os conceitos de sonho, inconsciência e memória; <i>"Estado de Exceção"</i>, no qual brigas familiares e a pandemia são barreiras que a protagonista precisa vencer para realizar o sonho de cursar Sociologia e o ótimo <i>"Pleito"</i> com a crueldade da rotina de trabalho em um call center e algumas declarações que você certamente já ouviu antes: <i>"[...] Não vai ter partidinho, não vai ter corrente, não vai ter essa merda de ninguém solta a mão de ninguém. Vai ter apocalipse nuclear, bomba, e essa porra de ONG, essa merda de militância, esse bando de mimizento do caralho, tudo isso vai ter que pegar a arma que tiver na mão e vai ter que resistir, saca?"</i></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Uma semana depois, Adelaida me traria um recorte de jornal sobre um massacre escolar seguido de suicídio – o primeiro em Cartago. Era o penúltimo dia do meu detox – sem televisão, sem notícias no celular, sem olhar o jornal, sem nada. E teria me ajudado, talvez, se o maldito recorte não tivesse sido colocado para mim. Mas o fato é que eu precisava dele, e precisava da minha raiva. Adelaida pareceu me ver transtornado – não era a primeira vez, e não seria a última. Mas ela me disse que era bom. / As imagens de um menor, no entanto, não são divulgadas pela mídia. A notícia era pequena, seca, não nomeava e nem fazia alarde. E é assim que deve ser."</i> - Trecho do conto "<i>Um menor" </i>de Fábio Mariano (p. 14)</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Já os contos de Gabriel Morais Medeiros, focam na recente mercantilização do ensino como em <i>"Os nômades do altiplano"</i> que nos apresenta o cursinho Fábrica de Bixos, assustadoramente real, uma instituição de sucesso que promete resultados nas turmas preparatórias para cursos de alta concorrência como nos vestibulares de Medicina, apelando para um marketing agressivo do tipo: <i>"se não quer competir, então pede pra sair", ou ainda: "</i></span><i style="font-family: arial;">seus sonhos não devem</i><i style="font-family: arial;"> pedir licença para passarem por cima de tudo", </i><span style="font-family: arial;">uma exaltação à postura de vencer a qualquer custo e o prenúncio das futuras campanhas políticas de desinformação que iriam assolar o país.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Em novembro de 2018, recebi cento e oito mil reais decorrentes de um processo trabalhista que movi contra o cursinho Fábrica, onde trabalhara por mais de quinze anos. O cursinho: o Fábrica de Bixos, ou Fábrica Recursos Educativos pela razão social, onipresente nos outdoors de LED de C., onde figuravam estudantes – sempre brancos – fantasiados de Einstein, estudantes Elon Musk, estudantes Steve Jobs. Quinze anos dando aulas sem fim, inevitavelmente, de manhã, à tarde e à noite. À tarde: ainda existia o Extensivo Tarde, essa turma fantasma. Trabalhos infinitos: toneladas de horas-extras não pagas, horas-cheias e horas-vazias, banco de horas, fundo de garantia,e tudo. A mesma história de sempre. Como sou uma máquina de anotar os mínimos detalhes, fui registrando cada batida de ponto, cada holerite, cada pagamento por fora, logo que percebi que muita coisa, naquela escola, era truque. [...]"</i> - Trecho do conto "<i>Os nômades do altiplano"</i> de Gabriel Morais Medeiros (p. 58)</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Na terceira e última parte, as narrativas de Whisner Fraga são formados com base em recortes do cotidiano como, por exemplo, em <i>"decoro"</i>, na qual uma cena inicialmente banal em um posto de gasolina de uma grande cidade, evolui rapidamente para uma situação trágica, demonstrando a crise de valores morais em nosso país, um final surpreendente de arrepiar mesmo. Em outros contos, encontramos novamente a figura de Helena, a misteriosa interlocutora e confidente presente em outros livros do autor, assim como um estilo de textos de pequena extensão, exemplo de "alianças lutuosas", reproduzido integralmente abaixo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"o velho morreu num domingo: eles me repreenderam: não é bom tratar um velho por velho, e a morte?, é bom tratar a morte por morte?, trabalhou segunda, terça, quarta, quinta sexta, sábado e domingo o armazém fechava, mesmo, e de madrugada o carregaram para o hospital: a ambulância freava nos semáforos, que, mesmo tarde, se alternavam, adestrados, entre o verde, o amarelo e o vermelho, como o sangue conspirando a fatalidade e eu evoco as vezes em que o chamei de meu pai, embora não fosse e fosse, simultaneamente, por um desses paradoxos semânticos e talvez fosse uma pessoa justa, porque ninguém ficou sem os secos ou os molhados até sábado, embora talvez fosse mais justo se abrisse aos domingos também, pois há igualmente necessidades nesse dia, além dos conselhos, alguns até cogitaram encontrar o velho, ouvir a rouquidão espalhar um último agrado, partir exultante, mas ninguém apareceu e a notícia do óbito se espalhou e a cidade ficou triste, mas porque sepultar alguém num domingo?, não era preferível deixar para segunda?, só os filhos velaram o corpo do velho, e nem todos puderam comparecer, impossível cancelar um churrasco em cima da hora."</i> - Conto "<i>as alianças lutuosas"</i> de Whisner Fraga (p. 158)</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi11mJLY4YGjI68WVjV870_gEN1zAHdJq7LRYz6VVKPEnmOYW-OsF5O93VzAx0VCG-B82VjZOttQ3tBddqQeUDrciF_JgyVnUHaMiwq2AqovreBm5UVUOWkkKFIm1fqyW4vjAiHHbZ8x_oSO0M8QO4FVZhqXCQ0hjQvRBQW220iSmbtzjT6B9tS/s1578/Abaixo%20da%20bandeira_small.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1578" data-original-width="1074" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi11mJLY4YGjI68WVjV870_gEN1zAHdJq7LRYz6VVKPEnmOYW-OsF5O93VzAx0VCG-B82VjZOttQ3tBddqQeUDrciF_JgyVnUHaMiwq2AqovreBm5UVUOWkkKFIm1fqyW4vjAiHHbZ8x_oSO0M8QO4FVZhqXCQ0hjQvRBQW220iSmbtzjT6B9tS/s320/Abaixo%20da%20bandeira_small.png" width="218" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Sobre os autores</i>: <b>Fábio Mariano</b> é autor de <i>O Gelo dos Destróieres</i> (Patuá, 2018, contos), <i><a href="https://www.mundodek.com/2020/02/fabio-mariano-habsburgo.html" target="_blank">Habsburgo</a></i> (Patuá, 2019, novela) e <i><a href="https://www.mundodek.com/2021/08/fabio-mariano-ruido-branco.html" target="_blank">Ruído Branco</a></i> (Ofícios Terrestres e Patuá, contos, 2020), e tradutor de <i>O Café Literário</i> (Paul Boldt, Ofícios Terrestres, 2021, poemas) e de <i>Meu Coração em Fevereiro - 21 Poemas de Paul Boldt</i> (Paul Boldt, editora Partizan, poemas).</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b>Gabriel Morais Medeiros</b> é editor na Ofícios Terrestres Edições. É autor de <i>Os céus se gastariam</i> (poemas, 2023: prêmio do edital do Fundo de Investimentos Culturais de Campinas, SP/2022) e de <i>Abaixo da bandeira</i> (contos, 2023), entre outros livros. Faz doutorado em Teoria e História Literária na Unicamp e trabalha há 16 anos como professor de literatura, entre outros ofícios.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><b>Whisner Fraga</b> é um escritor mineiro, autor de doze livros. Tem contos publicados em diversas antologias e periódicos do país. Participou da antologia <i>Os cem menores contos brasileiros do século</i>, organizada por Marcelino Freire, e figurou entre os 23 escritores brasileiros na antologia <i>Geração zero zero</i>, de Nelson de Oliveira, que mapeou os principais autores brasileiros lançados no início do século. Tem contos traduzidos para o inglês, alemão e árabe. Escreve crônicas para o site Crônica do dia e mantém o canal <i>Acontece nos Livros</i>, no YouTube, em que resenha livros de escritores contemporâneos. Pela Ofício Terrestres já lançou <i><a href="https://www.mundodek.com/2022/09/whisner-fraga-usufruto-de-demonios.html" target="_blank">usufruto de demônios</a></i>, em 2023.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://www.oficiosterrestres.com.br/abaixo-da-bandeira-contos-de-fabio-mariano-gabriel-morais-medeiros-e-whisner-fraga/p" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>Abaixo da bandeira</i></a></span></p><div class="blogger-post-footer"><a href="http://feeds2.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml"><img src="http://www.feedburner.com/fb/images/pub/feed-icon32x32.png" alt="" style="border:0"/></a><a href="http://feeds.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml">Subscribe in a reader</a></div>Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38645424.post-44676586034632290032023-11-19T19:56:00.003-03:002023-11-20T10:15:37.105-03:00Perci Guzzo - Na nervura da folha<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkwtxwSjkABBnrVIsHc0RDt-upMGqWyBufQfzv_ls25IisOmIq_w236J_kwszS9U1m5uzRHYOXjuDhtTxas2ijlq06iw4rWVx3vq-fli82PkwSjc-o_29w3NHO_Q-lK_V-2J2Z8c-T6owH4bep7Shtq2tTwAnAZCAHZawKDemrfGRKBw8ZpBxK/s800/Perci%20Guzzo%20-%20Na%20nervura%20da%20folha_A.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Poesia brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="800" data-original-width="800" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkwtxwSjkABBnrVIsHc0RDt-upMGqWyBufQfzv_ls25IisOmIq_w236J_kwszS9U1m5uzRHYOXjuDhtTxas2ijlq06iw4rWVx3vq-fli82PkwSjc-o_29w3NHO_Q-lK_V-2J2Z8c-T6owH4bep7Shtq2tTwAnAZCAHZawKDemrfGRKBw8ZpBxK/w640-h640/Perci%20Guzzo%20-%20Na%20nervura%20da%20folha_A.jpg" title="Perci Guzzo - Na nervura da folha" width="640" /></a></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Perci Guzzo - Na nervura da folha - poesia, 2017-2022 - Corixo Edições - 104 Páginas - Coordenação editorial: Volnei Andrade - Lançamento: 2023.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O mais recente lançamento de Perci Guzo é uma antologia de poemas relacionados à necessidade de preservação da natureza, principalmente nas grandes metrópoles onde o homem precisa se contentar com as poucas praças que restam: <i>"Ainda nos restam as praças / Esses oásis em áridas urbers"</i> (Início do ocaso - p. 26). Em alguns poemas, os versos assumem um caráter de urgência e resistência política: <i>"</i>Quero me opor<i> / Bater de frente / </i>Tête-a-tête<i> / Interferir / Perpassar / Rasgar o verbo / Em campos de soja / Sobre uma lata de 60 litros / de agrotóxico, / E discursar a favor de todas as abelhas ausentes"</i> (p. 61).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; text-align: center;">Uma obra que nos alerta para o perigo de uma vida automática e sobre o que realmente deveria ter sentido: </span><i style="font-family: arial; text-align: center;">"Então choveu muito / Ventou forte / Despencou granizo / E árvores caíram. / Luzes permaneceram apagadas / Redes virtuais obstruídas, / Mas Santa Bárbara salvou a todes. / Interrompida a vida automática / O povo do lugar permaneceu quieto / Por uma longa e escura noite / Graças à fúria daquelas nuvens / Deu-se a chance aos inquilinos inquietos / De perceberem por esse acaso / O que realmente tem sentido: Estar smplesmente vivo."</i><span style="font-family: arial; text-align: center;"> (Interrompida a vida automática - p. 78)</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O livro, dedicado aos povos indígenas do Brasil, é enriquecido com ilustrações preparadas na técnica de aquarela e nanquim pelos artistas: </span><span style="font-family: arial; text-align: center;">Cordeiro de sá, Daniel Caballero, Ísisson de Oliveira e Ubirajara Júnior, assim como fotos de Nice Marinho, compondo um lindo projeto gráfico, coordenado pelo próprio Percio Guzzo e Volnei Andrade. </span></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Início do ocaso</span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Ainda restam as praças<br /></span><span style="font-family: arial;">Com certo abandono que me atrai<br /></span><span style="font-family: arial;">Com seu silêncio de borboletas<br /></span><span style="font-family: arial;">Com seu piso de musgos<br /></span><span style="font-family: arial;">E velhas árvores<br /></span><span style="font-family: arial;">Que não perdem a majestade</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Ainda restam as praças<br /></span><span style="font-family: arial;">Que ocupam todo o quarteirão<br /></span><span style="font-family: arial;">Que sempre ocuparam meu coração<br /></span><span style="font-family: arial;">Que ignoram a insensatez circunvizinha<br /></span><span style="font-family: arial;">E jovens árvores<br /></span><span style="font-family: arial;">Com o desejo de vicejar</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Ainda nos restam as praças<br /></span><span style="font-family: arial;">Esses oásis em áridas urbes<br /></span><span style="font-family: arial;">Biótopos urbanos<br /></span><span style="font-family: arial;">Esses avisos de um passado<br /></span><span style="font-family: arial;">De bancos envelhecidos<br /></span><span style="font-family: arial;">Onde escrevem poetas de meia-idade</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Ainda lhes restam as praças<br /></span><span style="font-family: arial;">A despeito do descaso<br /></span><span style="font-family: arial;">A despeito do ocaso<br /></span><span style="font-family: arial;">Para sonharem futuro digno<br /></span><span style="font-family: arial;">Tomarem torrentes de chuva<br /></span><span style="font-family: arial;">Nos janeiros da juventude</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Ainda me restam as praças<br /></span><span style="font-family: arial;">E uma certa brisa no rosto.</span></span></h3><h3 style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Os estados de poesia</span></h3><h3 style="text-align: left;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Esse desencontro interno<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">É propício para a poesia<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Não saber o que querer<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">É estado de poema</span></span></h3><h3 style="text-align: left;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Reter o olhar e a atenção<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;"><i>Na nervura da folha<br /></i></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">No silêncio da goiabeira<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Mesmo ausentes as goiabas<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">É ocasião poética</span></span></h3><h3 style="text-align: left;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Piso frio de ladrilho antigo<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">E o corpo todo querendo deitar<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Descalçar os versos<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">É situação para poema</span></span></h3><h3 style="text-align: left;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Contemplar casas sem mobília<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">As janelas de madeira<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Telhas baianas empilhadas<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">É projeto pré-poético</span></span></h3><h3 style="text-align: left;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Se lá fora venta e chove <br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Já é tempo para a poesia<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Cômodo nos aconchega<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">A escrivaninha parece nos chamar</span></span></h3><h3 style="text-align: left;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">A ausência e o vazio<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">A estrada empoeirada<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">O tropel dos elefantes<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">E as linhas de tuas mãos</span></span></h3><h3 style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">Viver pode ser que seja partir</span></h3><h3 style="text-align: left;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Ignoro o sabor amargo do exílio<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Desconheço a dor da obrigação de partir<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">O desconforto da nova realidade social<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">E a dificuldade do idioma postiço</span></span></h3><h3 style="text-align: left;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Nas ruas onde cresci<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Sempre brinquei ingenuamente<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Nos quintais extensos e estrelados<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Fui prefeito, fazendeiro e pescador<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Colecionei pedras, peixes e sementes</span></span></h3><h3 style="text-align: left;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Esse Brasil que ora enxergo<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Se distancia daquela busca <br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Movida a desejo de menino:<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Um país Darcy; uma nação Florestan</span></span></h3><h3 style="text-align: left;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Brasil sórdido que caminha torto<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Numa ira inconsequente<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Lapso democrático em curso<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Sentido perverso, rumo avesso</span></span></h3><h3 style="text-align: left;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Aparecida, Senhora: nós somos tua<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Eis-me afoito, minha santa!<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Romeiro astuto para sua obra<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Confortai-me na angústia destes tempos</span></span></h3><h3 style="text-align: left;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Em Pasárgada não conheço ninguém<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Não sei armênio, aramaico ou bretão<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Vivi tudo e tanto aqui<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Saberei dormir em outro país?</span></span></h3><h3 style="text-align: left;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Deve ser cansativo emigrar<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Conter tamanha ansiedade<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Que braços me acolherão?</span></span></h3><h3 style="text-align: left;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Conheci na escola outras geografias<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Sempre visitei mapas ao longo da vida<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Talvez estudar Mongólia e Namíbia<br /></span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Não tenha sido em vão.</span></span></h3><div><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></span></div><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; font-style: italic; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3dcLmjA9SHd2xJhJggIFSv2lS361h2q8g7rJfZWGdcbj0R2LF27uXMB9q_IhoXI8WwyjnlzzI3nsvgaYq_r-cef_ihZml_1MbfgGcctLkFh8nGqbZscrFbptESnZ1wtg0NOlU1WssibMkYehf_-3g-KydLzX61ZykRshyphenhyphenObn2z6Hcx8SB1U0Q/s645/Perci%20Guzzo%20-%20Na%20nervura%20da%20folha.jpeg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Poesia brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="645" data-original-width="430" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3dcLmjA9SHd2xJhJggIFSv2lS361h2q8g7rJfZWGdcbj0R2LF27uXMB9q_IhoXI8WwyjnlzzI3nsvgaYq_r-cef_ihZml_1MbfgGcctLkFh8nGqbZscrFbptESnZ1wtg0NOlU1WssibMkYehf_-3g-KydLzX61ZykRshyphenhyphenObn2z6Hcx8SB1U0Q/w213-h320/Perci%20Guzzo%20-%20Na%20nervura%20da%20folha.jpeg" title="Perci Guzzo - Na nervura da folha" width="213" /></a></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i style="font-style: italic;">Sobre o autor</i><i>: </i>Perci Guzzo é natural de Birigui (SP). Foi em Clementina, cidade do Oeste Paulista, que viveu os anos da infância e adolescência. É graduado em Ecologia e mestre em Geociências, ambas formações cursadas na Unesp - Universidade Estadual Paulista, Campus de Rio Claro. É funcionário público municipal da Prefeitura de Ribeirão Preto (SP) onde integra a equipe técnica da Secretaria de Meio Ambiente. Foi um dos fundadores e compositores do bloco "Os Alegrões" que, no período de 2006 a 2017, animou o carnaval de rua de Ribeirão Preto. Em 2016, lançou seu primeiro livro de poesia, <i>Mais céu</i>. em 2018 foi a vez do livro <i>Prefiro onde o verde prevalece</i>, compilação de crônicas ambientais publicadas na imprensa.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: Vendas pelo telefone (16) 99179.3509, e-mail (pguzzo@terra.com.br) e Instagram/perciguzzo, ou eis.estudio13@gmail.com</span></p><div class="blogger-post-footer"><a href="http://feeds2.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml"><img src="http://www.feedburner.com/fb/images/pub/feed-icon32x32.png" alt="" style="border:0"/></a><a href="http://feeds.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml">Subscribe in a reader</a></div>Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38645424.post-75833571820043819122023-11-18T15:33:00.058-03:002023-11-18T16:54:42.394-03:00Tito Leite - A palavra em seu deserto<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8QGIRQWLrT21S1tjZ3lTAAlItM57WhcE-rfStEKDH0GuvbDZ7doV8DCvfmUWXGffhQyAcg6Pk9pLCygkOqb_6DfUMGt7ry59ziFiOUTjX-XKTYxaRlgB4Xe81zAzRrbJ0ugbIyoAUj76SyZQShYEIlpy36hZE3OoO5mCy5me36qgoNP9uOLN0/s800/Tito%20Leite%20-%20A%20palavra%20em%20seu%20deserto_A.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Poesia brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8QGIRQWLrT21S1tjZ3lTAAlItM57WhcE-rfStEKDH0GuvbDZ7doV8DCvfmUWXGffhQyAcg6Pk9pLCygkOqb_6DfUMGt7ry59ziFiOUTjX-XKTYxaRlgB4Xe81zAzRrbJ0ugbIyoAUj76SyZQShYEIlpy36hZE3OoO5mCy5me36qgoNP9uOLN0/w640-h480/Tito%20Leite%20-%20A%20palavra%20em%20seu%20deserto_A.jpg" title="Tito Leite - A palavra em seu deserto" width="640" /></a></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Tito Leite - A palavra em seu deserto - Editora Cloé - 84 Páginas - Editoração e Capa: Marcelo Torres - Diagramação: Carlos André - Lançamento: 2023</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O sagrado e o profano convivem em harmonia nas três partes que compõem esta antologia de poemas: "<i>A loucura é bilíngue"</i>, "<i>A lua guarda um segredo violáceo"</i> e "<i>O agora é o já e o ainda não"</i>. De fato, Tito Leite, Filósofo e Monge Beneditino, surpreende pelo modo<i> "selvagemente santo de amar"</i> (Devires Confusos - p. 39), neste caso, inadequação parece ser uma palavra-chave para entender o homem por trás desses versos: <i>"Para o poeta, a liberdade / é o solo de uma cigarra / acompanhada por uma gaita. // Acontece que a música cessa, / o dia fenece e a estátua / de um coronel permanece. // O poeta lê Drummond. / Cansado de um mundo / que amanhece em falta, // pergunta ao pai: é crível / fazer brotar / uma flor no mercado? // Feito uma tartaruga / sem casco. O poeta e o pai, / ambos fora do lugar."</i> (Inadequação - p. 58)</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Assim como em seu livro de poemas anterior, <i><a href="https://www.mundodek.com/2019/06/tito-leite-aurora-de-cedro.html" target="_blank">Aurora de Cedro</a> </i>(7Letras, 2019), nos deparamos com o cuidado de Tito Leite na lapidação da palavra exata, associada com a sonoridade e a força da imagem: <i>"[...] Os físicos escrevem / com uma caneta Bic azul: / a luaviolácea cabe / num buraco de minhoca. / Muitas vezes, a melhor / palavra é a boa imagem."</i> (O homem da caneta azul - p. 61). Quem sabe, </span><span style="font-family: arial;">sagrado e profano não sejam posições tão antagônicas, quando percebemos que a religião e a arte não deixam de ser expressões do mesmo espírito humano, monástico ou nômade e, portanto, David Bowie e Lou Reed podem ser citados no silêncio do claustro de um mosteiro. Deixo com vocês alguns exemplos de que: <i>"No poema // nenhuma / luta foi em vão, // há sempre / um contentamento, // uma garota / que amou, // um coração atento, // um repente / de momento // e uma semente / que brotou."</i> (Ofício - p.52)</span></p><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">O OUTRO<br /></span><span style="font-family: arial; font-size: small; font-weight: normal;">(A loucura é bilíngue)</span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Eu canto a ovelha<br /></span><span style="font-family: arial;">e o lobo,<br /></span><span style="font-family: arial;">a serpente que engole<br /></span><span style="font-family: arial;">a própria cauda<br /></span><span style="font-family: arial;">e o fim sábio <br /></span><span style="font-family: arial;">do poeta tolo.</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Eu canto o limo<br /></span><span style="font-family: arial;">e o mar aberto,<br /></span><span style="font-family: arial;">a madrugada<br /></span><span style="font-family: arial;">dos poetas e o tiro seco<br /></span><span style="font-family: arial;">dos filósofos.</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Eu canto o estrondo<br /></span><span style="font-family: arial;">da trombeta,<br /></span><span style="font-family: arial;">o anjo em pele de meteoro<br /></span><span style="font-family: arial;">e o monge que titubeia<br /></span><span style="font-family: arial;">entre o louco e o santo.</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Eu sou o outro<br /></span><span style="font-family: arial;">que me falta<br /></span><span style="font-family: arial;">e são tantas coisas inacabadas<br /></span><span style="font-family: arial;">que me tiram o sono:</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">o viajante sem destino<br /></span><span style="font-family: arial;">que pega um barco<br /></span><span style="font-family: arial;">para Colômbia<br /></span><span style="font-family: arial;">e no trânsito dos planetas<br /></span><span style="font-family: arial;">atravessa<br /></span><span style="font-family: arial;">o sinal vermelho;</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">o místico<br /></span><span style="font-family: arial;">que doma a solidão<br /></span><span style="font-family: arial;">ou faz da serenidade<br /></span><span style="font-family: arial;">uma irmã;</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">um livro empoeirado<br /></span><span style="font-family: arial;">na gaveta<br /></span><span style="font-family: arial;">com Gottlob Frege<br /></span><span style="font-family: arial;">fanado da estrela<br /></span><span style="font-family: arial;">da manhã;</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">uma pequena cidade<br /></span><span style="font-family: arial;">que morei<br /></span><span style="font-family: arial;">e não me despedi;</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">o sonho que perfura<br /></span><span style="font-family: arial;">minha tarde e por ele<br /></span><span style="font-family: arial;">perdi a gravidade.</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Eu sou o outro<br /></span><span style="font-family: arial;">que me falta<br /></span><span style="font-family: arial;">e são tantas coisas inacabadas<br /></span><span style="font-family: arial;">que me completam</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">e ainda perco o juízo,<br /></span><span style="font-family: arial;">com saudade<br /></span><span style="font-family: arial;">de quando éramos<br /></span><span style="font-family: arial;">melhores.</span></span></h3><h3 style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">MEMENTO<br /></span><span style="font-family: arial; font-size: small; font-weight: normal;">(A loucura é bilíngue)</span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Se o tempo<br /></span><span style="font-family: arial;">não deteriorasse</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">eu o chamaria<br /></span><span style="font-family: arial;">eternidade.</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Uma colheita,<br /></span><span style="font-family: arial;">uma foice.</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-weight: normal;">O pássaro nasce e já é voo.</span></h3><div style="text-align: left;"><div style="text-align: left;"><h3 style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">SUBLIME<br /></span><span style="font-family: arial; font-size: small; font-weight: normal;">(A lua guarda um segredo violáceo)</span></h3></div></div><h3 style="text-align: left;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Acredito<br /></span><span style="font-family: arial;">que nos poemas<br /></span><span style="font-family: arial;">de amor</span></span></h3><h3 style="text-align: left;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">um rei bailarino<br /></span><span style="font-family: arial;">foge do senso e reza<br /></span><span style="font-family: arial;">com o corpo.</span></span></h3><h3 style="text-align: left;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">A exixtência<br /></span><span style="font-family: arial;">e o âmago<br /></span><span style="font-family: arial;">são sacramentos.</span></span></h3><h3 style="text-align: left;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Declamo-te<br /></span><span style="font-family: arial;">com címbalos<br /></span><span style="font-family: arial;">e língua de fogo.</span></span></h3><h3 style="text-align: left;"><span style="font-family: arial;">SPINOZA<br /></span><div style="text-align: left;"><span style="font-family: arial; font-size: small; font-weight: normal;">(O agora é o já e o ainda não)</span></div></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Não adianta<br /></span><span style="font-family: arial;">lutar contra</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">o que não<br /></span><span style="font-family: arial;">somos páreos.</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Sabedoria<br /></span><span style="font-family: arial;">é domar</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">os ventos<br /></span><span style="font-family: arial;">contrários.</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">POLITEIA<br /></span><div><span style="font-family: arial; font-size: small; font-weight: normal;">(O agora é o já e o ainda não)</span></div></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Não faço diplomacia<br /></span><span style="font-family: arial;">com os chacais.</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Eles vestem fardas<br /></span><span style="font-family: arial;">para suas vergonhas<br /></span><span style="font-family: arial;">não serem vistas.</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Não se vender<br /></span><span style="font-family: arial;">é o grande milagre.</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">Mas ninguém<br /></span><span style="font-family: arial;">atravessa os anos<br /></span><span style="font-family: arial;">com os pés enxutos.</span></span></h3><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxjPlF_MS1giU6YC74QKij4gaZf-eDRLv9kDLlB_MXm1IH890y5fD7Tdi3TSODkjhRpQExGcoO7LkWhtPyIDOHPx9JD0LqoTnssfjESf01Poc5HswH4L77Pjtu2bjQ5rgHqirD_ARnAarv5_Hcjhvfum8RwFsE8HJTg31CcWnHYFldDx-Itzvn/s1600/Tito%20Leite%20-%20A%20palavra%20em%20seu%20deserto.jpeg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Poesia brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1091" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxjPlF_MS1giU6YC74QKij4gaZf-eDRLv9kDLlB_MXm1IH890y5fD7Tdi3TSODkjhRpQExGcoO7LkWhtPyIDOHPx9JD0LqoTnssfjESf01Poc5HswH4L77Pjtu2bjQ5rgHqirD_ARnAarv5_Hcjhvfum8RwFsE8HJTg31CcWnHYFldDx-Itzvn/w218-h320/Tito%20Leite%20-%20A%20palavra%20em%20seu%20deserto.jpeg" title="Tito Leite - A palavra em seu deserto" width="218" /></a></span></div><span style="font-family: arial;"><div style="text-align: justify;"><i>Sobre o autor:</i> Tito Leite nasceu em Aurora/CE (19080). É poeta e Monge Beneditino. É autor dos livros de poemas <i>Digitais do Caos</i> (Selo edith, 2016) e <i><a href="https://www.mundodek.com/2019/06/tito-leite-aurora-de-cedro.html" target="_blank">Aurora de Cedro</a></i> (7Letras, 2019). <i><a href="https://www.mundodek.com/2022/03/tito-leite-diluvio-das-almas.html" target="_blank">Dilúvio das Almas</a></i> (Todavia, 2022) é o seu primeiro romance, finalista do Prêmio São Pauo de Literatura, categoria Melhor Romance de Estreia do Ano de 2022.</div></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Onde encontrar o livro: <a href="https://www.editoracloe.com/poesia?pgid=knhl7lng-9b060811-d920-4987-98bd-0331aa17fad0" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>A palavra em seu deserto</i> de Tito Leite</a></span></p><div class="blogger-post-footer"><a href="http://feeds2.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml"><img src="http://www.feedburner.com/fb/images/pub/feed-icon32x32.png" alt="" style="border:0"/></a><a href="http://feeds.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml">Subscribe in a reader</a></div>Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38645424.post-37315856573987368532023-11-15T12:14:00.004-03:002023-11-15T13:01:57.943-03:00João Carlos Leite - O invisível em toda plenitude<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfcFrn7QfNwjW3AeWfSgXRbNnAY1ib7M4h3H225dMTpVVIsNvLywhV7VnWP-HtKpk1xEURjEOxyNEls10Ve7jaCQcK9gEcMYuu4KCNwpnuV1iLrYLF_kd9CMslG_-C_EFkZgWGMg2HeRDkuMrPyECzAod3X7NFIBzZ2t94SHVmbzZ2K7hCgAJu/s800/Joa%CC%83o%20Carlos%20Leite%20-%20O%20invisi%CC%81vel%20em%20toda%20plenitude_A2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfcFrn7QfNwjW3AeWfSgXRbNnAY1ib7M4h3H225dMTpVVIsNvLywhV7VnWP-HtKpk1xEURjEOxyNEls10Ve7jaCQcK9gEcMYuu4KCNwpnuV1iLrYLF_kd9CMslG_-C_EFkZgWGMg2HeRDkuMrPyECzAod3X7NFIBzZ2t94SHVmbzZ2K7hCgAJu/w640-h480/Joa%CC%83o%20Carlos%20Leite%20-%20O%20invisi%CC%81vel%20em%20toda%20plenitude_A2.jpg" title="João Carlos Leite - O invisível em toda plenitude" width="640" /></a></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><span style="font-family: arial;">João Carlos Leite - O invisível em toda plenitude - Editora Penalux - 202</span> Páginas</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Capa e diagramação: Talita Almeida - Lançamento: 2023.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span style="text-align: center;">O lançamento de João Carlos Leite, <i>"O invisível em toda plenitude"</i>, </span>tem características de romance de formação, aventuras e crítica social em proporções equilibradas, ligadas por uma narrativa segura que alterna a condução principal em terceira pessoa com alguns trechos na voz de um personagem inusitado, o cachorro Magrelo. Em um momento no qual a literatura contemporânea busca o rompimento com as estruturas tradicionais, o autor resgata alguns ingredientes clássicos que tornaram o gênero de romance um sucesso de entretenimento desde o século XVIII, apesar de ter se tornado ao mesmo tempo um conceito abstrato e supostamente indefinível, devido à variedade de estilos que surgiram ao longo do tempo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Neste romance, o protagonismo é dividido entre os dois irmãos órfãos, Laurindo e Pedro, que abandonam a região rural para tentar a sorte na cidade. Laurindo, já com vinte e cinco anos, sonha se alistar no exército, Pedro tem apenas doze anos e depende unicamente do irmão mais velho para sobreviver após a morte dos pais. A cidade de Três Rios, no interior do Estado do Rio de Janeiro, os recebe com indiferença e alguma crueldade, frustrando os sonhos de Laurindo de seguir a carreira militar e colocando-o em um caminho sem volta de crimes e violência. Pedro, apesar de ainda menino, terá que se virar sozinho para descobrir o próprio destino e, quem sabe, um improvável reencontro com o amigo Magrelo depois de alguns anos.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Antes do ônibus se pôr em movimento, Pedro encostou o rosto no vidro embaçado e avistou Magrelo parado no mesmo local onde ele estivera sentado minutos atrás. Boca aberta, a língua pendurada num canto, o cão certamente havia corrido do sítio até ali em busca do socorro. No intuito de resgatá-lo, tentou se levantar, mas o irmão o impediu colocando-o de volta ao assento. Ainda não o havia perdoado pelo recente sumiço. 'Você está vendo coisa que não existe', esbravejou. 'Não tem nada na calçada, nem cachorro, nem gente.' / De fato, ao observar outra vez, o local estava completamente vazio, até mesmo os pombos, que até pouco tempo bicavam as migalhas perdidas no chão, haviam desaparecido. O motorista assumiu o volante, levou aos lábios uma medalha dourada que trazia pendurada no pescoço, fechou a porta puxando uma alavanca e finalmente começaram a se mover. Não haviam deixado a vila, quando Pedro acreditou ouvir alguns latidos vindo da estrada, abriu a vidraça e colocou a cabeça ao vento, mas antes que pusesse enxergar alguma coisa, o mundo se desintegrou numa nuvem branca."</i> (pp. 25-6)</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Ao longo da narrativa, os dois irmãos enfrentarão uma série de percalços ao confrontarem os preconceitos e a hipocrisia da sociedade local em suas estruturas estabelecidas de poder. A trama avança com velocidade, impulsionada por uma rica descrição visual e diálogos precisos, elementos que fazem com que seja difícil interromper a leitura e confirmam o que os leitores já sabem: a permanência da instituição do romance tradicional, mesmo sendo algo tão difícil de definir, ou, simplesmente, a importância de saber contar uma boa história, hoje e sempre.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><blockquote style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>"Havia outros prisioneiros dentro da cela para onde Laurindo foi empurrado. Alguns ergueram os olhos desconfiados, porém já acostumados ao constante movimento noturno não despenderam interesse. Entrou silencioso, sentou-se no chão sem olhar ao redor e se recostou na parede. Vestia um terno alugado, a gravata se perdera em algum momento durante a briga, a costura no ombro direito cedeu expondo a manga da camisa branca, também alugada. Apesar dos estragos, a roupa lhe dava um aspecto um pouco mais frágil do que era na verdade. Para um criminoso desavisado, aparentava ser uma presa fácil, alguém alcoolizado e pronto para ser abatido. Logo, alguns dos presos cochicharam entre eles e se organizaram como uma alcateia ao avistar um búfalo ferido e desgarrado da manada. / 'Que estúpido!' Esfregava os pulsos esfolados pelas algemas enquanto relembrava cada lance do jogo que acabara de perder. 'Aquele desgraçado tinha em mãos o Rei e a Dama de ouro. Fui enganado o tempo todo.' Via claramente a sequência das cartas no chão sujo da prisão: Ás, Rei, Dama, Valete e Dez, todos so mesmo naipe. 'Royal Flush desde o flop. Que idiota... E o Alfredo? O que fizeram com aquele pobre coitado?', desabafava de vez em quando sem perceber que falava sozinho."</i> (pp. 66-7)</span></blockquote><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; font-style: italic; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhRVBQi74UJjf8L6fNrKu8TQPOstirrUmfBTM14ZlruyTzAHjgYWx73-WJwRsaXKX3jaIzaBjCuXHj7FyvKRPcFrEVirtLRZ-BDYnw2IwbsSN7sjbaRF_i2OEWrfBIX8HP-dLKG-c52IlMdKJFD5qmgH-PEAFMBFM-6LLVp_U5YX5vEgArfLs3/s777/Joa%CC%83o%20Carlos%20Leite%20-%20O%20invisi%CC%81vel%20em%20toda%20plenitude.jpeg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Literatura brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="777" data-original-width="541" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhRVBQi74UJjf8L6fNrKu8TQPOstirrUmfBTM14ZlruyTzAHjgYWx73-WJwRsaXKX3jaIzaBjCuXHj7FyvKRPcFrEVirtLRZ-BDYnw2IwbsSN7sjbaRF_i2OEWrfBIX8HP-dLKG-c52IlMdKJFD5qmgH-PEAFMBFM-6LLVp_U5YX5vEgArfLs3/w223-h320/Joa%CC%83o%20Carlos%20Leite%20-%20O%20invisi%CC%81vel%20em%20toda%20plenitude.jpeg" title="João Carlos Leite - O invisível em toda plenitude" width="223" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i style="font-style: italic;">Sobre o autor</i><i>: </i>João Carlos Leite nasceu na cidade de Ribeirão Preto, interior do estado de São Paulo, em 1966. Autor dos livros <i>O Perfume Amargo das Amêndoas</i> (Novela - Editora Penalux, 2017), <i>Memórias Inventadas</i> (Contos - Editora Penalux, 2018) e <i>A Indecifrável Harmonia do Caos</i> (Romance - Editora Penalux, 2020).</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Onde encontrar o livro: <a href="https://amzn.to/476JNzt" target="_blank">Clique aqui para comprar </a></span><a href="https://amzn.to/476JNzt" target="_blank"><span style="font-family: arial;"><i>O invisível em toda plenitude</i> de </span><span style="font-family: arial;">João Carlos Leite</span></a></p><div class="blogger-post-footer"><a href="http://feeds2.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml"><img src="http://www.feedburner.com/fb/images/pub/feed-icon32x32.png" alt="" style="border:0"/></a><a href="http://feeds.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml">Subscribe in a reader</a></div>Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-38645424.post-74333633386583937952023-11-11T16:44:00.009-03:002023-11-11T17:43:14.664-03:00Alexei Bueno - A noite assediada<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-nMs3SmRK_3HLqRKoRD9RebVnbBseDgwIvIfz1SRzL4fy4Zo7qsBolAlm0cgMASGMKWXbwtncDhmIWTepsnY0j0MYrZB50HmdrJOiY1Ql95r6eLDwj5MmhSuJELWYUc03t2nqJUOv2_nM1wzudkGp_jv4Kqy9cJXT4yzY4PL4BJf9HoG5C2Wl/s800/Alexei%20Bueno%20-%20A%20noite%20assediada_A.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Poesia brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="600" data-original-width="800" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-nMs3SmRK_3HLqRKoRD9RebVnbBseDgwIvIfz1SRzL4fy4Zo7qsBolAlm0cgMASGMKWXbwtncDhmIWTepsnY0j0MYrZB50HmdrJOiY1Ql95r6eLDwj5MmhSuJELWYUc03t2nqJUOv2_nM1wzudkGp_jv4Kqy9cJXT4yzY4PL4BJf9HoG5C2Wl/w640-h480/Alexei%20Bueno%20-%20A%20noite%20assediada_A.jpg" title="Alexei Bueno - A noite assediada" width="640" /></a></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">Alexei Bueno - A noite assediada - Editora Patuá - 116 Páginas - Editor: Eduardo Lacerda</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">C</span><span style="font-family: arial;">apa e projeto gráfico: Victória Cortez - Lançamento: 2022.</span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Um livro difícil de definir: poemas em prosa ou contos poéticos? Na verdade, isso não importa. Deixar-se levar pelas imagens e reflexões de Alexei Bueno sobre a beleza e o horror do cotidiano, a passagem do tempo, enfim a própria vida, isto sim é importante. </span><span style="font-family: arial;">Por exemplo, OS VELHOS, reproduzido integralmente abaixo, é um verdadeiro soco no estômago, uma composição que somente um artista maduro poderia ter escrito, verdadeiramente lindo e doloroso ao mesmo tempo. Não me canso de ler e reler essa composição que parece resumir a tragédia de se encontrar em uma idade na qual <i>"tudo ficou atrás, e tudo está atrás. Atrás estão, mais do que tudo, os corpos amados, os adorados corpos, poças únicas do esquecimento. [...]"</i></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">A obra reúne textos escritos em duas épocas distantes, em 1982, aos 19 anos de Alexei Bueno, e depois em 2021 e também 2022, um hiato de quarenta anos portanto, no qual muita coisa mudou, contudo não há prejuízo na consistência da produção literária entre esses períodos. Colocados lado a lado, os poemas formam uma estrutura única e coesa ao refletir sobre a condição humana e a necessidade de continuar existindo, apesar de tudo: <i>"A noite está assediada, e cairá. Como Jericó, como Troia, como Tiro, como Cartago, a noite cairá. Fora, dando à luz um tremor que apavora a terra, as rodas da quadriga da Dor avançam, invulneráveis, e o seu carro – para os que nunca o perceberam – é o mesmo carro do Sol Invicto."</i></span></p><h3 style="text-align: justify;"><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">OS VELHOS</span></div><span style="font-size: small;"><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial; font-weight: normal;">(17-11-2021)</span></div></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-family: arial;">"Os velhos, ruínas de crianças, exploradores diários da Lei da Gravidade, ah, seus passos ridículos, a sola de um pé de sapato que não ultrapassa a marca abstrata do bico do outro pé. Remelas nos olhos, e também uma ameaça de lágrimas, a mesma umidade das comissuras das bocas sem dentes, que a gargalhada desertou.<br /></span><span style="font-family: arial;"> Diplomas ambulantes do embuste, monumentos recurvados e lentos da traição. Cada nascer do sol é para eles uma ofensa, cada relâmpago que cospe a tempestade uma seta certeira do escárnio. Mas como andam. Como os ponteiros, como os pavorosos redemoinhos marítimos, traçam linhas concêntricas a seus jazigos, cada vez mais curtas.<br /></span><span style="font-family: arial;"> Esquecem-se? Que glória seria esquecer. A memória crece dentro deles, como um tumor, um feto monstruoso, com três cabeças, com quatro braços talvez, como o Senhor da Dança. Roubaram-lhes o esquecimento. O farol do vivido cintila, pisca, cada vez mais perto, o farol virado de cabeça para baixo, que não indica o recife ou o cabo a evitar, mas a angra de outrora obrigatoriamente evitada para sempre.<br /></span><span style="font-family: arial;"> Eles não andam para trás, ou tropeçariam, o grande desastre, eles só andam para a frente, transparentes, e tudo ficou atrás, e tudo está atrás. Atrás estão, mais do que tudo, os corpos amados, os adorados corpos, poças únicas do esquecimento, esquecimento, esquecimento... Ah, esquecer de tudo, mas aos pobres velhos ridículos não é permitido esquecer mais nada."</span></span></h3><h3 style="text-align: justify;"><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;">OS ELEITOS</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: arial; font-size: small; font-weight: normal;">(1982)</span></div></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-weight: normal;">"A derradeira visão da porta do hospício. Alguns homens passam espalhando frases que não podem ser ouvidas. Os estabelecimentos estão fechados, ou em vias de fechar. As rodas dos automóveis gemem como rios sem destino em direção às bancas. Os cortinados se acendem e o pó cai dos lustres das mansões alheias. Sabe-se que os parasitas têm vida. Lá, sobre a luz estranha do último pavilhão, voam pássaros, voam legiões e círculos de pássaros como tentando ler alguma coisa. Os olhos humanos, presos nas vozes e nos vidros, não percebem. Apenas aqueles que já conheceis estão olhando, estão profundamente olhando, e as suas mãos seguram uma pedra. Rola uma música de cima, mas esta música não vem de lugar nenhum. O portão espera. As aves, apenas as aves, margeiam a verdade."</span></h3><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i></i></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVb_x6LcSg6EBqXmvHz-v7y1SvTHrxnjl66HrLAOumla_CqreAcmrYlKz5ig-LshRDQdd2NXHm4kjuUegvMstmpCMa30gLHvqj-ZtMViFA57vC2rzAMtfiXEKA4y5hM4u6gKOL2zMEU6nkpCtyb_rssJX2aMwUptHuxpE_PXGjd6evsv-0_4zx/s827/Alexei%20Bueno%20-%20A%20noite%20assediada_3D.jpeg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Poesia brasileira contemporânea" border="0" data-original-height="827" data-original-width="616" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVb_x6LcSg6EBqXmvHz-v7y1SvTHrxnjl66HrLAOumla_CqreAcmrYlKz5ig-LshRDQdd2NXHm4kjuUegvMstmpCMa30gLHvqj-ZtMViFA57vC2rzAMtfiXEKA4y5hM4u6gKOL2zMEU6nkpCtyb_rssJX2aMwUptHuxpE_PXGjd6evsv-0_4zx/w238-h320/Alexei%20Bueno%20-%20A%20noite%20assediada_3D.jpeg" title="Alexei Bueno - A noite assediada" width="238" /></a></i></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i><i>Sobre o autor: Alexei Bueno nasceu no Rio de Janeiro em 26 de abril de 1963. Publicou, entre outros livros, As escadas da torre (1984), Poemas gregos (1985), Livro de haicais (1989), A decomposição de J. S. Bach (1989), Lucernário (1993), A via estreita (1995 - Prêmio da Biblioteca Nacional, e Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte), A juventude dos deuses (1996), Entusiasmo (1997), Poemas reunidos (1998 - Prêmio Fernando Pessoa, da UBE), Em sonho (1999), Os resistentes (2001, com edição francesa em 2020), Gamboa (2002), O patrimônio construído (2002 – Prêmio Jabuti), Glauber Rocha, mais fortes são os poderes do povo! (2003), Poesia reunida (2003 - Prêmio Jabuti, Prêmio da Academia Brasileira de Letras), O Brasil do século XIX na Coleção Fadel (2004), Antologia pornográfica (2004), A árvore seca (2006), também com edição portuguesa, O Nordeste e a epopeia nacional (2006 – Aula Magna proferida na UFRN), Uma história da poesia brasileira (2007), As desaparições e Sergio Telles, caminhos da cor (2009), João Tarcísio Bueno, o herói de Abetaia (2010), Lixo extraordinário, com Vik Muniz (2010) e O universo de Francisco Brennand (2011), Machado, Euclides & outros monstros (2012), Cinco séculos de poesia: poemas traduzidos (2013), São Luís, 400 anos, Patrimônio da Humanidade (2013), Poesia completa (2013), Palácios da Borracha, arquitetura da Belle Époque amazônica (2014), Os monumentos do Rio de Janeiro, inventário 2015 (2015), Alcoofilia, 5.000 anos de declarações de amor à bebida (2015), Rio Belle Époque, álbum de imagens (2015), Anamnese (2016), Desaparições, antologia poética organizada por Arnaldo Saraiva, Porto, Portugal (2017), John Clare: poemas (2017) O poste, drama em três atos (2018), Cerração (2019) e Decálogo indigno para os mortos de 2020 (2020), O sono dos humildes (2021), A escravidão na poesia brasileira, do século XVII ao XXI (2022) e o catálogo Rio de Janeiro en couleurs et en relief (2022), com Laurent Vidal.</i></i></span></div><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><i>Onde encontrar o livro</i>: <a href="https://www.editorapatua.com.br/a-noite-assediada-de-alexei-bueno/p" target="_blank">Clique aqui para comprar <i>"A noite assediada"</i> de Alexei Bueno</a></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></p><div class="blogger-post-footer"><a href="http://feeds2.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml"><img src="http://www.feedburner.com/fb/images/pub/feed-icon32x32.png" alt="" style="border:0"/></a><a href="http://feeds.feedburner.com/MundoDeK" title="Subscribe to my feed" rel="alternate" type="application/rss+xml">Subscribe in a reader</a></div>Alexandre Kovacshttp://www.blogger.com/profile/12573593354839136247noreply@blogger.com0